PREFERIA ESTAR NA PRAIA

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Antes de começar a escrever acho que se refere à ontem eu ter escrito aquele email para o Edu dizendo para ele fazer o podcast sozinho.

Há desde o início uma viagem em andamento que envolve eu, a Lú e nosso grupo de amigas, no qual ela é mais proeminente que eu.Sou meio a “marginal” do grupo.

Não é qualquer viagem, é uma viagem para a Europa, ou seja, tipo “grandes viagens legais”. Estamos todas alocadas numa casa desconhecida que lembra mais um grande quarto de hotel. só tem um quarto onde dormimos todas e nos corredores que circundam o quarto existem armários embutidos onde cada uma tem um espaço para suas roupas.

Não sei daonde posso ter tirado isso.

Não chega a ser exatamente uma réplica do quarto da Lú no prédio dela.

Todos os armários ficam para fora do quarto, num pequeno corredor que seria como um corredor interno de casa e não um corredor longo de hotel.

E são armários bem com cara de armários embutidos de residência, não como armários de hotel.

A dificuldade que de cara encontro é que não estou conseguindo me concentrar direito nas arrumações necessárias para essa viagem.

Por exemplo, eu teria que fazer uma mala super bem pensada, com minhas melhores roupas, mas não faço.

Abri a mala sobre a cama e via que as roupas que já coloquei ali foram meio qualquer uma e a grande maioria são roupas feias que não me favorecem.

O que me dou conta é que estou numa mentalidade de “ah, pega aí qualquer coisa e vamos lá” ,mas não é uma viagem a SFX, é uma viagem para a Europa.

Aliás não tenho essa mentalidade de “qualquer coisa serve” nem em viagens para SFX. Mas no sonho tenho. Quero gastar o mínimo de tempo e energia possível com essa viagem. Não é má vontade, é meio um equívoco no qual me pego. Fico pensando: mas como assim, muito pelo contrário, é caso sim de gastar o máximo de tempo possível nessa mala e fazer a melhor mala de todas, pois é o que terei comigo nessa viagem.

A Lú, claro, já tem uma mala super preparada e bem pensada,cheia de roupas bonitas.

Nem muito tempo tenho mais, a viagem se aproxima e resolvo fazer um esforço de concentração final ali.

Penso que não dá mais tempo de ficar fazendo uma mala enorme, mas vou então escolher pouca coisa, mas coisas boas.

Para começar pela roupa que estou levando no corpo.

Percebo que estou com um pulôver que acho que nem tenho mais, um grandão de tricô verde água com uns padrões. É horrível, me deixa gorda e disforme.

Começo a tirar aquilo, o que dá muito trabalho. Não é um troço fácil de tirar.

Mas não ir com aquele pulôver é uma das coisas que percebo serem essenciais.

Fico um tempão lutando com aquele pulôver até que consigo tirar.

Nesse meio tempo, fiz várias vezes um coque no meu cabelo com a piranha, com uma certa satisfação até, como se aquilo fosse algo que muito me favorecesse e então percebo que estou de peruca. E é uma peruca grisalha. Tiro então essa peruca, o que no sonho me soa como um retrocesso, pois achava que pelo menos o cabelo estava resolvido, mas não estava, pois eu tinha feito um coque numa peruca.

Mas acordada acho tudo ótimo, que bom que essa cabelo grisalho e horrível é só uma peruca a qual estou erroneamente apegada.

Me concentro e me concentro. O tempo todo isso de ter que me concentrar, de lutar contra uma tendência a dissipação. Não distração, nem negligência. É como se o tempo todo eu tivesse que me convencer de que aquilo era o que eu deveria priorizar.

Nessa mentalidade de escolher pouco, mas bem, penso em qual seria o melhor pulôver que eu tenho, para ir com ele.

Apesar do calorão da vida real, no sonho temos que ir de malhas.

Meu melhor pulôver, que mais gosto e mais me deixa bonita, é um pulover e gola em V azul brilhante.Não tenho nenhum assim na vida real. Seria como um pulôver de gola em V como o preto ou vermelho que tenho e que vestem bem, mas na cor daquele pulovinho barato da C&A que tem um tom forte e brilhante de azul que gosto muito.

