A CÂMARA DE TORTURA E O CRIME NA ESCOLA

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Alguns sonhos bobinhos fico com vontade de escrever. Outros, que claramente são fortes, não tenho. Mas acho que esse não dá para ser ignorado.

O tempo todo estou com medo, muito medo.

Egito antigo.

Sou uma escrava dos aposentos do rei. Durmo nua na cama deles, acho que para estar o mais disponível possível. Não sou usada sexualmente. Sou jovem e bonita, e claro, tenho atração pelo rei, até porque é o único homem que eu vejo, eu jamais deixo aquele quarto.

Há um casal sinistro que está sempre por ali, que são os conselheiros do rei e que na verdade mandam em tudo. O rei é só um fantoche.

A rainha teve que se ausentar não sei porquê motivo. Vou passar a noite sozinha com o rei pela primeira vez na vida. Estou um pouco excitada com isso, mas muito, muito mais apavorada. Sei que o casal sinistro não gosta de mim e planeja, caso eu transe com o rei, o que é quase inevitável, me matar.

Qualquer coisinha ali virava pretexto para tortura e morte. Tortura era meio o hobby desse casal, eles tinham um porão de tortura no castelo.

A câmara era comandada por esse casal, que apesar de mandarem no reino todo, a única coisa em que encontravam prazer era em torturar pessoas, principalmente as que viam alguma qualidade, como bondade e beleza.

Enfim, sei que até essa saída da rainha foi armada por eles para causar esse episódio sexual entre mim e o rei , para que isso fosse usado como pretexto para me torturar e matar. Me acham boazinha demais para eles, querem colocar alguma malvada no meu lugar. E isso é outra coisa que eles fazem, gostam de misturar sexo com tortura.

Sei disso tudo, sou boazinha mas não boba.

Fico a sós com o rei, que logo começa a se animar comigo. Eu me encolho, e digo:

– Eles vão me matar.

O rei pergunta o que quero dizer.

Explico que se eu dormir com o rei, o casal vai me torturar e matar.

O rei fica confuso, pergunta porque eles fariam isso, se ele, o rei, não deu a ordem?

Eu respondo que eles fazem assim com todo mundo, que tem uma câmara de tortura no subsolo do castelo e que eu seria levada para lá e o rei nunca ia nem saber o que houve comigo, eles iam dar uma desculpa.

O rei fica meio pasmo com isso, não tinha consciência de que isso vinha acontecendo e nem sabia dessa câmara de tortura. Ele não é mau, mas.... também não é um homem forte e bom. Claro que não, senão não seria tão fácil de manipular. Ele fica meio pasmo com a grande revelação, mas não faz nada e logo isso deixa de ter importância em sua mente, que está totalmente ocupada com o desejo de transar comigo, não porque goste de mim ou nada, apenas por eu ser uma novidade.

Ele diz algumas palavras tranqüilizadoras e vazias e continua a querer se achegar em mim e eu começo a chorar. Tenho esperanças de que isso o convença da gravidade da situação, ou melhor, da minha situação, já que ele está a salvo.

Então são mostradas cenas da tal câmera de tortura, enquanto eu falo disso para o rei (antes de chorar). O casal, que acabou de sair dos aposentos reais, está agora na tal câmera, torturando um senhor bondoso. Estão puxando os braços dele com um aparelho. O senhor não grita.

– Ele não está gritando, diz o rei, não está sofrendo.

Esse rei é mesmo trouxa. Mesmo atraída por ele por pura falta de opção, consigo ver sua verdadeira personalidade, que é meio fraca e pouco interessante num homem.

– Eles (o casal) deixam o torturado escolher a forma de tortura, eu explico.

Mas fazem isso para judiar ainda mais, obrigando a pessoa de certa forma a ser conivente com seu suplício. É claro que está sofrendo, eu digo.

E olhando bem nos olhos do rei, digo o que senti como a frase mais forte do sonho:

– Todo mundo sente dor e medo o tempo todo.

E aí nas tais cenas da câmera de tortura é mostrada que do lado direito, pelo menos de quem está olhando, ficam os aparelhos de tortura e do lado esquerdo, ficam uma série de catres, onde pessoas, na sua maioria jovens mulheres, são obrigadas a praticar atos sexuais meio obscenos e que elas não gostam. Vejo que a maioria dos casais são mulheres, mas justamente, elas são obrigadas a ter relações com quem não gostam, de um jeito que as agride.

Para as mulheres jovens e belas, é dada essa opção, podem escolher entre serem torturadas ou fazerem isso, é lógico que escolhem isso. O casal gosta de ficar olhando, porque é claro que é uma forma de tortura, porque são todas jovens, e mesmo nessa situação o desejo se manifesta, e o casal de sádicos gosta de ver a degradação do desejo.

Ó céus, que falta para isso ser mais escabroso?

E no entanto, está dentro de mim e sinceramente acho que ter sonhado isso é efeito de eu estar avançando nesse trabalho corporal que desobstrue meus canais de energia, porque eles foram fechados por medo e se eu abro, o medo emerge.

Mas aí o sonho passa para outro momento aparentemente nada a ver, mas exatamente com o mesmo clima.

Sou aluna de uma dessas escolas americanas onde os jovens ficam internos.

