500 REAIS

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{15 de junho de 2025}

Algo em mim ficou impressionado com a veemência com que o Leo King falou sobre esse ser o momento da virada "U Turn" mais radical da vida

Eu tive aquele sonho acurvacomoLeoKing.

Guias, porquê a essa altura do campeonato eu ainda não consigo entender esse batidisisimo sonho, muito menos saber o que fazer com ele ? Porquê não mandam algo que eu consiga entender? Não sou uma boa cantora, sou razoável.

Sonhei a noite inteira diversas coisas, que se desvaneciam assim que eu acordava. Essa ficou. O começo sumiu. Rolavam várias coisas e culminava nisso. Aliás, mesmo não lembrando dos sonhos, sei que não era nada tenebroso, mas todos, todos, envolvendo coisas para eu fazer e resolver.

Eu acordava e pensava: é só um sonho, não tenho que fazer isso.

Então eu saio de uma situação na qual não obtive nada. Nada. Estou sozinha, até que bem mas com uma sensação de algo que dispendeu bastante energia e envolvimento e me deixou de mãos vazias, não no sentido material, mas pessoal. Aquela batidisisima coisa de " eu não tenho nada". Não de ser indigente nem pobre, mas de não ter nada de meu na vida. O que é muito confuso para mim na vida acordada, pois eu não me sinto assim, aparentemente. O sonho é sempre a verdade. Então, tendo saído dessa situação que me deixa com essa familar sensação de ter me envolvido com algo que dispendeu minha energia e não me trouxe nada, nada, vou andando e resolvi entrar num pequeno shopping, tipo desses que tem na Paulista. Estou sem nenhuma intenção e entro ali meio de bobeira. O shopping é também uma passagem para o outro lado do quarteirão e a princípio é o que estou fazendo, indo para o outro lado do quarteirão. Vou caminhando e passo na frente de um bar a direita, não um restaurante, um bar meio desses cm cara de bares do Bixiga, nada de descolado Vila Madalena. O bar tem mesinhas para fora, ou seja, para o corredor do shopping e também tem um microfone e diante dele está um homem que mesmo tendo claramente mais de 50 anos, não consigo descrever como " senhor", por não ser nada senhorial. Tem uma cara branca, mas não envelhecida, poucos cabelos, não é gordo, tem um corpo bem constituído e está de bermuda e camiseta. Tem uma fisionomia bondosa e alegre. Descrevendo assim, teria tudo para parecer o Francisco Dreux mas graças a Deus não parece. Na verdade pensando aqui agora, ele não parece ninguém, mesmo sendo familiar. Quando acordei e fiquei lembrando o sonho na cama, achei que ele parecia o Damasceno, aquele colega do papai que morava perto da Gregório, mas não posso garantir. O Damasceno não tinha um cabelo preto massudo? Esse cara não pareceria mais o Humberto Cordani?

Mas esse homem tem aquela presença intensa que algumas figuras em sonhos tem, como se estivesse grifado com um marcador invisível. Ele está cantando no microfone. Aquele é um bar karaokê, fica logo claro isso. O homem tem um ar muito contente e... está cantando mega bem. Tem uma voz aveludada, consistente, baixa, suave, como a do Frank Sinatra. Eu passo por aquilo e o que penso comigo é que gostaria de cantar. Mas " não dá '. E aqui vem a unica coisa que parece ser uma pista de entendimento. Eu penso isso de que não dá, considero caso encerrado e até sigo em frente mais uns metros . E então paro. Penso:

- Ué, mas porquê não dá? Estou aqui sem nada para fazer. Ali é um karaokê. Não importa se eu não cantar bem. O que tenho a perder?

E então penso a coisa que me faz mesmo mudar de ideia;

- Seria " algo" no meu dia, um dia no qual não tive nada.

Então cantar preencheria isso que, mesmo depois da coisa labutosa na qual eu havia estado envolvida, ainda não estava preenchida.

Volto e vou até o bar tentando entender como é que faz para cantar. Normalmente a gente tem que dar o nome para o cara do bar. Será que tem muita fila? Essa é a unica cousa que me parece ocorrer como obstáculo, se eu tivesse que ficar ali horas aguardando. Mas o bar parece mais para algo micado do que algo bombando, então não acho provável. Vou até o balcão e vejo sim algumas pessoas com cara de estarem esperando na fila, mas poucas

-"Todo mundo quer cantar, eu penso.

A pessoa que fica mais clara nesse grupo de pessoas aguardando é um homem descabelado que parecia um ator brasileiro de novela com cara de um dos 3 patetas, muito feioso mas ótimo ator.

Me dirijo ao homem atrás do balcão preto de madeira, um pouco mais elevado que eu.

-Como faz para cantar?

Ao invés de responder diretamente, ele se põe a fazer um publicitário do seu karaokê.

