{11 de fevereiro de 2017|
Fico o tempo todo, o tempo todo lidando com situações sexuais enroscadas.
Me deixei filmar num ménage a troi bastante escandaloso que rolou no meu quarto da Gassipós, com dois homens e estou apavorada do vídeo se tornar público. Enquanto me preocupo, durmo num quarto que tem dois colchões no chão onde dormimos eu e minha irmã e estou com vontade de ficar sozinha ,mas tudo é muito atrapalhado, o quarto está uma zona absurda, pilhas de roupas por toda parte e a parte mais bagunçada é a minha, claro.
Mas consigo deitar na minha própria cama de tão embolada que está de lençóis e roupas que não guardei. Tem uma hora que deito na cama da minha irmã, que está relativamente arrumada, mas não posso fazer o que quero fazer ali, então tenho que voltar para a minha cama, e apesar de não ter o usual problema de pessoas entrando no quarto, me acho impedida de fazer o que quero.
Depois de não resolver nenhum desses problemas, vou para o compromisso que tinha já. Entro numa sala onde já estão todos os participantes dessa espécie de workshop do qual faço parte e que se aproxima do estágio final.
Todo mundo está às voltas com as suas produções e me dirijo a minha parceira, que está sentada no chão.
Essa garota é pequena, quase no limite de ser uma anã. Tipo aquela Renatinha que era minha colega no Porto.
A figura dessa menina está tão nítida que parece alguém da vida real, mas não é.
Lembro vagamente da Renatinha com cabelos mais para o curto, cacheado e num tom não muito escuro.
Essa menina tem a pele meio jambo, ( sempre esse tom de pele! )e cabelos super lisos, repartidos no meio, abaixo dos ombros, nesse tipo de corte meio triangular cheio de pontas bem comum em cabelos super lisos. Cabelo escuro, quase preto.
Ela tem um ar moderno de garota de shopping, do tipo que se veste dentro das tendências da moda, mas sem exageros.
Está sentada rodeadas das coisas que fez para a atividade final do workshop.
E é um conjunto de uns 4 puffes, ainda não enchidos, mas totalmente costurados, só falta encher.
Os puffes são todos em formato de cubo, de um tecido como uma tapeçaria fina, todos em tons predominantemente cinza, mas com uns motivos geométricos meio estilo navajo.
Não chega a ser algo que me deslumbre, mas são mega legais, estão super bem feitos e pode ser sim que num esquema geral de decoração fossem o ideal.
O que quero dizer é que não vejo nada de desabonador neles.
Tem algo sobre o tamanho. Três dos puffes são mais ou menos de uns 50 cm quadrados, mas um deles é gigante, um quadrado de um metro e meio talvez.
Como cheguei super em cima, me concentro em ver como posso ser eficiente ali e essas observações estéticas sobre os puffes, como não são de utilidade prática, vou tendo meio em paralelo.
O que penso imediatamente é:
– Ok, minha parceira está com a produção dela super encaminhada .Esse problema não terei. Tenho uns dias ainda e devo então fazer a minha parte da produção em puffes.
Porquê o fato é que até aquele momento não tinha feito nada-lá-lá.
Não me parecia ser culpa minha. Não houve um momento em que eu estive àtoa, pensando “ bom, eu poderia estar fazendo puffes mas não estou a fim” .
Estive totalmente enrolada o tempo todo.
No que chego ali não estou tendo crises por causa do meu desempenho e nos instantes iniciais traço um plano de ação o mais eficiente possível o qual pretendo seguir, mas uma vez terminado esse pensamento, que basicamente se resumia em ” é melhor usar o pouco de tempo que ainda tenho para fazer minha parte de puffes ”, começa a me incomodar mais e mais a capacidade produtiva da menina. E não de um jeito ruim,invejoso. De um jeito em que a capacidade dela me parecia tão absurdamente superior, que eu começava a achar que ou eu tinha algum problema, ou ela era um fenômeno nesse sentido. Não sabia qual das duas hipóteses era a verdade.
Primeiro estava ela ali com aqueles 4 puffes praticamente prontos, faltava só encher, o que é fácil, e fechar. Os puffes estão no avesso e eu fico olhando aquelas costuras caprichadas, feitas à máquina, e pensando no tempo enorme que eu levaria para fazer o mesmo. Como pode ser tão simples para ela?
Ao mesmo tempo estamos conversando sobre nosso trabalho, como apresentar, etc, pois somos parceiras. Ela não demonstra nenhum ressentimento sobre a minha falta de produção. Ela é do tipo totalmente dedicada a sua tarefa, super concetrada, não sobrando energia nem vontade para ficar em pensamentos de futricas. E algo mais, ela estava realizada no que estava fazendo. Então futricas não interessavam.
