TROUXERAM A GENTE AQUI PARA VARRER DE GRAÇA

1
8min de leitura

{3 de janeiro de 2017}

Vejamos. Aqui está a Verdade, creio eu.

Estou com meu grupo de alunos da escola de teatro da qual faço parte.

Uma escola tipo Cristina Mutarelli. No começo estou super integr ada no grupo, inconsciente, apenas curtindo as aulas, o convívio com os colegas,e me deixando levar pelos professores.

Quase como quando éramos crianças na escola. Totalmente imersas.

Chegamos a um lugar que era uma espécie de Teatro Oficina.

Não apenas um teatro, mas um lugar sede de um grupo específico de Teatro, que ensaiava e se apresentava ali.

É uma visita planejada pela direção da minha escola de Teatro. Assim como levar alunos ao museu.

Os objetivos e métodos de ensino da escola que freqüento estão super em segundo plano para mim, estou, como disse, muito mais envolvida com meus colegas, com a amizade e com a diversão da coisa toda.

Mal prestei atenção no aspecto didático dessa visita, mas sei, de orelhada, que a princípio fomos levados até lá por ser um grupo de Teatro muito considerado, então deveríamos aprender muito com essa visita. Seria como aprendizes de pintura visitando o atelier de um artista consagrado.

Só começo a reparar no que está ao meu redor no meio da visita.

Já tínhamos entrado nessa casa, conhecido um dos cômodos e então o homossexual meio travestido ,meio como uma drag Queen, que nos recepciona e que faz parte desse tal grupo de teatro consagrado, nos faz descer as escadas e chegar a um outro cômodo, do tamanho do anterior, situado bem debaixo daquele. Assim como o anterior, no qual mal reparei mas me lembro, o cômodo é quadrado e está vazio, mas tem uma decoração nas paredes, um papel de parede muito velho cheio de manchas se não me engano amarelo, de um padrão meio vitoriano.

Começo então a entender que aquela casa é na verdade um pequeno prédio que afunda no solo, já que o primeiro cômodo que conhecemos era no térreo e esse segundo não é o último, logo somos conduzidos pela drag Queen para um outro um andar abaixo, exatamente das mesmas proporções, mas com uma decoração diferente, mas apenas nas paredes, pois o cômodo em si está totalmente vazio, nem cadeiras tem. E assim vou formando a idéia: o teatro é composto de palcos em andares, pois pelo que fico sabendo através das explicações da drag, cada um daqueles cômodos é um palco e as peças desse grupo são feitas se mudando de um palco para outro, ou seja, a platéia entrava no primeiro palco, o do térreo, assistia o desenrolar de uma cena e, ao invés de mudarem o cenário, era a platéia que descia um lance de escadas até o palco abaixo, onde havia outro cenário e outra cena se desenrolava.

A partir desse entendimento começo, ainda bem em segundo plano, a prestar atenção no teatro e nessa proposta desse tal grupo.

Para começo de conversa, o local me desagrada. Não chega a ser algo insuportável, mas me lembra, por exemplo, aquela casa antiga que tem aqui perto na qual fizeram um bazar meio alternativo, mas sem conseguir ser legal de verdade. Não é uma coisa ruim, opressora, apenas não consegue se erguer da sujeira e falta de beleza que predomina. Aqui tenho que registrar que me ocorre isso em relação aos meus desenhos, de vez em quando, que tem muita energia às vezes mas falta Beleza. É uma coisa que levaria laudas explicando. Sei bem o que é. Com o Toutladanse melhorei muito isso. Mas ainda sinto como uma luta, o que sai de mim sai forte e vibrante, mas é difícil atingir o que mais amo, a Beleza. Pessoas equivocadas poderiam entender que “ é assim mesmo, tem que assumir ”. Mas vim a perceber que não é isso, o fluxo torto dentro de mim vem com força, mas sendo torto, não conecta com a Beleza e o que produzo me frustra em parte. Mas já melhorei muito. E nisso faz sentido a drag, pois o que faz o fluxo atingir e produzir beleza do jeito que amo é a energia feminina pura. Não a energia yang travestida de ying.

Isso são achismos que acho que tenho que registrar porquê super bate.

Achismos nível super bate.

Mas seguindo.

O local me incomoda um pouco pela falta de beleza. Aquela mudança de palcos me parece extremamente desgastante, se bem que me ocorre que, por chegarem num local diferente, a cena ali representada teria muito mais força.

Não sei porquê isso faz sentido no sonho.

Fico pensando:dá trabalho essa mudança de palcos, mas deixa a cena muito mais poderosa, como são as cenas no cinema.

Isso me parece o primeiro ponto positivo que encontro nesse local no qual fomos levados com tanto alarde.

A drag, que na minha opinião está falando de um jeito muito automático e meio apressado, logo logo nos leva ao palco do andar de baixo, acho que o segundo andar negativo talvez, pois o primeiro era o térreo, o segundo o subsolo, e esse seria o segundo negativo? Na verdade melhor deixar isso de lado porquê o sonho não coloca mesmo isso de verdade.

Somo levados ao andar de baixo onde encontramos a mesma coisa, um cômodo que serve de palco, com essa decoração grunge meio pesada demais e mais sujeira e pó que nos anteriores.

Não é uma sujeira pesada, mas o local claramente precisa ser limpo. E está cheio de vassouras.

No mesmo tom meio preguiçoso a drag fala para pegarmos as vassouras e limparmos o local, no que é apoiada pelos nosso professores, que acho que são dois.

Nós, os alunos, obedecemos, cordatos. Começamos a varrer o local, no mesmo clima divertido de antes.

