O CÉU NO MEU ECO

De noite chegam os sonhos

como malas de um desembarque.

São a bagagem do dia. 

Daqui a pouco vou embora
e eu nem estive aqui.
Passa o Rio da Vida
no canto da vista.
Mas meus olhos seguem o Rio do Tempo
e ele está sempre indo embora. 

O Abismo se abrirá

entre o Nada eu passarei

meus passos ecoando cheios

no coração do ar.

Esse é o Caminho

– Venha, ele disse.

Um último suspiro,

um murmúrio

e está feito

AZUL INCANDESCENTE

Eu sou um leito de rio
um canal
sobre o qual
Ele se derrama
como espuma
Ele me dissolve
quando me chama
viro mar vivo
um oceano
de nirvana
onde ele afunda
sem fim
até se alcançar
em mim.
achei que eu seria como nas revistas
uma mulher carnívora sempre de vermelho sempre de espelho
na mão
mas não
sou um canal
um portal
azul incandescente
ele me atravessa
e não há regresso
de mim.

Fui retida à força nesse Colégio
Acredite.
Minha intenção era outra.
Aqui as lições são implacáveis
e obscuras: ensinamentos são ministrados à noite
principalmente
a sonolência e a distração tornam difícil assimilar qualquer coisa
somente de dia sou capaz de vislumbrar algum significado.
E esse fio
de Luz
se rompe se reata
se revela se reduz
me mantém entretida.
O quê virá em seguida?
Os portões estão abettos
mas eu me deixo ficar
absorta ou esvaída
não procuro ou não encontro
a saída.
E talvez nunca mais seja vista

em Vida

CHARLOTE MARQUES