Ocorreu uma coisa muito sinistra no meu grupo de amigas, acho que uma garota foi morta meio por nossa causa. Foi algo tão assustador que eu bloqueei a lembrança e não sei direito o quanto tive a ver com a morte dela, de vez em quando suspeito de que eu tenha sido a principal responsável, ou melhor, a irresponsável, porque não houve uma intenção sádica de desttuir, como no sonho do casal e sim uma irresponsabilidade meio juvenil, maldade sim, mas não sadismo consciente como o do casal. Todo mundo nessa escola é meio mauzinho, são jovens infelizes que se afirmam sendo maus uns com os outros.

Eu procuro me concentrar nos estudos.

Então ocorreu essa coisa, esse crime entre nós, sobre o qual nenhuma de nós ( é um grupo de amigas) fala claramente, porque no fundo todas nós ficamos chocadas com o que houve. Tem uma garota que meio é minha melhor amiga, se bem que eu, como não me lembro do que houve, porque reprimi, não sei direito se não terá sido ela a principal atuante na morte da garota, que aliás, era bem chegada a essa minha amiga, o que não quer dizer nada, muito pelo contrário, ali nesse ambiente meio degenerado, o considerado legal era justamente ser mau com seus melhores amigos, ou com quem vc mais amava, tipo um raiva do amor, querer destruir o amor.

O ano acabou, e eu estou focada em tentar salvar o que tem de bom ali, que é meu trabalho e meus estudos. Antes eu era meio deslumbradinha com aquele ambiente, depois que ocorreu aquilo, não mais. Só quero dar o fora. Só que percebo que deixei meu portfólio e meus documentos não sei onde, na confusão que ocorreu devido ao assassinato. Dá a impressão que essa morte foi bem recente.

Fiquei totalmente obcecada com meu trabalho porque de certa forma é o que tenho de positivo para me agarrar, ali onde nada era positivo.

Estou num salão, onde os alunos começam uma festa meio pervertida, os rapazes, principalmente, são todos maus. Um deles me oferece bebida, eu recuso, antes bebia socialmete, agora, não quero me arriscar a nada ali dentro. Olho para o terraço que existe entre a sala onde estou e o portão de saída. Demorei demais para sair e agora o páteo está apinhado de gente festejando, uma multidão maciça na qual teria que me apertar para passar mas isso não é o pior , sei que se me meter aí dentro serei arrastada por algum dos rapazes para algo que não quero, nenhum deles é legal e essa festa final é quase que um aval para eles se tornarem o pior que podem ser, porque é sua última festa ali.

Mas existe um caminha lateral, isolado por uma cerca, como no metrô, que leva até o portão, e que, para minha surpresa e alívio, está desimpedido. Por ali posso sair, mas... não sem meu portfólio e minha pasta de documentos importantes. 

Engraçado que depois de tantos sonhos em que perco minha bolsa, que representa dinheiro, esse sonho me mostra perdida do meu trabalho e identidade.

Resolvo voltar por esse caminho desimpedido na direção do interior da escola, perto do lago, onde justamente aconteceu a tragédia, porque acredito ser lá o local mais provável para eu ter esquecido minhas pastas de portfólio e documentos, por causa da confusão ali da tal morte.

Procuro aquela minha amiga explico a ela que tenho que recuperar meu portfólio, ela me acompanha e aparentemente quer me ajudar, mas acho ela estranha, não sei se ela é a assassina, ou se planeja me acompanhar ao local do crime esperando que eu me lembre que eu sou a assassina.

Quando chego logo encontro meu portfóilio, a pasta com os documentos é que tenho que ficar procurando, a atitude da minha amiga está indecifrável, eu mal consigo pensar com clareza de tão apavorada que estou, e sem saber o que dizer digo a ela:

– Estou com muito medo.

Igual na outra parte do sonho.

Só que dessa vez o medo é diferente, O que temo é de ter tido participação nesse crime e que a culpa me prenda para sempre a aquele lugar. Sem culpa, estaria livre para ir e deixar todo aquele horror para trás, mas tenho medo de ter tido culpa nisso

Um bando de rapazes apareceu e nos encontrando ali, viu nisso pretexto para sua diversão favorita, que é judiar de moças.

Uma garota que estava com a gente, com eu e minha amiga, está curvada sobre uma longa mesa também procurando algo importante que ela perdeu. Um rapaz se aproxima com uma raquete de tênis, fica claro que ele quer bater no bumbum da menina com aquilo.

Mas um outro rapaz do grupo, que é meio líder entre os rapazes, e que surpreendentemente não é mau como eles, pelo contrário, vê aquilo e me nota entre as garotas. Ele meio que gosta de mim, se bem que nunca a gente tenha nem se falado.

Ele logo percebe que se os rapazes ficarem por ali, logo a coisa irá evoluir de uma forma perigosa e acabar me incluindo. Então ele fala para esse rapaz que está com a raquete algo do tipo: deixa disso, temos coisas melhores a fazer.

Como ele tem autoridade ali entre os rapazes, o cara larga a raquete e vai com ele. O grupo todo entra num vagão de trem e no último instante, o olhar desse rapaz principal, o líder, se cruza com o meu de forma muito forte e fica claro que ele gosta de mim e agiu daquela forma principalmente para me proteger.

{18 de dezembro de 2013}

IMAGE CREDITS STEVE MEISEL | DARIA WERBOWY | VOGUE ITALIA 2003

A CÂMARA DE TORTURA E O CRIME NA ESCOLA

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