{24 de fevereiro de 2025}
Nebuloso, pesado e escuro.
Ando para lá e para cá na situação da minha vida, sempre dando de quina com o quanto nada tenho de meu. Me sinto anulada. Tem minha mãe em cena como uma figura opressora. Não sei se esqueci ou se a cena era exatamente isso, apenas essa sensação de estar anulada e incapaz de tudo. Muito triste e coitada. Então vou fazer a única coisa que me despertava interesse, mesmo sendo algo que assim como tudo, caía na mesma categoria de " fora de alcance ". Eu havia anteriormente ido visitar uma casa que estava para alugar, mas havia sido uma visita rápida. Resolvo ir novamente, mais por curiosidade de conhecer a casa do que considerar isso uma opção viável. Era uma dessas casa com cara dessas casas da Arthur de Azevedo, que tem fachada na rua. Entro na casa e logo em seguida ao primeiro cômodo já avista a cozinha. A cozinha não tem janela nem porta para os fundos e é meio amarelada. Na visita anterior isso havia sido tudo que eu havia visto da casa e de certa forma, eu estava confusa sobre porque havia ficado meio fascinada com uma casa que na real não passava disso. E nesse ponto estou na cozinha, meio olhando ao redor e pensando:"- Bem, a casa é isso. "
Quando ocorre o seguinte louco desdobramento. Sem nem me esforçar muito, eu fantasio que tem uma porta no fundo da cozinha e de repente tem mesmo. Vou pela porta enquanto penso desanimada que se eu mesma criei aquela poeta com minha fantasia, ela não tem o mesmo valor que uma porta que já estivesse ali independente de mim. A porta leva ao que eu fantasio que ela leva, um jardim dos fundos. Vou pelo jardim, que se abre num bom pedaço de jardim bem maior, por exemplo, que o que tinha no galpão do Ipiranga. Agora estou bem desanimada mesmo, pensando no quanto isso está fora do meu alcance. Penso exatamente assim:
-Se ao menos eu tivesse um jardinzinho por pequeno que fosse, onde eu pudesse plantar, mesmo que demorasse, e seria o meu, o meu Jardim do Éden particular.
Estou muito triste mesmo. E então nesse jardim tem uma parte coberta, como um gazebo, e nela está sendo dada uma reunião festiva. Vou até lá e logo percebo quem é a dona da casa, uma mulher morena de rosto claro, na verdade uma mulher muito parecida comigo. Junto dela está uma amiga dela que é muito mais comunicativa que a dona em si. Nem sei porquê quero falar com ela. Não tem chance de eu ter aquela casa e mesmo que tivesse, nem sei se queria fazer meu Jardim do Éden em SP. Mas quero estender ao máximo essa situação na qual havia, pelo menos, coisas que eu gostava. Pergunto para a mulher morena se o jardim estava incluso no aluguel. Fica meio confuso se a cozinha que estava para alugar faria ou nao parte da propriedade da mulher. Aqui é uma interação muito louca, pois 90% do que ela fala é inaudível, e ainda por cima ela fala virando o rosto para o outro lado. Eu pergunto sobre o jardim, mesmo sem esperança nenhuma, e quem responde alto e claro é a amiga, até que me olhando com ar reprovatório, a mulher morena me encara e diz:
- Você quer passar o resto da vida numa cozinha?
A frase não faz sentido nenhum na realidade acordada, mas no sonho seria algo contra minha idéia de alugar a casa.
Eu ainda insisto um pouco, poi acho que tem chance de, me esforçando, entender outras coisas que a mulher morena fala mas então percebo que não tem. Ela murmura super enrolado. Não tem como eu entender mesmo.
IMAGE CREDITS MERT & MARCUS | ANJA RUBIK + JOAN SMALLS | VOGUE ITALIA DECEMBER 2017