- Dispomos de excelentes equipamentos, nossa acústica é altamente blá blá, etc.

Aliás lembrei. Eu pergunto assim;

- Tem muita fila para cantar?

Acho que pergunto isso inicialmente, pois essa é minha maior preocupação. Aí o cara não responde o que perguntei, começa seu publi e eu olho ao redor e me parece que mesmo tendo algumas pessoas a espera, como o cara descabelado com ar de coitado, não parecia ser uma longa fila de espera e quanto tempo dura uma música? No que termino de pensar essas coisas, o dono ali do estabelecimento, o que estava desfiando as qualidades do seu karaokê, me empurra sobre o balcão um álbum velho cheio de músicas para escolher. A velhice e a grossura do álbum me passa uma impressão boa, deve ter música antiga e boa para cantar. E é justamente quando eu toco o album e já me preparo para escolher algo, que o homem termina sua preleção da seguinte forma:

- ...e porisso não acho excessivo o valor de 500 reais. Tinha essa frase no filme ontem The Sentinel, que eu parei de assistir por que estava ficando meio bad vibe. A Ava Gardner dizia para a moça que " 400 dólares de aluguel não era excessivo".

Então percebo que todo aquele prólogo do dono do bar era algo que ele recitava para todos os clientes antes de introduzir seu extorsivo preço para cantar no karaokê dele. Como assim, 500 reais? O preço de uma consulta?

Isso enterra qualquer possibilidade. Sem dizer nada me viro e saio. Aqui é dificil de entender. Ontem vi aquele sitio em SFX para vender no insta e pensei: teria que dar todo meu dinheiro. Mas aqui no sonho, 500 reais não é um valor que iria me quebrar, apenas um valor que eu não queria gastar numa coisa que deveria ser muito mais em conta. Muito decepcionada, retomo minha rota rumo ao outro lado do quarteirão e a partir dai tudo começa a degringolar, o que mostra claramente que eu deveria ter pago e cantado. Sim, isso está claro, mas o que isso quer dizer? Vou ter que ir num karaokê?

Vou andando e o que lembro meio emboladamente é que saio do outro lado e vou seguindo ali um caminho conhecido, ainda pensando na questão do canto, quando dou por mim que não estou chegando onde já deveria estar chegando se estivesse no caminho certo. Paro, olho ao redor e realmente, estou numas ruas estranhas.

- Ah, eu estava distraída e virei para o lado errado ali atrás.

Começo a voltar o caminho mas não encontro o tal ponto onde tinha uma bifurcação que eu peguei errado. Ao invés disso me vejo numa outra situação mega hiper recorrente: a de estar num lugar elevado, sem saida mas alto demais para eu pular no chão lá embaixo.

Me vejo numa calçada de largura normal, que tem a esquerda uma fileira de casinhas dessas sem recuo, até ai tudo bem, mas a rua, o asfalto, não está no mesmo nível da calçada e sim a uns 3-5 metros abaixo. Era onde eu deveria estar, o caminho certo. Mas fiquei encurralada nessa borda que está cada vez mais estreita e difícil de percorrer e que ainda por cima é o caminho errado. Nenhuma imagem poderia descrever melhor minhas atuais dúvidas a respeito do meu rumo de vida. Estou no caminho certo? Essa minha perseverança é saudável ou algo que me mantém superando obstáculo após obstáculo de um caminho no qual justamente Deus tenta me mostrar ser o caminho errado, colocando obstáculos?

Não fica colocado porquê eu voltar pelo mesmo caminho que vim não seria solução. Nem me ocorre. A única solução seria pular no chão, de uma altura de no mínimo 4 metros, numa superficie desnivelada com umas arestas e pontas concretadas que poderiam machucar bastante.

Então resolvo ir em frente mais um pouco, mas não cegamente com antes e sim com o intuito de me informar sobre meu paradeiro. Umas casas adiante há uma casinha aberta para a rua como uma garagem, e do tamanho de uma, mesmo. Dentro já uma garota jovem e bonita, acho que costurando numa máquina. Pergunto para ela prá que lado fica Pinheiros. O que ela disser sobre Pinheiros já serve para eu me orientar. Também quero perguntar se tem escadas para descer mais adiante, mas me parece pouca chance.

A menina me olha com simpatia mas acho que essa sequência acaba aqui e me vejo então no banco de trás de um carro em movimento.

Depois de uma vida sonhando que estou dirigindo mas não consigo chegar onde quero, essa variante de estar no banco de trás de um carro em movimento sem motorista é inédita. Penso duas coisas: que o carro é potente e pode me levar onde eu quiser. E segundo, que os arredores parecem familiares. Então me apresso a passar para o banco da frente e tomar o controle do carro. Passo o cinto e acendo o farol pois é noite. Seguro o volante. Olho as placas. O carro me obedece. Pronto. Tomando isso como símbolo, agora parece que estou sim no controle da minha vida. Estou dirigindo bem. Consigo pegar as entradas certas. O lugar parece cada vez mais Pinheiros ou arredores. Estou atenta. Tenho consciência de que costumo me perder, mas dessa vez me sinto capaz e de fato estou mais capaz que de costume e a grande diferença é que o carro me obedece.

