OS PAPÉIS HIGIÊNICOS SUJOS DE SANGUE

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8min de leitura

Tenho que fazer justiça e dizer que esse sonho foi super cinematográfico e atraente.

Mesmo assim foi o detalhe dos papéis que me levou a escrever, estava meio desencanando.

Que também, devo dizer, podem sim não significar nada, mas é a segunda vez em muito pouco tempo que sonho com esse elemento do sangue menstrual.

A história do sonho parece que vai sendo criada para explicar e justificar coisas que faço.

Por exemplo, estou falando com as pessoas em inglês, não sei porquê. Então logo é criada a história de que sou uma escrava de um tempo bem antigo, quase Roma antiga, extrangeira e porisso não falo a língua ali do lugar, que mesmo tendo mais ar de Egito e Roma do que qualquer coisa, justamente por causa desse “contexto cinematográfico”se fala inglês, lógico.

A coisa começa logo de cara no banheiro onde escovo os dentes (sempre isso, meu deus) e em seguida não sei porquê cargas dágua considero meu dever dar uma limpa no banheiro, que foi usado às pressas pelas outras meninas.

Até então não estava configurado que eu fosse escrava. nada disso. Vou usar o banheiro depois de várias meninas usarem, tem isso de fila.

O banheiro não está nojento, mas cheio de papel em lugares que não devia.

Na verdade até tinha tudo para ser nojento, mas no sonho não é isso que importa.

O que importa é isso de eu achar que “devo”por ordem ali.

Tenho total clareza de que isso é meio que algo que invento ou adoto para mim mesma, como se fosse algo muito nobre.

Eu me sinto nobre fazendo aquilo, não de uma forma autêntica, mas como se estivesse criando uma personagem mesmo. No que estou fazendo isso uma mulher que seria minha superior bate a porta e quer saber o porquê da minha demora. Abro a porta e explico que “não posso deixar o banheiro assim”.

Justamente esse é o ponto interessante. Claro que posso. Eu é que invento para mim mesma essa coisa de que “não devo”, como se fosse algo moralmente superior da minha parte, da parte do meu personagem, pois me sinto muito mais uma personagem do que uma pessoa de verdade.

No sonho, não estou arrogante nem metida a besta. Na verdade diria que estou autêntica e sinceramente interpretando uma farsa para mim mesma.

Apesar do aspecto farsa, o diálogo entre eu e essa mulher toca num ponto verdadeiro, que seria a questão do tempo que as meninas, que assim que essa mulher fala comigo fica configurado que seriam minhas colegas escravas, já que no que falo com essa mulher com meu inglês meio tosco fica se configura que sou uma escrava extrangeira, que não fala bem a língua, bem a questão sobre o uso do banheiro pelas escravas fica assim:

Essa mulher, que apesar de capataz ali das escravas é gentil e não ameaçadora, no que explico que estou esse tempo todo no banheiro porquê estou arrumando a zona que as outras escravas deixaram, me dá razão e fala algo no sentido de repreender as outras meninas.

Eu, nobre que sou, mas como disse, nesse momento, apesar de estar dentro de um contexto meio farsa, existe algo de muito verdadeiro nesse diálogo ,ou melhor, em como a questão é abordada, como se, apesar de ser abordado dentro de um monte de coisas não muito verdadeiras, o problema de fato existia.

Porquê defendo as meninas dizendo:

– Como você acha que elas conseguem ficar tão pouco tempo no banheiro?Justamente porquê deixam tudo de qualquer jeito.

– Mas elas não deveriam fazer isso, me fala a mulher.

– Não tem jeito. Elas tem que ser rápidas. Estão sempre sob pressão.

A mulher começa a me dar razão. E eu digo, e aqui que existe algo ,algo,uma sensação que não entendo o sentido, mas é forte:

– Você nunca usou o banheiro com medo que te chamassem justo nesse momento?

Sem responder a mulher capataz concorda.

E aqui é a tal coisa. O tempo todo, o tempo todo desse enigmático diálogo, não pelo sentido dele em sim, mas pelo que evoca em mim, que não consigo identificar, o tempo todo estou ainda pondo ordem no banheiro, fazendo especificamente e unicamente o seguinte: a pia, que é moderna, de louça, está cheia de papel higiênico usado sujo de sangue menstrual.

Tudo parece indicar que não seja meu. Porisso que pode ser sim que não seja nada relacionado ao meu fluxo. Fico pegando esses papéis e jogando no lixo. Sem parar um segundo, pois sou escrava não posso perder tempo.

Mas quase comicamente, a pia nunca se esvazia.

Tem uma hora que até isso quebra um pouco a seriedade que eu invisto naquela cena e me passa pela cabeça, mas que raio, como é que essa pia não se esvazia?Não é possível isso.

Coloco mais energia naquilo e parece que consigo diminuir um pouco os papéis.

Mas muito, muito, muito em último plano, algo em mim repara que péra, deixa de lado um pouco essa coisa tonta de querer por ordem no banheiro e repare que esses papéis tem sangue menstrual.

Sinceramente não sei dizer se o ponto do sonho seria esse. Só posso afirmar que na hora que a pia não se esvazia, sinto algo como se o sonho estivesse insistindo comigo, tentando quebrar aquele personagem que adotei, tentando chamar minha atenção para a questão do sangue menstrual.

