{9 de maio de 2019}
Esse merece atenção por reproduzir o mais, o maaaaais batido dos contextos, a fuga por sobrevivência com elementos novos e quase redentores.
Estou ciente de estar havendo algo que poderia ser descrito como uma epidemia zumbi realista.
As pessoas se contaminam e ficam agressivas como zumbis de filme, mas sem o lance da decomposição física. Mas estão fora de si, não raciocinam mais nem tem qualquer tipo de controle nem individualidade, são como possuídas mesmo. Aí saem como zumbis atacando os outros e os despedaçando como animais.
Se movem depressa e são fortes, ao contrário de zumbis.
Para me proteger fui para uma casa que seria 80% a casa do João em SFX, só que por dentro é uma mansão estilo antigo, com vários andares e aposentos.
Estou numa parte que é quase idêntica à escada do João que vai para a parte da lavanderia e dali falo com uma garota que está lá embaixo na estrada, como na estrada real mesmo.
É a recorrente garota jovem de pele meio morena e rabo de cavalo.
Ou uma de suas versões.
Ela é minha amiga e veio me informar sobre a epidemia, que está se alastrando muito depressa. No sonho a palavra “zumbi” não ocorre. Escuto o que ela diz com atenção ali do alto e então vejo que a menina pára de falar e começa a demonstrar os sintomas da coisa.
E é aqui a parte mais intrigante e inédita desse sonho, que se extendeu a maior parte da noite, com eu acordando e retornando a ele.
No que vejo que a menina está contaminada, tenho aquele tipo de comportamento que já é algo bem assimilado na minha vida, de me pôr a fazer algo que não parte de uma decisão consciente ou racional minha.
Falando assim parece algum distúrbio ou sei lá, algo insano, mas não é nada disso. Não fico fora de controle e poderia interromper se quisesse, mas na vida real aprendi que seria a maior besteira a se fazer e que esses “impulsos” meus sabem muito mais que a mente racional o que é melhor para mim.
Mas aqui no sonho realmente desafia essa confiança toda, pois o que faço é desistir de qualquer tentativa de defesa.
Simplesmente me deito no chão meio de cócoras, assim num montinho e fecho os olhos.
Fico o tempo todo me questionando sobre isso.
Mas o que estou fazendo? Vou entregar os pontos? Nem ao menos vou tentar escapar?
Sério que num primeiro momento entendo esse meu próprio impulso como desistência. Entregar os pontos.
Aí então raciocino que talvez tenha instintivamente percebido que não tenho chance, o que na verdade era provável, esses contaminados são muito rápidos e mais fortes que uma pessoa sadia e eu não tinha chance contra ela, e quisesse pelo menos acabar com tudo rápido.
Fico nesse conflito interno achando que é esse o motivo quando em instantes, pois esses contaminados são mesmo muito velozes, a menina está ali perto e eu me preparo para ser morta quando... ela passa por mim sem me ver.
Entra na casa à minha procura e eu finalmente entendo.
Se a pessoa ficasse como eu ali imóvel e tranquila, sem entrar em rota de desespero e fuga, se tornava invisível para os monstros.
E aqui que é algo muito sutil de explicar.
Esse enredo de estar sendo perseguida por destruidores é mega recorrente e até mesmo isso de ficar imóvel me fingindo de morta é algo recorrente mas nesse sonho adquire um tom totalmente inédito. Pois não seria uma coisa de auto anulação, de se reduzir ao mínimo para assim não ser destruída e sim a brecha que inesperadamente descubro de como vencer esses monstros que pareciam invencíveis. Se eu corresse e me desesperasse não teria chance contra eles, mas se simplesmente não entrasse nessa dinâmica de perseguição me tornaria invisível. O mais significativo é que muitas e muuuuitas vezes tive o sonho com a situação inversa, eu ao ser perseguida tentava ficar imóvel de olhos fechados na esperança de não ser vista e mesmo assim era vista.
Aqui nesse sonho mal consigo acreditar que a menina não me enxergue, mas ela passa por mim e entra na casa.
Percebo que vai logo sair e repito o que fiz, fico ali deitada encolhida numa bolinha e quieta. Não dá prá dizer que estou totalmente sem medo, mas estava ali tranquila e até então aceitando a possibilidade de ser morta com certa tranquilidade.
Na verdade me ocorreu um paralelo que vale a pena mencionar por mais que esses comentários racionais me bodeiem quando vou reler os sonhos anos depois.
Agi assim no filme.
Essa produção do filme me parecia tão acima da minha capacidade de controle, não por incompetência minha, mas por envolver, como sei muito bem, fatores por natureza além do meu controle, como pessoas, capacidades artísticas, previsão do tempo, etc.
Então desde o primeiro passo, que foi falar com a Adriana, fui num estado de estar fazendo aquilo com um certo desligamento emocional, pois ou o caminho se abria ou não. E bem preparada para não abrir. É diferente de quando se tenta controlar tudo com todas as forças. E foi se abrindo.
Então da primeira vez que faço isso de ficar ali sem me envolver estou achando que “desisti de lutar”, mas depois que vejo que deu certo, repito isso bem nessa mentalidade de “ok,vamos ver se dá certo”.
E mais uma vez a menina passa sem me ver e vai embora.
No que ela se foi, eu me levanto.
A diferença entre isso e os demais sonhos que mencionei no qual esse encolhimento tem sentido de auto anulação é que não estou apavorada devido ao fato de estar, como disse, até aceitando a possibilidade de ser morta.
