O MOTIVO DA CONTRATAÇÃO

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Mais um sonho que é fascinante pela riqueza e complexidade da construção de um enredo que aparentemente não incorpora nada, absolutamente nenhum dos elementos fortes atuais da vida acordada.

Mas acho ótimo. Bom sinal.

Eu havia sido contratada por uma figura masculina que apesar de permanecer vaga fisicamente seria um homem jovem, moreno, interessante e atraente, de energia forte, com o qual vou desenvolvendo um relacionamento profissional que parece prestes a virar outra coisa a qualquer momento.

Meu trabalho, e o sonho todo tem uma lógica bem realista até, seria escrever o roteiro de um longa-metragem com a seguinte premissa: quatro caras que faziam parte de um mesmo determinado programa de sucesso na TV haviam contratado uma roteirista para escrever o roteiro de um programa para eles. Então o roteiro para o qual eu havia sido contratada para escrever era justamente sobre uma moça que havia sido contratada para escrever um roteiro.

Aqui tem o detalhe sutil de que seria como se me tivessem passado os personagens principais e eu houvesse criado essa story line. Como no Cocoricó, no qual tinha que criar histórias a partir de um universo todo já concebido.

Eu até já havia escrito todo o roteiro e até já havia apresentado ao meu cliente, o tal homem de energia forte, que até já havia lido e aprovado.

Tendo todas essas etapas profissionais sido concluídas com sucesso, o restante de tempo livre havia sido passado justamente nessa espécie de pré-namorico.

E então, e aqui inicia o ponto do sonho mesmo, meio que do nada o cliente, o homem de energia forte, começa a questionar algumas coisas do roteiro.

Fica estranho pois ele havia lido e gostado e isso fica como uma espécie de “voltar atrás no que disse” da parte dele.

A principal questão levantada por ele seria o motivo, ou melhor, a falta de motivo para esses quatro caras, que tinham um programa bem sucedido do qual eram meio que os criadores, não seria como se fossem quatro atores contratados, os quatro seriam criadores e produtores do programa, tanto que parte deles a contratação dessa roteirista, que motivo teriam eles para contratarem alguém de fora para escrever um roteiro que, até então tudo indica, vinha sendo escrito por eles mesmos.

Fico desanimada com esse revertério num trabalho que considerava concluído e aprovado, tinha desligado essa chave na minha cabeça e tenho que me esforçar para ligar novamente.

Mas buscando atender o que era sim meu cliente, raciocino sobre o que ele diz.

Não me parece que houvesse essa necessidade toda de justificar a contratação da roteirista, a situação poderia ser o ponto de partida ali da história, sem que fosse explicada. Mas ele é o cliente.

Até mesmo por temer que essa questão acabasse por acarretar a refação completa do roteiro, tento achar um motivo que pudesse ser inserido ali em duas frases e digo:

– Bom, e se o tal programa dos quatro caras fosse um programa de entrevistas? Se eles fossem repórteres? Então a habilidade deles seria levantar a história e seria plausível que precisassem de um roteirista profissional para formatar as informações em forma de programa.

Não chega a ser uma idéia ruim, mas meu cliente não parece achar que resolva.

Sua expressão não se altera. Percebo que não é como se fosse apenas um detalhe para ficar ok, e sim algo geral com o roteiro todo. Não conheço ele e não sei entender isso de voltar atrás em algo que já havia sido aprovado. Poderia até ser seu modus-operandis padrão. Primeiro aprovava para deixar o profissional tranquilo e relax, e só então vinha com a lista de “refações”, como se fosse “um pequeno detalhe”, apenas um pequenino e único detalhe a ser corrigido, um procedimento que sem dúvida deixava o profissional com mais boa vontade do que se ele de cara dissesse que não estava bom. Pois ele continuava mencionando mais e mais “pequenos detalhes” que gostaria que fossem alterados. A coisa ali parece que vai longe

Achava que tinha um roteiro aprovado e um namorado. Agora percebo que tenho só um cliente.

{15 de abril de 2024}


O MOTIVO DA CONTRATAÇÃO

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