{28 de dezembro de 2008}
O Rodrigo Santoro era mais ou menos meu namorado.
Foi assim: ele volta ao Brasil para viver sua vida, mas como, apesar de famoso, morou esse tempo todo fora, aqui ele é completamente deslocado, solitário e não conhece ninguém e é meio à margem, não se enturma.
Ou seja , ele é como eu. No sonho, é completamente lógico que apesar de famoso, ele seja assim, por que uma coisa é a fama, outra a vida pessoal.
Então nos encontramos nos primeiros dias de aula nessa escola que estou freqüentando, e acabamos ficando juntos, meio essa coisa de desconhecidos que se juntam no primeiro dia de aula. Ele meio que ficou do meu lado nos intervalos, e ficou aquilo de ficarmos sempre juntos. Não chegou a ter clima romântico, ele não me beijou nada, mas como foram só duas vezes e o período escolar está só começando, acho que tem boa chance que talvez a gente namore, principalmente por causa disso que eu disse: ele não conhece ninguém, e aqui é quase como se fosse um planeta alienígena para ele. Então o que sei com certeza é que tão cedo ele não sai do meu lado.
Mas também não é uma coisa de pura necessidade, como se dividíssemos a mesma cela. Se ele veio ficar comigo, é porque eu agradei um pouquinho.
Estou animadinha com essa escola, e me arrumo bastante para ir às aulas, com roupas bem atraentes. O Rodrigo Santoro nem é minha principal motivação,ele é mais uma coisa a mais, sensacional que mal acredito que me aconteceu, mas o resto também me parece bem divertido.
O lance é que como ele se aproximou de mim meio como homem de mulher, me convidou para tomar uma coca, etc, não sei bem até que ponto é o interesse dele.
Como não faço mesmo muito sucesso com homens, não devo esperar grande coisas, mas por outro lado, de cara a situação já se instalou num patamar bem diferente do que de costume.
Então, estou me arrumando e trocando roupas para ir para a aula, querendo colocar uma mini saia roxa muito bonita e uma regata de linho creme, e pensando nele, quando, seguindo uma certa linha de raciocínio, concluo que tem grandes, grande chances dele ser virgem, por que ele me disse que quando morava fora só trabalhava e não tinha tempo de namorar.
Então fico fantasiando em dar em cima dele, mas sabendo que não farei isso, porque sempre que dou em cima, me ferro. Vou deixar rolar.
Estou na dúvida agora se no sonho sinto que o Rodrigo Santoro me quer ou não. Tenho uma sensação de que aquilo tudo, mesmo sem ter acontecido nada, é bom demais para ser verdade, e por outro lado, está rolando. Acho que o que mais gosto é que, apesar do Rodrigo Santoro ser ele, ali, na escola, ele está , por força das circunstâncias obrigado a ser um homem completamente comum comigo, e se de um homem comum eu não ficaria especulando tanto, deixaria rolar.
A segunda parte do sonho, depois de uma série de coisas que deram certo, eu levo um peixe vivo dentro de um saco plástico. Está branco e sem pele, como um filé, mas está bem vivo. Tive que cortá-lo em pedaços para fazer com que coubesse no saco plástico, que parece antes uma pasta, ele fica sempre achatado. Separei o bico da cabeça, com as guelras, do resto do corpo. Está meio desconfortável para o peixe, mas isso não vai matá-lo. O motorista de táxi me leva, dirigindo um quarto. Sentado numa cadeira, ele dirige um quarto, como se ele se movesse pela cidade. Pela parede da frente, que é aberta como um vidro de carro, vemos as ruas passarem. Vou conversando sobre o peixe, e mais com o peixe. Falo com o peixe como se fosse um bicho de estimação, e faço vários testes para ver se consigo acomodá-lo melhor no saco, mas tudo o que faço é pior.
Então acontecem duas coisas: depois que o motorista de táxi faz alguns comentários vagos sobre o peixe, e sobre uma flor de pedra que ele viu numa fonte e que o encantou, e que ele queria voltar para pegar, não sei por que, começo a meio que dar bola para ele. Continuo falando com meu peixe, mas daquele jeito que a gente fala sabendo que está sendo observada e se fazendo de interessante. Eu mesma não sei bem porque faço isso, não tinha ficado a fim do motorista nem nada, inda mais que ainda tinha o Rodrigo Santoro na parada. Mas reparo que estou fazendo isso, e que não consigo não fazer.
E a outra coisa que acontece, é que mesmo “fazendo cena “ para o motorista com minhas conversas com o peixe, percebo que seria uma idéia muito mais inteligente, ao invés de ficar separando o pobre peixe em pedaços para que ele caiba no saco, coisa que não tava dando muito certo, e fazia o peixe sofrer, o melhor era arrumar um saco maior, onde ele pudesse ficar inteiro. As partes se juntariam, se tivessem espaço para isso. Essa idéia, que eu não tinha tido até então, me anima tanto que até me desencano de fazer cena para o motorista, e começo a pensar seriamente onde posso arrumar um saco bem grande, bem grande, onde o peixe possa, pela primeira vez em sua vida, ficar inteiro, e aquele peixe, apesar de eu estar fazendo cena, é muito, mas muito mais importante para mim do que qualquer coisa, e foi uma conquista mantê-lo vivo, mesmo que em pedaços.
IMAGE CREDITS NICOLE NODLAND | LUCY BOYNTON | L' BEAUTÉ FW23 ISSUE N11