O AUSTRALIANO

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5min de leitura

{18 de junho de 2010}

Esse sonho foi o primeiro que ecoa essas novas coisas que estou fazendo da lojinha e que tem me feito me sentir bem e diferente.

Na verdade tem sido tão legal para mim fazer as coisas da lojinha que esperava mais sonhos sobre isso. e não sei se esse é exatamente sobre isso, me pareceu.

No começo estou uma eu muito parecida com a antiga eu, meio brava, fazendo coisas de trabalho, sem perceber que estou brava. Estou tendo que lidar com um rapaz, que no sonho tem uma ligação remota com a Revista Nova, mais ou menos isso. No começo estou bem distraída como sempre, sem me interessar o mínimo que seja por nada daquilo, e não são coisas que me interessem mesmo, mas então, mesmo do meu alheamento, começo a perceber que esse rapaz tem algo de estranho, não que seja no mal sentido. Nos trâmites de trabalho, ele nunca dá o retorno que se espera, ou seja, o retorno profissional de praxe. É meio difícil de explicar isso. È tipo assim, eu mando a ilustração para ele aprovar, completamente entediada, e ele, ao invés de aprovar, ou desaprovar, começa a pintar em cima. No sonho minhas ilustras são em papel, não arquivos digitais. Ele joga umas cores fortes, vermelho, verde, mas há uma tonação especial, o vermelho é meio goiaba, o verde é meio esmeralda, de uma tinta meio arenosa. Eu estou noutra rota mental, registro isso das cores sem dar importância nenhuma, apenas fico meio desconcertada com a reação dele. Não é algo que chegue a me prejudicar, eu cumpri minha função, se ele, ao invés de cumprir a dele, prefere ficar nessas atividades improdutivas de pintar coisas, eu não tenho nada com isso. Isso é o que eu penso, meio sem ter consciência, porque esses pensamentos estão tão embutidos em mim, são tão integrantes do meu jeito de ser, que nem preciso pensá-los. Apenas fico de sobreaviso já sabendo que esse rapaz tem reações inusitadas, mas como eu disse, desde que não prejudique meus interesses, tudo bem. 

Então começa a acontecer assim: aos poucos, vou me envolvendo. Começa a me chamar a atenção que as pinturas que ele faz sobre os meus desenhos e também sobre as coisas que eu entrego para ele, coisas úteis, tipo umas caixas de cartolina, e tudo ele transforma com suas pinturas, começo a notar que essas pinturas são lindas. Ele joga com as cores de um jeito tão original e surpreendente, eu nunca sei o que ele vai produzir e o que ele produz sempre me surpreende e a palavra melhor de todas no caso: transforma.

Ele transforma aqueles procedimentos completamente mortos em que eu estava, ele é um transformador, eu venho com uma atitude, normalmente chata, triste, pesada, derrotada e ele transforma em algo belo, vivo, inusitado. E eu começo a achar legal o comportamento dele, que antes eu via como algo inútil que não leva a nada.

Então vem a revelação: estou no telefone com ele, como se estivesse falando com alguém da Revista Nova, mesmo, sobre ilustrações, e ele diz:

– E que eu sou australiano.

Aquilo faz um enorme sentido na minha cabeça. De repente tudo se encaixa. Eu digo, toda animada:

– Mas agora tá tudo explicado. Você tem uma vibração completamente diferente de qualquer uma que eu conheça, você nunca, você nunca ( e nesse pedaço estou no auge da empolgação, como se estivesse reencontrando um irmão perdido ) poderia ser brasileiro, nem americano!

Depois dessa conversa, percebo que sem perceber me apaixonei por ele, e sou correspondida. De repente ele está em minha casa e eu sou outra. Estou com um vestido meio alternativo, desses com cara de vintage, mas não do tipo que eu acho meio ridículo, mas um vestido de florzinha, todo delicado e natural. Há uma menina que corre pela sala, que parece também sala de uma dessas casas vintage, de chão de tábuas brancas e poucos móveis. Dá a impressão que a menina é minha filha, não sei se com ele, ou não. Eu me sinto diferente. Tenho a impressão que qualquer coisa que eu faça, qualquer coisa que eu seja, é enxergada de uma forma diferente do que eu estou acostumada, por aquele cara. Isso fica martelando na minha cabeça, tenho vontade de dizer para ele o tempo todo: você é tão diferente.

Estamos juntos e ele está ao meu lado, sorrindo, e tem uma hora eu sento para fazer xixi no vaso sanitário que está no meio da sala e me pego fazendo aquilo na frente dele, mas logo penso que mesmo aquilo seria enxergado por ele de um jeito diferente do que eu espero, um jeito que eu não sei qual será, mas que eu desejo descobrir,e isso não é algo limitado ao xixi, claro que não, isso é o sentimento que eu tenho por ele, desejo descobrir tudo o que vem dele.

E não sei porque não falei antes da aparência física. No sonho, principalmente nessa hora em que estamos na casa, eu o olho com uma intensidade enorme, como se buscasse reconhecer algo nele, como se esperasse descobrir que ele me lembra alguém que eu conheço. Mas ele não lembra ninguém que eu conheça, nem no sonho, nem na vida real. Ele não é muito alto, só um pouco mais que eu. Não chega a ser um tipo musculoso, mas não é magrinho e frágil. Tem um rosto claramente de traços estrangeiros, que não se classifica nem como feio nem como bonito, mas masculino. Na vida real seria mais jovem que eu, porque aparenta uns 30 e pouco. Mas ele e au aparentamos a mesma idade.

E tem um cabelo que na vida real iria me incomodar muito, mas até isso estou aceitando: é um pouco comprido. Bom, o Orlando Bloom no cruzadas tem um cabelo meio comprido, e estava lindo. O dele é um pouco mais no estilo “ artista ”, um pouco mais comprido que o do Orlando, meio aloirado, e meio junto da cabeça, mais fino que o do Orlando. Agora escrevendo me lembrou um pouco o cabelo do André Negrão, antes dele cortar. E me lembrou a descrição que minha mãe fez de um cara que ela sonhou, que aparecia num sonho carregando caixa para mim, e me fazia feliz, e que usava bermuda e um cabelo “ meio Chanel ”, foi o que ela disse. O cabelo desse cara é meio Chanel. Mesmo no sonho, ainda não gosto daquele cabelo, mas não me incomoda, porque o cara é tão autêntico, tão despretencioso, que aceito o cabelo, que normalmente para mim está associado com caras afetados e vaidosos. Tudo o que ele não é.

 Só mais um comentário que me ocorreu depois. Acho que no fundo dessa minha necessidade de ficar olhando para ele, e desse meu impulso de dizer a ele o quanto ele era diferente, o que eu queria dizer, mas nem sabia, é que ele era muito diferente do que eu imaginava que seria o homem que viria para ficar comigo.

Porque no sonho é isso que ele é, se bem que surja de forma totalmente desapercebida.

Mais uma coisa que senti vontade de escrever depois. No sonho não é como se ele fosse um artista, apesar de eu ficar bem fascinada pelas pinturas que ele produzia. Mas como se tudo aquilo fosse um símbolo. As pinturas, as cores, só simbolizassem o poder de transformação dele.

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