Varremos um pouco e as pessoas que mandam em nós continuam nos mandando varrer. Ou seja, a intenção é que a gente faça uma limpeza para valer ali, não é só para dar uma varridinha.

É nesse momento que me começa a cair a ficha.

A drag, que teoricamente deveria estar nos iluminando com sua experiência, desencanou total da gente e está batendo papo com nossos professores ali na sala. Tudo o que recebemos dela foi uma descrição preguiçosa e bem óbvia do funcionamento do teatro.

E agora estamos ali fazendo o quê exatamente? Trabalhando de graça para esse tal grupo. Ficam agindo como se fosse uma experiência instrutiva mas de instrutivo não tem nada, é simples trabalho braçal de graça, pois são vários alunos adultos varrendo ali o local de graça.

No que esses pensamentos se firmam na minha cabeça, sem que eu decida conscientemente fazer nada, me pego gritando assim:

– Fomos trazidos para cá para varrer de graça.

Quando chega na parte “ de graça ” eu grito bem alto, como na brincadeira que fiz com os meninos sobre as carpas, na qual a gente gritava a palavra “ carpas ”.

Falo isso uma vez, espantada com minha própria audácia, pois aquele grupo e nossos professores eram autoridade e me vejo repetindo e repetindo a mesma frase, gritando cada vez mais alto e parando cada vez mais de varrer, ou seja, chamando cada vez mais atenção e me desviando do comportamento do grupo.

Não me sinto errada, estou agindo baseada no que acredito ser verdade.

Somos alunos de uma escola, somos aprendizes mas pagamos as aulas,e o objetivo primordial deve ser esse, nos ensinar,e claramente não era o que estava acontecendo ali, estávamos apenas sendo usados como mão de obra grátis.

Estou um pouco insegura sobre estar agindo certo, mas continuo fazendo isso,e então acontece uma reação.

Como que me dando razão, a drag sai da sua atitude encostada e vem fazer o que seria o esperado, que é nos oferecer algo de valor.

Nos coloca sentados todos no chão, como uma platéia e o grupo vem nos apresentar em primeira mão o espetáculo que estava sendo ensaiado, que ainda nem havia estreado. Agora sim, estávamos compartilhando de um processo criativo deles, algo muito instrutivo.

Um ator, uma moça, surge usando uma fantasia colante mas muito bela, deitada no que parece ser uma simples armação de flores em hastes de metal que forma uma pequena cama para ela, mas então essas hastes fazem uma movimentação que tem uma pequena “ explosão ” e começa a girar com a moça um pouco. Algo realmente, realmente muito lindo e bem feito. Justamente o que eu sentia falta ali, de coisas realmente lindas e belas.

A cena é linda, o artefato funciona com perfeição, não é algo capenga, e me impressiona também pelo fato de parecer ser um aparelho de funcionamento sofisticado, algo que exigia muita perícia para ser realizado ao vivo, ali na nossa frente.

O tal grupo de teatro sobe no meu conceito.

Em seguida aparece no palco, que é,como disse, no nível do chão ali na frente, uma figura masculina também com uma roupa colante de muito bom gosto e criatividade, também numa armação me similar, que na verdade lembra uma flor feita de flores, seria com se a homem, assim como a mulher, estivesse deitado numa pequena flor.e acontece igual, há uma extensão repentina dessas hastes que dá um efeito de explosão e então essa flor gira rápido mas de forma suave e o cara sobre ela também é “ girado ”.

Então as duas flores se aproximam, o homem e a mulher se unem e de repente tudo está detrás de uma grande porta cênica. Há uma mudança de tom, daquele lirismo e maravilha anterior, para algo sinistro.

Fica meio claro que algo ruim aconteceu. Mesmo antes que algo seja mostrado, sabemos,ou pelo menos eu sei, que o homem matou a mulher de forma violenta.

Então a porta se move, se abre na direção da platéia e revela o que está por trás dela.

Dependurada na porta, morta de uma maneira que não fica clara qual teria sido, mas meio presa na porta, está a moça. O sangue dela escorre pela porta, como se ela tivesse sido espatifada de encontro a porta. Foi o homem que a matou.

Estou totalmente envolvida pela peça.

No meio disso tudo acredito que tenha havido um trecho em que eu, com dinheiro na mão, digo aquilo que pensei ontem como argumento contra isso das feminazis dizerem que deveriam poder ir vestidas como quisessem em qualquer lugar sem serem estupradas,e eu pensei que responderia: escuta,você iria com uma carteira cheia de dinheiro na Praça da Sé de noite, achando que seria um ótimo lugar para começar a contar o seu dinheiro?

No sonho estou dizendo isso e há um tom de critica ao sonho a essa minha atitude. Acho, e isso é um acho, que a critica ia ao fato de eu ficar pondo energia nessas argumentações fantasiosas que em nada resolvem meus verdadeiros problemas. OK ,agora noto também um paralelo:fazendo meus neurônios e energia trabalharem em alguma coisa que não tem nada a ver com minhas necessidades reais,ou seja “ não estou aprendendo nada ”. Será que estou certa e é essa a mensagem do sonho? Pois essas argumentações consomem mesmo muita energia, me deixam cansada e o que ganho com isso? Nada.

Mas se estiver certa, então a peça contém o que realmente me importa assimilar e que então seria uma dinâmica em que a energia feminina é morta pela masculina?

IMAGE CREDITS EUGENIO RECUENCO | CINDERELLA 2005

 

 

TROUXERAM A GENTE AQUI PARA VARRER DE GRAÇA

Comentar
Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Twitter
Copiar URL