Parei num farol, tenho que escolher que via pegar. Estou insegura mas vejo uma placa: Centro. Ia para Pinheiros, mas qualquer lugar conhecido serve. Eu moro no Centro, lembro disso. Vou para o Centro. Adiante outra entrada difícil, como entrar numa marginal. Não tenho 100% certeza de estar no caminho certo mas parece que sim. Alguns carros entram antes de mim na marginal. Eu não me senti segura para fazer o mesmo. Tudo bem. Me coloco a esquerda pensando numa coisa que minha mãe dizia, que "é só ir colocando o carro com calma que uma hora entra". Minha mãe é boa motorista, isso e fato. Procuro fazer o mesmo, vou avançando o carro devagar, forçando os motoristas desviarem um pouco e assim abrindo brecha para eu entrar, mas nisso fui virando a direção cada vez mais para a esquerda e quando vejo...o carro escorregou para a calçada lateral da marginal, tombando pelos degraus de uma pequena escada que tinha na calçada e travando de vez

Não tem como eu sozinha tirar o carro de lá. Teria que chamar um guincho. Então, quando a situação parecia controlada, novamente estou sem nada. Desço do carro. Vou caminhando um pouco e chego na seguinte bizarra coisa. Ali no meio da rua, de noite, pois desde que estava no carro é noite, tem como se fosse uma sala de espera de rodoviária, com fileiras de cadeira de plástico. Todas tomadas. Na fileira da frente ainda tem uns três assentos livres. Vou até lá e sento. Pelo menos descanso um pouco. E então vem a unica, única passagem positiva desse bodeante sonho. Estou ali apenas dando um tempo. Então vejo bem próximo, vindo na minha direção, uma mulher que eu conhecia no sonho e sua filha. Acho que no sonho não conhecia a filha, apenas a mulher. Seria uma mulher de uns 55 anos, com ar nordestino, que seria ligada a coisas de vidência, talvez uma tarologa. Está ela e sua filha, as duas totalmente de branco. Penso comigo:

- Por causa desse lance delas, elas tem que usar só branco.

Esse "lance delas" seria a vidência, que era como que parte da religião que elas praticavam.

A mulher vem toda simpática na minha direção, já me reconhecendo e sorrindo me dizendo assim:

- Aprendi umas novas técnicas de cura.

Ela não estava me oferecendo seus serviços apenas compartilhando que sua vida tinha melhorado bastante com essa sua nova técnica de cura. A mulher se senta ao meu lado esquerdo. Estou contente de vê -la, mas imediatamente ela se levanta e vai ali na frente fazer sei lá o que. Penso de maneira vaga que encontrar alguém que eu conheço melhora bastante minha situação. No que estou pensando isso, uma mulher de cabelo escuro escorrido se senta ali no lugar vago. Essa mulher parece eu mesma, assim de figura.

Digo a ela:

- Desculpa, esse lugar está ocupado.

E grito chamando a senhora minha amiga para que volte e ocupe seu assento antes que tomem dela. Minha amiga me acena mas ainda fica ali, a uns 5 metros de distância, comprando algo para comer num carrinho, parece. E então a filha dela é que toma o papel principal da cena. A filha dela tinha estado de pé na minha frente, aguardando a mãe retornar para sentar e quando me vê defendendo o assento da mãe, passa a me olhar.

Essa moça é uma figura altamente positiva. Era jovem, viçosa, bonita sem ser nível modelo, com um farto cabelo negro escorrido e o que mais me chama atenção, um lindo vestido. Apesar disso de ter que obrigatoriamente sempre estar de branco ter fundo religioso, o vestido era lindo, sensual e feminino. Era justo sem ser colado, o que valorizava o corpo bem modelado da moça, de manga comprida e de renda, que nem esse vestido rosa de renda que tenho. A moça tinha uma boa relação com a mãe e era praticante dessa religião por escolha própria, não estava sendo forçada. Ele vem se sentar ao meu lado direito. Então eu mais que depressa aproveito para perguntar:

- Escuta, que bairro é esse que estamos?

A moça me olha profundamente. É inteligente e boa, dá prá notar. Aguardo com expectativa sua resposta. Finalmente vou conseguir ter uma idéia do que está acontecendo comigo.

Mas o sonho encerra nisso.

Guias, duas ou mais horas escrevendo esse sonho. Essa moça é meu futuro. Que eu seja ela.

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