Mas cadê essa pulôver? Abro gaveta após gaveta e não encontro.

São gavetas típicas de pulôver, largas.

Abro gavetas arrumadíssimas, com lindas malhas. Fico na dúvida se são as minhas gavetas.Acabo achando que estão arrumadas demais para ser as minhas. Devem ser da Lúcia. Localizo o que me parece ser o pulôver e tenho um instante de alivio. Algum progresso finalmente. Mas então vejo que não é o meu pulôver top e sim um outro da mesma cor, mas abotoado na frente como casaquinho. Tenho um momento em que quase pego aquele mesmo, naquela mentalidade de “ah,vai esse mesmo”, quando me esforço para procurar fazer o que é melhor para mim, ou seja, pegar meu melhor pulôver. Ou seja, não estou agindo por razões ruins. Estou sinceramente procurando fazer o melhor que posso.

Mas não consigo achar o pulôver em parte alguma e o tempo para isso se esgota. Me espanta que uma coisa boba dessas se revele tão complicada. Tenho que deixar isso para lá e sair da casa para cuidar de algum outro preparativo necessário e básico para a viagem, mas que não fica claro qual seria.

Mas envolve isso de “coisas que quero levar”.

Me vejo numa loja grande, que parece ser uma super loja de armarinho e coisas de artesanato. O local está cheio e as prateleiras vazias, como se estivesse havendo uma super liquidação. Eu tinha uma lista mental de diversas coisas que queria comprar e levar comigo, mas a maior parte já se esgotou. Se eu tivesse vindo antes...mas deixei para a última hora.

A única coisa que ainda consigo encontrar é um coelhinho pequeno de uns 8 cm, de um material meio tecido plástico, branco.

Acordada, lembrei na hora da cabeça de coelhinho branco de tecido que as filhas do Adriano deram para mim e que guardei com grande carinho.

Fico segurando aquilo na mão e avalio a situação dos caixas, o tempo que perderei para passar aquele único coelhinho pelo caixa e concluo,nessa mentalidade”prática e funcional”, que não vale a pena.

Volto com o coelhinho, querendo colocar ele na gaveta onde encontrei.

É bem como aquela loja típica de armarinhos, que tem gavetas nas paredes com cada um dos produtos.

Estou ficando bem triste a medida que escrevo esse sonho. Parece que algo está muito errado mesmo na minha vida.

Saio da loja, na qual fui e não resolvi nada, por que não deu tempo.

Ou seja, não estou conseguindo resolver nada. A única coisa que tinha conseguindo, que era essa coelhinho, acabei achando melhor deixar de lado para não perder tempo no caixa.

Saio e vou caminhando de volta ao tal hotel, quando percebo que...

Estou passando pela praia.Seria como se essa cidade ,que em nada remete a São Paulo, fosse praiana e aquela loja onde estive tivesse uma das saídas pela praia.

Eu estava atravessando a praia meio automaticamente, concentrada em voltar rápido para não perder tempo pelo menos, uma vez que minha ida ali tinha sido infrutífera, quando caio em mim que aquela é uma praia muito legal.

Olho ao redor, esperando ver alguma coisa que desabonasse ou me provasse que minha impressão era equivocada, pois geralmente as praias mais na cidade são sujas e feias. A praia contraria em tudo esse estéreotipo das praias na cidade.

É pequena, de areia clara e mar super, super azul, aliás, o tom azul do mar me chama a atenção e posso notar que a cor azul é recorrente no sonho. O tom azul do mar, de um azul parecido com o do pulôver, brilhante e vivo, me chama a atenção. A praia está cheia de gente, no bom sentido. Cheia de vida.

Aquilo rompe com tudo o que estava na minha cabeça. Percebo que estava tão difícil me concentrar em arrumar minha mala direito, estava tão difícil focar nessa viagem pelo simples motivo de que...preferia estar na praia.

Olho para a praia e sinto um claro e nítido desejo de passar um tempo lá.

Essa é a única coisa que desejo mesmo, penso.

Aqui acho melhor explicar direito.

