{3 de dezembro}
De manhã, de tarde e de noite obcecada por essa loja e poucos sonhos sobre isso. Esse com certeza.
Estou numa praia. Não rinha me ocorrido que o sonho, dentre tantos cenários que poderia escolher para esse mesmo enredo, tenha justamente usado um dos meus símbolos máximos de paraíso, a Praia.
Estou de biquini e carrego um desses mini freezers a tiracolo pois, assim como outra garota, vendendo sorvetes na praia.
No primeiro momento do sonho, já estávamos fazendo isso juntas e eu estava ok, mas no que o sonho inicia, a menina está me dizendo para nos separarnos, aliás, ela não chega a dizer nada, mas por iniciativa dela, vamos cada uma para lados opostos da praia. E com isso me vejo obrigada a me confrontar com duas questões minhas que até então, na companhia dela, não estavam me pesando. Primeiro, eu acho que meu picolé não é bom. Chamo de picolé porque não era sorvete de massa, eram picolés mesmo. Não acho meu picolé ótimo. Acho mais ou menos. Não é ruim. Mas o da garota é muito gostoso, gostoso de verdade. Então fico ali meio constrangida de estar vendendo algo que não acho a melhor coisa. Vou caminhando pela areia e não sei se em decorrência disso, eu ofereço o picolé para as pessoas sem dizer uma palavra, apenas mostro ali o meu picolé, porque, mais esse símbolo, eu estou chupando um picolé de limão e não estou achando ruim, então isso de achar o picolé mais ou menos talvez se limite ao que eu acho que ele é para as outras pessoas. Por exemplo, gosto muito da comida que faço, mas não creio que outras pessoas iriam gostar, e isso não é nada ligado a baixa auto estima, essas coisas, é bom senso, as pessoas estão acostumadas com fritura, molho, não tem como gostar.
Então vou oferecendo mudamente meus picolés até que outra coisa me ocorre e me perturba mais ainda. E se eu der com algum conhecido? O que vai pensar de mim, vendendo picolé na praia? Eu ficaria com muita vergonha. E por causa disso começo a hesitar em caminhar adiante na praia.
Pensando aqui comigo, eu tenho essas duas questões em relação a loja. Primeiro, acho sim que mesmo gostando muito das coisas que crio, tanto que é o que uso na minha própria casa, acho que é muito longe do que i público em geral, que é condicionado por trends e Pinterest, está ja meio preparado para gostar. E tenho um pouco de vergonha sim, ainda mais quando começa a ficar com cara de bazar mesmo. Então o que o sonho mostra não chega a ser uma revelação. Mas o que me intriga é: esses sentimentos não muito positivos afetam minhas chances de vender?
IMAGE CREDITS VITO FERNICOLA | AYLAH PETERSON | D LA REPUBBLICA JUNE 2022