MANOELA

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{20 de junho de 2025}

Espero que eu lembre de tudo.

A Lú está na grande cozinha, quase uma cozinha de restaurante, não estamos numa casa e sim em uma edificação pública, como um hotel ou coisa parecida. De lá ela me grita com uma voz sentida que eu fui bruta com ela e disse uma coisa lá que ela repete. No sonho essa frase que eu teria dito era mesmo algo muito agressivo e ficava super clara o que seria, mas agora não lembro. Só que... Eu não havia dito nada daquilo. Já tive sonhos em que eu maltratava a Lú e era até cruel com ela. Acredito que isso possa ser simbólico, pois não acho que tenha feito isso com a minha irmã da vida acordada. Mas ao que tudo indica, já houve progresso, pois dessa vez eu realmente nem tinha pronunciado aquelas palavras. Essa declaração dela meio que esclarece um impasse, pois eu não estava entendendo porquê ela estava brava comigo. Então mais que de depressa vou até a cozinha.

A Lú está ali muito como na vida acordada, mas com aquele casaco xadrez de lenhador que eu não gostava, acho que o marrom, pois tinha um azul, um amarelo e preto e um marrom, e ela está muito magra. Esquálida, quase.

Eu digo:

-Eu não disse nada disso!

- Mas pensou, ela responde.

Acho que nem pensar eu pensei, mas isso é o de menos. Com ou sem razão ela acreditava que eu achava coisas ruins dela.

Eu a abraço e digo:

- Eu te amo

- Eu também, ela responde

E nisso ela me pergunta sobre uma atividade meio dm andamento meu. Eu estava mesmo querendo contar para ela e me preparo para falar, é bastante coisa. Só que nisso ela começa a conversar com um amigo japonês dela que estava ali, que lembrava o Cláudio, um amigo japonês que eu tinha. Parece ter esquecido que eu estava ali. Aí sou eu que fico exageradamente brava. Me viro e saio.

- Ué, você não ia me cobrar a sua história?

- Depois eu conto, continuem ai conversando entre si, eu respondo já longe

No sonho tenho noção de que estou brava acima do que seria caso, mas não mudo de idéia. Resolvo fazer uma coisa que até era algo que eu tinha mesmo que fazer que seria tirar as coisas da minha mãe do andar de cima ou de baixo, mas um outro andar, e trazer a louça suja desse mesmo lugar para a Lú lavar pois era o que ela estava fazendo na cozinha, lavando louça.

Chego nesse outro andar. O andar ou a sala estão no momento sendo ocupados por uma festa infantil. Há muitas mães e pais com seus filhos pequenos. As coisas da minha família, os pertences, e as louças usadas ainda estavam lá. Entro no local, passo por entre as pessoas festivas e já pego uma pequena pilha de louça mas então acho que é mais caso de antes de tudo e qualquer coisa tirar as jóias da minha mãe de lá. Um pouquinho antes disso, uma menininha de uns 10 anos, se for pensar, bastante parecida comigo quando era criança, faz amizade comigo e começa a me ajudar. Eu não sei o nome dela, mas de brincadeira começo a chamá-la de Manoela. Um dos nomes que eu fantasiava ter quando era criança era Michaela. Terá ligação?

Essa menina vira uma pequena ajudante munha.

Eu estou perfeitamente ciente de que seu nome não é Manoela, eu inventei esse nome, ela responde a ele e é uma espécie de brincadeira entre nós. Essa menina seria filha de alguma família presente nessa festa mas tinha achado mais divertido ficar comigo. Ela de uma forma que não fica muito clara, é um consolo ali naquela tarefa de reunir as coisas da minha familia e tirar de lá, coisa que nem era pesado pelo lado prático como não tinha nada me obstruindo ali, pelo contrário, eu estava impressionada com o quanto aquelas pessoas ricas nem tinham tocado no que não lhe pertencia, que continuava no mesmissimo lugar, inclusive as jóias da minha mãe. No que vejo as jóias, acho que seria para elas que devo dar prioridade e coloco a pilha de louças de lado. As jóias estão sobre os móveis da cômoda, exatamente como eram deixadas quando não tinhamos nenhum estranho circulando por ali. É mesmo muito impressionante a educação dessas famílias, crianças inclusive. Entre as jóias se destaca um par de brincos de ouro em formato de concha. Não existem na vida real. Vou juntando tudo na mão por que não vim preparada para isso mas então vejo aonde tem mais urgência de eu recolher: sobre uma folha meio plástica que parecia um poster, do tamanho de um metro de largura por um e meio, estendida no chão, um plastificado meio em tons de azul, estavam espalhadas jóias , gemas do tamanho de strass pequenos, mas eram gemas preciosas, de cores variadas. Começo a catar tudo com paciência, é quase um milagre que essas minúsculas e valiosas jóias ainda estejam ali, em meio a aquela movimentação de crianças, praticamente como haviam sido deixadas. Junto tudo na concha da mão, pensando em tudo que seria ótimo eu ter trazido para colocar aquelas minúsculas pedrinhas dentro mas não trouxera. O ideal, penso, seria um daqueles frascos tubulares de vitamina C efervescente, pequeno e com uma tampa super hermética. E nisso Manoela tinha ido para trás da coluna falar com a mãe dela. Ela ficava indo e voltando entre eu e a mãe dela. Mas dessa vez não estava voltando.

