A FIGURINISTA FIEL

10
2min de leitura

No banco de trás de um carro, indo em direção ao meu apartamento. Dirigia o carro uma jovem figurinista que estava começando a se destacar no meio e do lado dela ia sua assistente.

Eu estava completamente apática, desanimada e perdida em devaneios. Olhei para fora do carro e havia um grupo de moças usando um figurino exótico e muito bonito, pareciam ninfas, com vestidos esvoaçantes e longas perucas de ramos verdes. Falei: – Olha que bonito!

A figurinista me encara de um jeito espantado mas achando graça. A Assistente dela fala: –Ué, você não sabe que esse é o mais recente trabalho dela?

Fico meio sem graça com meu fora. Começo a pensar em como admirava a figurinista. Ela era uma mulher do tipo "artista", que são mais exóticas do que bonitas no sentido convencional, mas que são muito atraentes por pura força da sua personalidade. Se vestia de um jeito muito criativo e maluco, mas de bom gosto, fazendo questão de não disfarçar o que ela era por dentro. E tinha levado sua carreira de um jeito muito legal, por que tinha se mantido muito firme em seus propósitos artísticos e em si mesma, não tinha mudado sua rota para "dar mais certo na vida" e agora estava se consolidando.

Fico chateada por sentir que não tinha conseguido fazer a mesma coisa. Tinha começado que nem ela, sendo figurinista, mas mudado para lá e para cá, tentando acertar, e agora não era mais ou menos nada. Me sentia cansada e perdida. Pensei exatamente isso: eu não consegui ser nada.

Chegamos ao nosso destino, um lugar onde haveriam desfiles e peças teatrais e começamos a tirar figurinos do carro. A figurinista fica na frente da entrada do lugar, dando uns pontos em uma blusa preta de um tecido legal que estava num desses manequins antigos de costureira e eu fico olhando e pensando se havia chance de pedir emprego para ela. Poderia fazer uma vista ao ateliê dela e ver se ela não me convidava para um estágio. Eu sabia que tinha talento para desenhar roupas e poderia ser útil. Ainda não tinha achado meu lugar na vida, e poderia ser aquele.

Mas desisto do plano, que me parece interesseiro e acho que não seria bem recebida por ela, com quem eu não tinha muito contato.

Mas para minha surpresa, na hora de se despedir ela me abraça longamente e é muito amigável comigo. Convida para aparecer no ateliê dela, para falar de trabalho. Demonstra gostar muito de mim. Sinto que se quisesse trabalhar com ela, as portas estavam abertas.

{26 de julho de 2003}

IMAGE CREDITS GIANBATTISTA VALLI | JOYCE ATELIER

A FIGURINISTA FIEL

Comentar
Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Twitter
Copiar URL

Tags

atelier costureira figurinista verde vestido

Quem viu também curtiu

O COLÉGIO NO CAMINHO

QUE MULHER QUE NÃO É PERTURBADA?

QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL