MINHA BANDA NÃO É A BANDA DAS GAROTAS FURNELLA

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Nesse lugar alojamento-clube, todo o grupo de jovens é conduzido numa excursão pelos arredores pelos organizadores e nesse ponto não sei se o Lucimar já está configurado como um deles ou o único. O Lucimar tem posição de destaque nesse local, é um dos organizadores, não um funcionário. Saio com minha mochila atrás do grupo mas bobeei e acabei não escovando os dentes. Fiquei perdendo tempo, podia ter escovado. Aqui rola algo muito pequeno mas que foi vivenciado com muita intensidade no sonho. No que saímos, o lugar é muito atraente e de cara tem um pequeno tanque fundo à direita, com carpas. O lugar está meio enevoado pois está um frio de rachar e meio neblinoso. Toda a vegetação parece turfa, essas coisas de país nórdico, não é um vegetação tropical. Mas tudo atraente e estou animada, mas está mega frio.

Parte do grupo, que é jovem, fica gritando que está super frio mas mesmo assim se atirou nesse tanque com as carpas, coisa que tenho muita vontade de fazer mas está mesmo congelante! Me admira que as pessoas tenham se atirado naquele gelo tão rápido. Mas ninguém foi obrigado nem está sofrendo. Esse momento por um instante remove minha atenção do tal assunto pequeno que tem grande dimensão no sonho e que seria: o que eu deveria fazer? Seria possível aproveitar o passeio com a boca sem escovar os dentes por longas horas? A gente iria lanchar e tudo. Não iria estragar a graça de tudo? Aqui fica mais interessante ainda a minha dinâmica interna, pois o grupo está parado junto ao tanque, a passos do alojamento e o Lucimar era um dos organizadores, então seria fácil falar que ia escovar os dentes e voltava. Dava tempo. E o grupo me esperaria. Mas nessa coisa que eu às vezes fico, de ficar bloqueada, simplesmente me viro e volto para o banheiro sem dizer nada a ninguém, o que até seria o correto, pois eu fazia parte da excursão e o Lucimar tinha que saber onde eu estava. Mas eu vou, escovo os dentes, coisa que curiosamente não consta no sonho e saio novamente e… claro que todos se foram. Não sei nem para que lado. Fico uns instantes ali cogitando de ir atrás mas acho melhor não, o que é o sensato, pois podia me perder sério.

A próxima cena que lembro é que eu estou no meu quarto de calcinha e sutiã, o casaco não o de gola de pelo e sim o cinza de Londres, o sapato escarpin, esse novo de salto agulha e uma caneca de café.

– Estou bonita, penso.

Então desço. Não posso garantir que estivesse de calcinha e sutiã ou biquini, mas de qualquer forma, ali naquele ambiente era mesmo algo ok para circular publicamente. Desço e ali no saguão desse lugar que na verdade parece um acampamento de férias, está o balcão de madeira da recepção e eu vou ali por causa do seguinte: sem que tenha tido uma cena que emendasse com parte anterior, mas sendo isso sim uma sequência, eu, por causa do lance de escovar os dentes, havia esquecido ali nesse saguão ou lá fora meu lindo maiô branco com rosas. Nem tenho esse maiô na vida real nem nunca tive, mas seria um lindo maiô branco com rosas cor de rosa. Vou falar com a menina que atende no balcão e ela me informa que o Lucimar, o organizador e guia da excursão, teria encontrado o maiô e guardado com ele. Então penso:

– Meu maiô está em boas mãos.

E isso finaliza essa sequência e se inicia novo enredo.

Fui andando pelo local com meus saltos e meu café, que parece mais a caneca preta de chopp que baixei do pinterest ontem do que a minha real, e tem uma hora que ali numas escadinhas, estou conversando com duas meninas que estão hospedadas ali justamente sobre o Lucimar. A menina está comentando algo que não lembro bem, mas algo do tipo que o Lucimar deveria falar em público, algo em tom meio crítico, tipo a menina não entendia porquê ele não fazia isso, ele devia, esse tipo de comentário. Então eu, que estou sentada nos degraus da escadinha, digo assim rindo:

– Mas o Lucimar é jeca.

A menina não sabe o que é isso. Então eu, com esse meu instinto teatral, imito algo que seria uma caipira envergonhado e mudo. Aqui é bem louco. Primeiro que jeca não quer dizer isso. Jeca é uma gíria para cafona. Segundo que, apesar do meu comentário ser meio ácido mesmo, eu tenho uma grande admiração pelo Lucimar e todos ali tem, ele ocupava uma posição importante. tanto é que a menina achava que uma de suas funções deveria ser se pronunciar representando todo o alojamento. Não gosto muito de ter tirado um pouco de sarro dele mas fui no embalo. E, mesmo tendo sido crítica, tenho razão. O Lucimar, apesar das grandes qualidades, ra canhestro para se expressar, o que em nada o diminuia. E isso encerra o assunto Lucimar no sonho.

Eu andei, pensando basicamente nisso e me encontro numa lajinha que parece ter um balanço de parque infantil ali e me sentei no balanço, sempre com minha caneca de café e a minha esquerda noto não sei o que no chão. Não lembro. Tem umas meninas tomando sol de bruços ali na laje, mas essa coisa está um espaço delas o suficiente para não ser delas e eu acho que talvez seja meu, essa cena fica confusa, o que lembro é que vou até a tal coisa para ver o que é, sigo andando e então me dou conta de que deixei meus sapatos de salto e meu café ali no balanço e volto para pegar. E aqui se inicia a terceira parte do sonho. O meu grupo, do qual eu fazia parte, já tinha descido para o auditório no subsolo, aliás bem parecido com o de outro sonho, para a apresentação no recital de música. Eu fazia parte dessa banda. Mas não tinha ido com eles. No que estou meio que talvez indo nesse sentido, pois não tenho um objetivo definido ali, passo por uma espécie de corredorzinho ao ar livre que tem umas mesas redondas e pessoas, todas do alojamento, sendo que todas as pessoas do alojamento iriam participar desse recital, e tem duas moças bonitas com cara de menina de shopping sentadas numa das mesas mais na frente e sei que tem na mão uma música que eu escrevi a letra e elas vão cantar no recital. Eu sei essas coisas.

Então me sinto meio que automaticamente com direito de me incluir no grupo, coisa que me atrai por serem tipo o grupo das populares da escola, da qual todos querem fazer parte. As duas são ligeiramente antipáticas. Mas eu escrevi a letra, ou seja, elas estão explicitamente dando muito valor a algo que eu criei. Eu mesma tenho a letra escrita num caderno grande pautado. Então me sento e já começo a me incluir na coisa. Um trio de moças cantando aquilo ia ficar muito belo e sei que canto bem. A moça menos antipática, que está a minha direita, apanhou a letra para a música que ela criou, então num primeiro momento eu tenho que aprender a música.

– Cante que eu acompanho, eu digo, quando ela começa a explicar que fez tal e tal alteração.

Tenho segurança da minha capacidade de pegar música rápido, muito mais que coreografia e até antecipo que elas vão ficar surpreendidas. Então ela começa a cantar e eu tenho muito mais dificuldade do que previa, pelo fato de que está escuro ali, a luz é de velas e eu mal consigo enxergar o que eu mesma escrevi no caderno. A menina começa a se impacientar, eu estou atrasando o ensaio delas, que já sabem a música. Explico que não consigo enxergar naquele escuro e ela responde algo no sentido de que para elas, que são mais jovens, está dando super.

Tem mais um detalhe que, no pouco que consigo acompanhar, a menina canta e tem aquela espremidinha da letra para caber na música e eu penso que ficaria melhor numa outro ordem das palavras e falo:

– Olha, assim fica melhor. E canto do meu jeito.

A música é minha, não estou sendo invasiva, mas reparo que não fez muita diferença não, não encaixou melhor por causa da alteração da ordem das palavras na letra. Não vale o esforço, melhor deixar como estava, e digo:

– Faz do seu jeito mesmo.

E nisso reparo o olhar meio irritado que ela dispara contra mim, que já estava sendo um transtorno ali, me metendo no meio de algo todo já organizado e ainda dando palpite. Sei que esse sonho importa por causa da seguinte passagem que não sei em que momento surge . Ou é agora ou foi antes disso do canto. Tudo está coberto de neblina. Não consigo enxergar um metro à frente. Algo até belo.

Então está comigo uma mulher de idade, de cabelos brancos e completamente Guia espiritual. Parece algo entre a Hefie e a Mulher de Cabelos Brancos de autoridade que veio no sonho de asmulherestodas, acho. Ela veio para me guiar. Isso não surge no fim do sonho. Mas em seguida entra esse trecho final da apresentação musical. Então estou sentada com as mesmas meninas numas cadeiras dispostas como auditório mas ainda naquele mesmo local e vejo que a menina que estava falando comigo pegou a letra dela e está ali treinando sozinha e desencanada de mim. Ao meu lado na fileira está sentada uma menina gordinha amorfa. Ela comenta com um garoto amigo dela que está com a mão endurecida e mostra para ele, os dedos estão meio que rígidos como os da minha mãe e ela dá uns estalos, tipo os que eu dou no meu pescoço. Comenta com o seu amigo, rindo, que os dedos estão duros.

– É artrite, eu penso.