- Manoela! eu chamo.

Ela me responde rindo do lado de lá da coluna. Mas não volta. Não largo um instante meu trabalho de juntar as jóias. Me considero uma sortuda por ainda estarem ali

E nisso se aproxima um menininho de uns 5 anos, com todo ar de anjinho encapetado. Fica ali de pé me olhando, enquanto eu estou agachada sobre o tal oleado, existe essa palavra, catando as jóias e logo sinto sinal de perigo. O menino se agacha no chão, meio me imitando, virando o bumbum para mim, começa, em rom de brincadeira, ameaçar e mesmo começar a se deslocar de gatinhas ali para cima do oleado. Não está fazendo de maldade, é uma criança brincando. Mas se ele vier ali para a parte do oleado, coisa que pode acontecer em um piscar de olhos, as crianças são imprevisíveis, será um desastre, pois seu corpinho vai espalhar as pedrinhas que estou tendo tanto cuidado para juntar, fora as que vão grudar nele. Então com uma das mãos fico fazendo uma barreira para manter o menino fora do oleado, curiosamente a mão direita, enquanto com a outra continuo catando e juntando as pedrinhas na mesma mão, com duas mãos já estava no limite, com uma só, quase impossível, fora que um esbarrão qualquer pode despejar tudo no chão.

Começo, com s mão direita, dar uns beliscões de brincadeira no bumbum do menino. Praticamente parei de pegar as jóias. Desde esse momento começo a chamar pela Manoela, mas num tom meio alto e bravo. É muito forte no sonho isso de eu chamar por ela de um jeito até meio bruto, penso comigo que se alguém me escuta, deve achar que sou uma tirana e judio da menina. Mesmo assim não consigo alterar meu tom, parece quase independente da minha vontade. Outra coisa que não consigo entender porquê estou fazendo e acho que não deveria estar fazendo mas não paro de fazer é dar beliscõezinhos no bumbum do menino. O menino não precisa de mais foguetice e se eu fico ali dando corda nele, aí que ele não vai embora mesmo

Tudo isso são símbolos, creio, de dinâmicas que se desenrolam dentro de mim

Manoela não vem, por mais que eu chame, e eu sinto um vazio em resposta ao meu chamado, como se ela não estivesse mais lá. Parei de catar as jóias e estou totalmente focada em afastar o menino e por um instante parece que consigo, pois em seguida posso voltar a dar atenção total a elas e então... não estão mais lá. Não tem joia nenhuma sobre o oleado, nem na minha mão, que está vazia, acho que havia deixado as jóias e pedrinhas já catadas num montinho para tentar resolver de vez s questão do menino. Não tem mais nada. Nada. Como pode ter sido isso? Teriam sido roubadas? Mas não tinham sido roubadas até então. Mas não tem mais nada alu, mais nada.

Que droga guias, que isso não signifique tipo Plano Collor, nesse painel de ameaças em que estamos.

Teve outro pedaço que lembrei. Acho que depois dessa separação com a Lú, uma figura feminina com ar de entidade me fala e meio que me oferece um imóvel, não seria apenas um terreno, na Faria Lima, ali na altura do Clube Pinheiros, pelo valor de 135 mil. Incrível, eu penso. Super dá. Mesmo assim fico pensando em perguntar se ela não teria outro igual uns quarteirões voltando na direção do largo da batata, do lado da rua do Shopping Iguatemi, mesmo,pois seria mais perto de um parque que tinha ali e que eu adorava.

MANOELA

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