Na conversa ela menciona que depois que aprendeu, fez um puffe por dia.
Um puffe por dia! Metade do meu pensamento ainda está meio indo reto nisso que de agora vou me dedicar a produzir e se ela consegue um puffe por dia, deve ser possível, mas outra parte da minha mente, menor, já começa a se manifestar no sentido de que existe uma diferença enorme, além da minha compreensão, entre a capacidade produtiva da minha parceira e a minha.
Eu nunca jamais vou conseguir produzir um puffe por dia. O mais provável, me conhecendo como conheço, é que nos dias que restam eu não consiga completar nem mesmo um único puffe.
Então outros comentários da menina revelam que ela não só costurou os puffes, como o tecido foi todo feito por ela em tear.
A partir daí desaba de vez aquela naturalidade que ainda persistia em mim em relação ao que essa menina era capaz de fazer.
Como assim, todo esse tecido foi feito por ela? Durante o tempo do workshop?
Parece que era isso que era havia dito antes, como se a parte de tear tivesse sido a mais complicada, mas depois do tecido todo pronto, ela havia feito um puffe por dia.
Pego o tecido e fico olhando, enquanto minha parceira troca idéia com os outros participantes do workshop.
Fico observando os padrões meio navajo, realizados com um bom acabamento.
Ela fez tudo isso?
Mesmo sem ter um momento super consciente a respeito, já abandonei a idéia de usar o tempo que me resta para fazer puffes, Estava numa mentalidade meio automática de que se ela conseguiu eu consigo, mas agora vejo que é delírio.
Meio inconscientemente percebo que o melhor a fazer é me colocar a serviço da enorme capacidade produtiva dela, focar nisso.
De novo, não estou com inveja nenhuma. Estou quase que cientificamente querendo entender como é possível uma coisa dessas.
Faço umas perguntas de ordem prática para tentar saber mais detalhes de como e quando ela terá feito essa quantidade grande de tecido, olha esse puffe de um metro e meio, a quantidade de pano que usou.
Ela responde como se não fosse nada que “ fez numa vala com um tear de mão ”.
Minha amiga não demonstra nenhuma vaidade, mas nota-se que está encantada e se divertindo com a capacidade de conseguir aqueles resultados todos a partir de métodos simples. Não num tom de superioridade nem de “ ah,foi fácil ”. Mais num sentido de “ eu fiz com o que tinha e consegui tudo isso ”. Pois ela não parou de trabalhar um segundo, isso é evidente.
Tipo ela usou um buraco no chão para apoiar um pequeno tear e a partir disso conseguiu tecer esse pano todo ainda por cima todo com padrões que ela mesmo criou.
Um garoto meio gordinho de cabelo encaracolado preto que está ali acompanhando a conversa, um dos participantes, diz num tom esse sim meio invejoso, e bem tentando desmerecer:
– Ah, faz um vídeo assim bem girly, bem coisa de garotas, de você tecendo com suas próprias mãos...
A intenção dele é tentar ridicularizar o fato do tecido ter sido feito por ela, como se nada fosse. Não chega a ficar algo claramente agressivo porquê o garoto fala naquele tom que passa por brincadeira.
Não ligo a mínima para ele, o ponto é que ele tirou as palavras da minha boca.
No meio do meu embasbacamento e em parte desânimo de sentir que jamais nunca conseguiria chegar no nível produtivo da menina, á tinha chegado à única coisa que eu poderia fazer para acrescentar algo a aquela parceira que não precisava de nada nem de ninguém. Meio que corto o menino e digo a ela, firme:
– Vídeo girly não. Vamos fazer um vídeo num tom bem feminino, mas adulto, mostrando você tecendo o tecido, porquê ninguém vai acreditar que você mesma teceu tudo isso. Não é que vão achar que é mentira, é que a informação vai passar batido, de tão inacreditável que é.
Olho para ela, que nesse momento parou por um instante suas atividades manuais e me escuta com atenção, e prossigo, com sinceridade:
– Eu mesma só acredito porquê é você dizendo, qualquer outra pessoa que dissesse isso, qualquer outra pessoa ( e ponho muita ênfase nessas palavras “ qualquer outra pessoa ”), eu acharia que estava mentindo.
Tenho razão.
Se colocarmos os puffes ali na exposição final, com apenas um escrito mencionando isso de que o tecido teria sido todo feito a mão, periga a informação ser desconsiderada, de tão absurda que pareceria.
Mas se colocarmos ao lado um pequeno vídeo em looping da menina tecendo no tal tear de mão no buraco da vala, aí não tem como ser ignorado.
E é isso que pretendo fazer, mesmo por dentro me remoendo um pouco com a extrema diferença de naturezas entre eu e ela.
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