Mas ela é muito jovem, menos de 30. Não chego a ter pena dela pois mesmo sem pensar no assunto é como se eu achasse ou soubesse que ela tem sim condições de reverter isso e os estalos mostram que ela não está com dor. Essa cena parece totalmente desconectada do lance da música. Enquanto observo a gordinha, a menina com cara de shopping está mais e mais desencanada de mim e eu já estou suspeitando o que ela pretende: cantar minha música sem mim. Então rola algo meio embolado. Mesmo não aparecendo no sonho, pois não aparece, havia, um pouco antes disso da gordinha com artrite na mão, rolado o seguinte. Eu havia meio que dado uma dura de leve em uma figura feminina mais velha que estava tentando me dizer o que fazer e como fazer. Ou sendo mais precisa, o que eu devia ser e como devia ser. Parecia uma figura meio maternal. E eu havia me livrado dela muito rápido, dizendo algo tipo: olha, não vou ser do jeito que você quer e pronto.

E em seguida ao lance da gordinha, com a qual nem chego a falar nada. a menina que estava ali sentada na fileira de trás dessas cadeiras de plástico e ensaiando a minha música, tem um momento de autêntica simpatia comigo e comenta que também a mãe dela tinha tentado fazer ela usar umas pantufas de pelinhos da marca Furnella e que ela tinha dito que não iria usar.

Aqui não sei se estou entendendo o sonho direito, pois ela está justamente com essas pantufas e não somente, está com uma roupa toda de pelos que tem até capuz de pelos. A roupa aliás é descoladíssima e fica super bem nela, que é jovem e bonita. No sonho não consigo ter total certeza de que é isso mesmo, de que ela, apesar de se soliedariezar comigo de forma autêntica por causa da minha oposição a ser formatada, apesar de dizer que tinha feito o mesmo, estava com a tal pantufas Furnella e muito mais.

Agora que estou escrevendo, acho muito que é nesse curioso momento que surge o tal nevoeiro. Aliás, acho que foi assim: a menina se levanta me dizendo isso e nesse momento sendo autenticamente simpática e por ela ter se levantado é que percebo melhor a roupa dela toda de pelinhos, a pantufa é linda e parece mais uma bota de pelos de cano alto. Mas algo se sobrepõe: a menina começa a ser afastar com a colega dela na direção do auditório. Imediatamente minha suspeita se confirma e grito:

– Você vai cantar a música sem mim?

– Sim, me grita ela em resposta, sorrindo, sem a menor vergonha disso.

Então me levanto e começo a gritar:

– Pelo menos fala que a música é minha composição! Fala!

Mas nesse momento há esse nevoeiro. Sei que a menina está totalmente fora de alcance mas continuo gritando:

– Furnella! Furnella! Fala que a música é minha.

Estou com raiva dela, então a chamo pelo apelido justamente do que ela não queria ser, mas por outro lado, ela estava mesmo vestida da cabeça aos pés dessa marca Furnella. Acho que é nesse ponto que surge a Guia Espiritual. Não há frases ditas por ela. Mas ela está ali comigo dentro desse nevoeiro. Parece coisa de conto de fadas. É tudo muito breve e em seguida estou novamente nesse local sentada na mesa redonda e nesse exato momento surge o João, que vem me buscar. O João, acompanhado de outra gordinha amorfa, mas que tem ar eficiente e bom, veio me buscar para minha verdadeira banda, aquela que eu tinha consciência que existia e que já tinha ido para o auditório, mas eu estava encantada com a possibilidade de cantar no grupo das meninas Furnella. Mas a banda do João é a banda a qual eu pertenço. Me levanto e vou com ele, e aqui tem outra simbologia forte mas que não entendo. O João segue apressado rumo ao auditório e essa gordinha eficiente o acompanha. Eu sigo atrás e estou conseguindo seguir junto mas quando o João passar por uma portinha que é caminho para o auditório no subsolo, eu vejo ainda nessa sala onde estamos, encostada na mesma parede da portinha, uma pia de cozinha com a torneira aberta. Aqui é mega interessante. Mesmo não tendo sido eu que abri a torneira, mesmo não sendo minha pia, mesmo não sendo algo de fato perigoso tipo um princípio de incêndio, eu acho e acho mesmo que é minha obrigação fechar a torneira, dado ao fato de que eu sou a única que está notando isso. Fica um repeteco do impasse de escovar os dentes, eu olhando o João sumir pela porta e calculando o tempo que me levaria ir até a pia e fechar a torneira e… tomo felizmente a decisão correta.

– É só água, eu penso. Não tenho obrigação nenhuma não. O pior que pode acontecer é alagar o chão e alguém vai então notar.

E sigo atrás do João. Está difícil, fiquei para trás e ainda por cima passo através de um provador de loja e o tecido é grosso e meu rosto vai de encontro a ele, não vejo nada por instantes, como no nevoeiro, e quase, quase estou perdendo o João de vista. Vejo ele e gordinha quase sumindo no corredor, penso em gritar para ele me esperar mas estou, como na parte da escovação de dentes, sem me dar esse direito.

{10 de outubro de 2023}

IMAGE CREDITS MARIO TESTINO | CARA DELEVIGNE | VOGUE US JUNE 2004

MINHA BANDA NÃO É A BANDA DAS GAROTAS FURNELLA

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