A viagem não é colocada com algo “ruim” ou indesejado. Mas naquele instante o que me dou conta com uma espantosa clareza, é que meu desejo autêntico e espontâneo ia em direção a praia e já que eu ia mesmo embarcar nessa viagem e pouco tempo me restava ali, o que de fato queria mesmo era passar algum tempo na praia. E que o que mais gostaria de levar comigo nessa viagem, mais que isso até, a melhor coisa que poderia levar comigo nessa viagem era a lembrança e experiência de alguns momentos na praia. Resolvo então parar os preparativos e aproveitar aquele resto de tempo que ainda havia fazendo o que eu mais desejava, estar na praia.

Então resolvo voltar até o hotel não para me afundar em preparativos,e sim para pegar rapidinho um maiô e voltar para a praia e dane-se a mala e dane-se tudo o mais, vou do jeito que dá.

E passo então a usar aquela mentalidade “mega eficiente”em função desse objetivo de ir para a praia.

Saio correndo pela longa via que une a praia ao hotel.

Aqui é assim: corro pela calçada direita dessa rua.

Aos poucos percebo que corro como um cavalo.P ercebo que corro numa movimentação cadenciada, repetitiva, que não é muito humana e então percebo que é a movimentação de um cavalo. Não chega a ser como se eu tivesse me transformado num cavalo, mas quase.

E é muito bom. Gosto muito daquilo e esse é praticamente a única parte boa do sonho.

Pois já começo a desconfiar que peguei a via errada.

Havia essa possibilidade, haviam basicamente duas vias principais naquela cidade, bem parecidas, só que uma levava ao hotel a outra não.

Sem diminuir o ritmo começo a avaliar o prejuízo de tempo e energia.

Era uma longa via, eu me esforcei para correr num ritmo acelerado, justamente para voltar para a praia o quanto antes e isso acabou por me fazer gastar muita energia na rota que justamente me afastava da praia.

Logo essa via termina no que termina mesmo, uma parede cega. Estou muito embalada e para não perder o embalo, pois tenho a impressão de que se parar vou ficar dominada pelo cansaço, para não perder o embalo entro a direita no que seria o último estabelecimento ali. Que era uma espécie de concessionária de carro misturada com oficina.

Tem ar de concessionária, grande, com os carros ali ostentando. Há umas vendedoras ali na frente e clientes, mas passo por elas correndo. Minha intenção é fazer uma curva de 180 graus e voltar correndo pela mesma via, mas na direção contrária, voltar tudo até o ponto onde errei, pegar a via certa e continuar correndo até o hotel. Ou seja, um caminho gigante e eu estava praticamente tentando enganar meu corpo para ele não perceber isso.

Faço então esse meio círculo por dentro da concessionária e me preparo para sair pela outra entrada para a rua, pois geralmente em concessionárias, assim como em oficinas, há duas entradas, pois as pessoas entram dirigindo por uma e saem pela outra.

Logo vejo de fato essa segunda entrada. Existe nela um gigantesco carro amarelo.

Não um carro grande, mas como se fosse um carro feito em proporções gigantes meio com propósitos decorativos, sei lá.

Seria como se o carro fosse assim do tamanho do interior da minha kit, só para dar uma idéia. O piso dessa concessionária está na altura do teto do carro, de forma que logo estou correndo sobre o teto desse imenso carro,a inda concentrada em focar no meu objetivo,quando...percebo que a rua após o carro não está no mesmo nível que o teto.

A rua se encontra no nível do chão do carro e sendo esse carro de uma proporção anormal, isso equivale a uma altura de uns três metros.

Eu vinha naquele embalo de “posso agüentar tudo”, mas me detenho.

Breco como alguém que breca na beirada de um abismo.

Olho aquele queda até a rua e penso:

– Se eu cair dessa altura vou quebrar as duas pernas.

E esse é o triste fim de um triste sonho.

E relendo agora, a maioria das passagens super bate e representa bem coisas que identifico na minha vida real atual, essa concetração, essa seleção de “foque nisso e não naquilo”, o coelhinho, o artesanato, a corrida que eu amo...

Mas não sei o que é essa praia. Tem até essa expressão,”minha praia”.

Qual é a minha praia?

{19 de janeiro de 2019}

IMAGE CREDITS ARNAUD PYVKA | KORI RICHARDSON


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