{29 de março de 2020}
Apenas porquê é divertido anotar os sonhos,sempre.
Esse rapaz teria assim uns 30 anos e é muito familiar nos meus sonhos, é “ o rapaz que lembra o Fábio Trigo ”. Um colega do Porto Seguro acho, com que sonhei bastante. Tem uns cabelos puxados para o ruivo, ou loiro, acho que no que acordei pensei nele como loiro. O Fábio Trigo que era meio ruivo.
Não é especialmente bonito mas é bem atraente e tem uma vitalidade forte, mais que isso até, tem uma aura muito magnética.
Não estou falando de carisma, essas besteiras. Aliás o rapaz é bem na dele. O que quero dizer é que ele irradia algo.
Estou apaixonada, claro.
O que estamos fazendo juntos nos coloca em contato meio que direto.
Ele está organizando uma atividade coletiva de teor musical.
Ficamos indo de lá para cá e muitas vezes estamos próximos, ele vem falar comigo muitas vezes, mesmo que seu semblante apático na minha direção jamais se altere. No começo estou achando que é a pressão ali da sua atividade que faz com que ele sempre esteja pensando em outra coisa.
Depois vou mudando de idéia.
No que estamos próximos eu toco nele muitas vezes. Estou sob a crença de que tem algo rolando entre nós, até que uma frieza de raciocínio prevalece e eu começo a constatar que sou sempre eu que toco nele, ele nunca toca em mim.
Sempre mantém aquele olhar de quem está interessado em outra coisa, o que acaba sendo um olhar de desinteresse. Então páro de tocar nele.
Então tem a seguinte cena.
Ele arrumou um palco e lotou uma plateia.
E então tem uma pequena banda no palco e ele chama um cara da plateia para cantar ali com eles.
O cara é humilde e fica muito emocionado e feliz de poder cantar e aquela era a tal atividade coletiva, criar essa oportunidade para todos.
Fico achando que o cara é um gênio e reforçando aquela impressão que eu tinha de que ele era muito especial.
Em paralelo fico com a esperança de que eu também seja chamada ao palco, mas ao mesmo tempo me parece bem pouco provável, pois eu estava ali como assistente dele, isso nem teria sentido.
E nesse momento rola a seguinte cena bizarra.
Eu me sentei na lateral ali do palco em cima de umas muradas estreitas de concreto.
Justamente por ser da equipe, não deveria ocupar uma das poltronas que poderiam ser ocupadas pela platéia.
A Pat,q ue está comigo e é uma mistura física da Pat comigo, não consegue alcançar essa muradinha onde estou por ser mais baixinha que eu.
Não sei o que eu digo.
Mas antes que eu precise fazer algo, ela mesma resolveu o problema não sei como e conseguiu se alçar a uma murada a mais alta ali, tipo uns 3 metros do chão. Fico pensando comigo que me daria aflição ficar sentada tão alto.
Então acho que quanto o show encerra a Pat pula lá de cima e de fato fica meio esborrachada no chão.Esse é o problema de se sentar tão alto, como sair de lá depois? Só pulando.
Fico olhando apreensiva mas novamente, antes que tenha sido configurada uma situação trágica, a Pat se levanta e sai normalmente.
Tão normalmente que a pergunta que faço me parece dispensável até:
– Tá tudo bem com você?
– Sim, ela responde.
E então fico amargando minha falta de reciprocidade no amor.
Tem outra cena muito bizarra.
Eu e esse rapaz entramos juntos no que seria um elevador na forma de um daqueles gira-gira de criança.
Então entra um monte de gente e ficamos eu e o rapaz espremidos um contra o outro, mas... ele se transformou numa criança e então a cabeça dele vai de encontro a minha barriga.
Eu fico pensando que pelo menos aquele momento poderia ter forçado um contato íntimo entre eu e ele, coisa que estava disposta a aceitar mesmo sabendo que da parte dele seria forçado.
É uma bizarra cena pois por um lado estou meio que perdida numa espécie de autocomiseração e por outro, sinto que o fato do rapaz ter virado uma criança mostra algo sobre ele que destoa daquele encantamento todo no qual eu vinha vindo.
Mas esse elevador logo chega a seu destino e nos apartamos.
Seguimos meio que juntos até uma sala meio sombria e estou tão dilacerada de amor que tenho a impressão de que o sentimento é quase concreto e impossível que ele não esteja vendo.
Então outra cena bizarra. O rapaz me olha, mas... a partir daí sou eu que estou fantasiando.
Eu fantasio que ele me olha e me diz, com um olhar dessa vez menos apático:
– Eu sinto sua tristeza, Silvia.
Mas sou eu, sou eu, sou eu que fantasio essa cena.
Então acho que o rapaz some do sonho... não, lembrei melhor.
Estamos indo juntos para um tal objetivo.
No caminho dou com minha mãe e irmã que a princípio devem ir junto.
Minha mãe e minha irmã estão dizendo coisas nada a ver e me enchendo um pouco. Nada de muito drástico.
E nesse momento surge a cena mais positiva de todas desse sonho.
Estamos passando ali pelo que seria a casa da Gregório.
Ou melhor dizendo, uma versão loft da casa da Gregório.
E eu reparo o quanto está linda.
O chão é de uma madeira bonita e belos e bons móveis estão ali dispostos numa organização até bem similar com a sala da Gregório, mas mais legal.
Fico observando aquilo como se esperasse que num contexto tão depressivo, a casa fosse também depressiva e percebendo com prazer que estava redondamente enganada. A casa era bela, chique e rica.
Seria a casa da minha mãe.
Então seguimos mas minha mãe e minha irmã estão tão chatas que o cara já seguiu em frente e eu não o vejo mais.
– Vamos indo ou ele vai achar que não vamos mais e nos deixar aqui, ele já sumiur de vista.
– Sumiu nada, estou vendo ele ali na entrada fazendo um trabalho, diz a minha irmã.
Ali de onde estamos consigo ver a saída desse lugar para a rua e bem na calçada está um rapaz que ao que parece, passa palhinha numa cadeira.
Vou até lá esperançosa de que seja o tal rapaz mas no que me aproximo vejo que não, era um rapaz que de longe poderia ser confundido com o outro mas não era.
Nisso minha irmã vejo meio que junto e eu digo, brava:
– Não é ele, tá vendo, eu falei que ele iria embora.
Sim, ele foi embora.Mas numa sutil mas intensa sensação, do mesmo tom do lance da sala ou da casa bela que destoava desse contexto deprê todo, a rua tem o mesmo aspecto destoante.
Está cheia de um movimento fervilhante, a rua em si tem umas paredes terrosas com ar de feira árabe. Tudo meio avermelhado.
Quente. Cheio de vida. Meio como a rua de Cartagena que fecha o longa do Os Vivos. Caminho um pouco pela rua e me sinto estanhamente fascinada.
IMAGE CREDITS STEVEN MEISEL | CAROLINE TRENTINI