500% de juros

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Esse sonho merecia diversos nomes mas esse deve ser o título que vai tornar mais fácil eu identificar depois. Vai levar um tempo para registrar tantos ricos detalhes mas acredito ser o melhor que faço pois não existe forecast mais precioso que os sonhos.

Primeiro essa cena como que uma introdução. Como uma fotografia PB que não deu muito certo e saiu muito escura e com muito grão. Eu mesma não me diviso direito na cena, tudo está como que dentro de uma massa de uma poeira escura, densa e preta. Meio noite, sei lá. Eu procurei determinada figura que fica como um vulto ali no sonho e não irradia algo ruim. Muito comportadamente estou dizendo a ela minha intenção de aprender com ela algo que fica a meio caminho de ser definido, mas seria meio que como aprender um instrumento musical pelo qual tenho zero atração, tipo flauta, ou clarinete, algo pior ainda e isso dos instrumentos musicais comparece ali no sonho, mas como disse, a meio caminho, mas não é um exemplo que estou dando aqui acordada. Mas seria algo que iria exigir um imenso tempo e dedicação quase que integral da minha parte e…

Mesmo no meio da frase que estou dizendo com uma sinceridade até autêntica, mas tinha sido algo do qual eu havia sinceramente me convencido e não algo que eu de fato desejava:

– Mas o que estou fazendo? Eu nem quero aprender isso.

Guias, interrompo esse relato para já pedir com pena de mim mesma: me ajuda a experimentar que o que eu desejo é certo. Pois o sonho parece ser sobre isso, pois emenda numa segunda parte que parece repetir essa mensagem com outros elementos.

Então eu meio que me deixei arrastar por minha mãe para a seguinte situação:

Já estou numa determinada casa a qual anunciou um filhote de cachorro a venda. Eu estava indo meio que para agradar minha mãe, como se estivesse entrando numa loja e vendo qualquer coisa que não me interessasse mas que ela quisesse me mostrar, mas…

Bom, estamos na cozinha e está ali um senhor que seria uma espécie de intermediário de venda de cães, ao que parecia, a pessoa entrava em contato com ele dizendo qual espécie de cão queria e ele fazia a ponte com as pessoas que tinham cães para vender.

Ele é um senhor que tecnicamente bate bastante com meu avô e, assim como a figura vulto do sonho anterior, não irradia nada de ruim.

Minha mãe, como sempre, está se encarregando das sociais e eu estou meio quieta ali. Não chego a estar contrariada nem nada. Estou, eu diria, inconsciente.

E utrapassadas as preliminares socias, o senhor então anuncia que tem o cachorro ideal para mim, fazendo um certo clima, coisa de vendedor mesmo e nisso eu até tenho uma expectativa autêntica sobre esse cachorro. Tipo quando a gente faz um teste de autoconhecimento e vai ver o resultado. Qual seria esse cachorro que seria oferecido pelo destino?

E nisso vem o cão, um filhote de gold retriever, ou labrador, não sei nome de cachorros. Aquele tipo de cachorro que a Renata minha amiga queria ter. Fico até supreeendida no bom sentido por no fundo sempre esperar que o “destinado a mim” fosse algo ruim, pois aquele cachorro com certeza seria o sonho dourado de muita gente. Ele vem todo perfeito, com seu pelo dourado e aquela coisa festiva e amorosa de filhote, mesmo já tendo o tamanho de, sei lá, quase um metro de comprimento.

Tem uma bancadinha ali na cozinha e ele, quase como em cena de filme, apoia as patinhas ali na bancadinha e fica olhando para mim, já me adorando de cara. Minha mãe fica entusiasmada e para ela o negócio está fechado, fica ela e o senhorzinho conversando sobre as perfeições do cão, enquanto isso finalmente minha cabeça, até então em ponto morto, se põe a funcionar.

Para começar eu pergunto:

– Mas quantos anos tem esse cachorro?

Nisso a proprietária está na cena, uma mulher de ar mais severo parecidíssima com a Jamie lee Curtis, de pé do meu lado esquerdo na cozinha.

– 5 mêses, responde ela já sentindo o tom meio desaprovador na minha voz.