E nisso já fica instalado esse enredo da história da escrava estrangeira.

Estou ali naquela casa que lembra a casa do seriado Spartacus, mas tem ar de cenário de filme.

Vou até uma longa mesa onde meu trabalho de escrava é de ajudar um moço que parece não ser escravo numas coisas meio de trabalhos manuais.

Tem uma aproximação que vai se dando entre eu e ele, que apesar de muito bonzinho e amoroso comigo, não consigo beijar porquê ele tem um rosto espinhudo e uma boca mole e molhada demais, que me dá nojo, coitado.

Ele não fica chateado e eu sinto sincera pena dele. E fico pensando no beijo seco, áspero e sensual das minhas fantasias, pensando algo como: como entender quando a realidade destoa tanto assim do que seria a coisa boa?

Esse beijo com que eu fantasiava não seria necessariamente com ele e pelo jeito não era.

Assim que esse beijo do moço enterra as possibilidades de romance entre nós, nos concentramos nas nossas atividades, nossa paixão em comum.

E aqui tem a outra coisa que achei bem significativa.

O rapaz é incubido de cuidar de uma coisa que estava sendo de alta importância dentro daquela casa: o cabelo da moça.

Havia uma moça, de extrema importância ali dentro, de uma maneira quase sobrenatural, como se a moça fosse uma espécie de santa mística. As coisas dela eram tratadas como relíquias sagradas. Porquê a única coisa que ficava estabelecida sobre ela é que teria morrido.

O que o rapaz teria sido incubido de preparar não parecia ser seu enterro e sim como se ele tivesse que organizar as relíquias da moça para uma cerimônia em homenagem a ela.

A peça principal das relíquias era uma espécie de peruca feita com os cabelos reais da falecida.

A cena é assim. Está o rapaz todo concentrado, pensando em como vai resolver a incubência recebida, querendo ficar a altura disso, quando me passa a tal peruca, que eu pego com toda a reverência, sem que nesse instante já esteja configurado de fato do que se trata aqueles cabelos. É aquilo que disse e que é muito interessante e inédito em sonhos. O sonho corria um pouco atrás do que ocorria, meio que explicando, se adaptando,aos fatos.

Então eu pego aquela espécie de peruca e já explico porquê não é uma peruca mesmo, e sinto toda a reverência, é como se estivesse pegando no manto de Cristo algo assim. Estou olhando para a peruca, que tem toda a nitidez, meio que pensando porquê aquilo seria algo tão especial, sem questionar, apenas sabendo que aquilo era algo quase sagrado por algum motivo que eu não sabia bem, essa reverência por uns segundos não tem razão de ser, até que o comentário do rapaz deixa claro e definido que aqueles eram os cabelos reais dessa moça tão sagrada que havia morrido.

Seria como se tivesse cortado rente os cabelos dela e preso num cordão também de cabelos,uma trancinha,que funcionaria como uma tiara.

Se alguém amarrasse aquilo como uma tiara ao redor da própria cabeça, os cabelos funcionariam como uma peruca e se a pessoa tivesse cabelos da mesma cor, até poderia mesmo passar por peruca. Mas como essa “peruca” não tinha formato de cabeça, não tinha aquela toquinha que cobre toda a cabeça, não poderia ser classificada de peruca mesmo..

Ainda assim é algo tão engenhoso, mas tão engenhoso, ainda por cima com esse detalhe de que os cabelos de uma criatura tão especial e sagrada seriam como um chapéu sagrado na cabeça de um usuário, como se um sacerdote fosse usar aquilo,q ue eu me pergunto se isso não existe na vida real, por exemplo em religiões antigas, de culto à Deusas.

O cabelo é loiro. Deve ter uns 30 cm de comprimento. Talvez tenha umas pequenas florzinhas principalmente perto da trancinha-tiara.

Pego com todo o cuidado e reverência possível, enquanto ao meu lado o rapaz está meio aflito dizendo:que faremos, como faremos, meu deus?

Porquê existe algo a respeito do corte de cabelo, como cortar, etc.

E nisso minha história fica mais definida ainda, pois se estabelece que fui colocada ali ajudando ele por ter idéias muito boas, apesar de ser uma escrava.

O rapaz se afastou um pouco e, na falta de idéia melhor,e sob pressão do prazo, meio que decide fazer um corte reto naquele cabelo.

Eu vou até ele e digo:

– Péra! Tive uma idéia muito boa. Vi na internet.

E pretendo explicar para ele aquele corte que se faz prendendo todo o cabelo num rabo na frente da cabeça e cortando reto e o cabelo fica em lindas camadas.

Vou pensando comigo: é fácil, é só um prender a tiara na minha cabeça e puxar o cabelo para frente num rabo, como se fosse o meu cabelo e ele corta.

Agora escrevendo vejo vários furos nesse plano, mas no sonho não é o ponto.

O ponto é que por alguns segundos, eu teria na minha cabeça aqueles cabelos quase mágicos que só uma sacerdotisa teria direito de usar.

Esse sonho é muito lindo na verdade.

{4 de março de 2016}

IMAGE CREDITS HELMUT NEWTON

OS PAPÉIS HIGIÊNICOS SUJOS DE SANGUE

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