– Mas de que tamanho ele vai ficar quando crescer?

Silêncio mortal na sala. Todos obviamente pensam a mesma coisa, que se o filhote de 5 mêses já tem o tamanho da maioria dos cães adultos, quando crescer vai ter o tamanho de um bezerro.

Nem preciso dar sequência ¡a idéia.

Nesse momento um embate interno ocorre na minha cabeça. Uma parte de mim, a parte que estava embarcando nessa de comprar um cachorro apenas para deixar minha mãe fazer o que queria, tenta me convencer de que isso não é nada, vai ver você até vai gostar, etc.

E a outra parte, a parte que funciona direito, argumenta ferozmente no sentido de que aquele iria ser um compromisso que iria dominar a minha vida. Um cão daquele tamanho come muito, faz um monte de cocô,, precisa de veterinário, precisa levar para passear e iria ficar interagindo comigo o tempo todo, ou seja, eu iria virar uma escrava desse cachorro. Por mais que eu tenha deixado a coisa rolar até esse ponto, pelo menos não é um daqueles sonhos nos quais sinto que não posso mais retroceder, pois naquele momento eu já decidi totalmente que não iria comprar o cachorro.

Fora o preço de cachorro.

Nisso então não sei o que é dito, que a dona do cachorro informa que o valor pode ser pago em parcelas com um juro de 500% em caso de atraso.

O absurdo disso me leva a até ser um pouco indelicada, pois me viro e digo para a mulher sem rodeio nenhum:

– Como assim, juro de 500%? Nada tem juro tão alto.

Isso não tem como ser negado, mas a mulher, ligeiramente abalada mas não muito, diz que o juro é para impedir que casais homossexuais jovens profissionais liberais, os principais compradores de cães, abusem dela e não paguem as parcelas.

Bom, isso enterra de vez o assunto para mim.

A conversa entre minha mãe e o vendedor começa a tomar um ar de “então vamos pensar”, ao invés daquele papo com tom de “vamos fechar negócio”.

Eu começo a me ausentar pot dentro da cena.

Penso, como conclusões finais para mim mesma, que nem quero um cão para começo de conversa. Imagina me meter naquela encrenca toda com um juro de 500% ainda por cima. E nisso vem a parte do sonho que me pareceu a mais enigmática de todas.

Tem algo mais que lembrei que também me intrigou mas essa aqui mais.

No que estou fechando esses pensamentos de nem querer o cão, há ali na cozinha um outro cão que estava desde o começo mas meio que ignorado, pois não era tipo “ o filhote dos sonhos”, como o labrador gold ali.

Seria um cachorro pequeno, de corpo comprido como um basset, aliás parecia uma fuinha, meio feio, escuro, e que tinha ficado o tempo todo com a cabecinha apoiada numa estante dormindo.

– Até se fosse para ter um cachorro, eu penso, queria que fosse esse. Gosto muito mais desse e esse não me daria tanto trabalho.

O que isso significa?

E a outra parte misteriosa que veio antes dessa até.

Quando estou nessa atualização interna em relação a encrenca na qual estava me metendo nisso de me convencer que “não era nada de mais”, penso na cadela que já tinha na Gregório, pois isso se passava com eu morando na Gregório.

Minha mãe teria uma cadela policial meio idosa, com um pêlo meio eriçado.

Imagina os dois cachorros enormes ali, comendo e fazendo cocô, eu penso. Minha vida vai ser recolher cocô de cachorro. Posso me acostumar com isso? Todos os dias passar um tempo considerável recolhendo cocô de cachorro? Será que esse filhote dourado pode aprender a fazer cocô no jornal? Pretendo perguntar isso para a dona mas nesse momento é que felizmente a coisa dos juros de 500% enterra esse assunto.

Então estou do lado de fora da casa enquanto vejo lá dentro minha mãe nas ultimas gentilezas de encerrar a conversa com o vendedor intermediário.

Gostaria de saber o que penso nesse momento, pois apenas nesse momento estou liberta de coisas que na verdade eu não queria fazer.

{3 de abril de 2023}

IMAGE CREDITS MARIANO VIVANCO | GIGI HADID |  HARPER'S BAZAAR US MAY 2018

500% de juros

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