Então talvez essa seja a forma de “ter poder”: não ter poder nenhum.:D
Vou tentar praticar na vida real como fiz no filme.
Mas no que a menina se foi o sonho prossegue com mais pontos a se ressaltar.
Achava que estava tudo perdido, mas não está, pelo menos não para mim. Retorno à casa que está cheia de pessoas da minh vidaa. Meu irmão, meus sobrinhos e outras pessoas amigas.
Seria como se eles tivessem chegado depois que a menina partiu achando que a casa estava vazia. Eles não tem consciência da vinda dela. Mas sabem sim da epidemia zumbi.
E aqui fica meio louco. Eu sei melhor que eles que é uma questão de tempo para os zumbis voltarem e todos, todos ali vão morrer.
Essa situação nunca surgiu em sonho.
Eu descobri como me salvar mas estou plenamente convencida de que não existe maneira de salvar os outros.
No que retorno à casa cheia minha preocupação é aperfeiçoar meu plano de sobrevivência uma vez que não sei se teria sangue frio para ficar perto dos monstros mais vezes. Mas olho ao redor para todas aquelas pessoas queridas e estou totalmente desencanada de tentar salvar alguém pois me parece inútil.
Não acho que eles teriam capacidade ou entendimento ou sei lá o que que tornaria inútil da minha parte sequer perder tempo tentando.
Nesse primeiro momento isso não recebe crítica nenhuma do sonho.
Então penso que o melhor é escolher o ponto de mais difícil acesso da casa e me refugiar ali quando os zumbis retornarem, coisa que estou ciente de ser inevitável. Pois quanto mais eu estivesse fora do alcance deles mais fácil seria para mim me manter naquele estado de “ não fuga ":.
Subo as escadas de madeira antiga na direção de uma espécie de sótão.
Seria um ático bem estilo ático antigo de mansão mesmo. E ali há uma criada limpando e essa criada super remete à criada meio judiada que tem surgido de tempos em tempos, na verdade não exatamente judiada mas desprovida e muito muito humilde.
Eu compactuo, a boquinha amarga e a pobre moça desprovida
Há uma moça que lembra muito uma que surgiu num sonho recente e eu defendia dizendo que era esforçada. Essa figura é coisa nova nos meus sonhos. A palavra é desprovida, ela era desprovida de qualquer beleza e encanto. Não era feia, veja bem, era desprovida de tudo isso. Era jovem com um rosto claro e limpo mas sem charme nenhum, cabelo curto negro encaracolado, magra e alta, vestindo uma roupa negra vintage muito sem graça.
Ela está sofrendo muito e chora e chora de desespero e muitas pessoas inclusive minha mãe tentam consolá-la, mas de jeito errado.
Somente eu sei o que fazer. Com autoridade tiro a moça daquele meio. A levo até a sala ao lado onde a sento numa espécie de assento grande de cimento redondo. As pessoas que estavam na cena anterior me seguem porquê querem ver o que vou fazer. Estou fazendo com a moça o que faço com crianças e ela está mesmo tão profundamente traumatizada que está num nível infantil. Não infantilizada, mas no sentido de estar vulnerável. A dor dela é real, isso não se questiona. Primeiro a acalmo, falo aquele “Shhhh” que falo para crianças e então noto, no teto, e isso é outro elemento que vem se colocando através dos sonhos, desde aquele sonho em que pinto o teto de azul usando só o pensamento, até o sonho “noalto”, o sonho do cocô de ouro da arara.
No teto há uma espécie de pequeno retângulo azul do tamanho de uma caixa de cigarros. Eu SEI que DEVO fazer a moça olhar aquilo. Mas me detenho demais em ficar consolando ela, ao invés de já fazer ela olhar o retângulo, que era, eu sentia, o que de fato iria ajudá-la.
No que a encontro ali lembro dela de outros sonhos.
Apesar de gostar dela isso é um contratempo.
Se ela estivesse ali quando os zumbis viessem iria entrar em pânico, provavelmente falar comigo e me tirar do estado em que estava invisível. Por mais que não tenha nada contra ela, sei que com ela ali não seria possível minha estratégia. Então digo:
– Vai limpar lá embaixo.
Sendo uma humilde criada ela obedece e aqui começam minhas dúvidas a respeito da minha própria certeza sobre me salvar sozinha, pois penso:
– Estou mandando ela para a morte.
Mas passo e repasso as coisa na minha cabeça e chega a mesma conclusão de que não tenho como salvá-la.
Então saio pela janela e vou até o que eu sabia ser o ponto de mais difícil acesso da casa, que era ficar sentada nesse umbral que rodeava o telhado, distante da janela para não ser vista.
Vou procurando esse ponto ideal e treinando meu equilíbrio, não era um parapeito muito largo e ligeiramente inclinado.
Acho um ponto e treino ficar ali acocorada. Talvez talvez estivesse com minha pasta de desenho.
Quando subi as escadas tinha passado por meu sobrinho Chico, que tanto amo, e meu pensamento tinha se mantido naquela certeza de que não poderia salvá-lo e logo todos estariam mortos.
Esse pensamento nem chega a me agoniar de tanto que me parece acima da minha escolha.
Então acho que ocorre assim. Tendo já preparado meu plano, desço de volta para a parte de baixo da casa, onde estão todos, e péra...como é mesmo?
Tá, umas pessoas estão chegando e eu espero ver entre eles o Henrique.
Acho quer até pergunto para um rapaz “ cadê o Henrique ”.
Mas não vejo ele e então caio em mim.
Minha idéia era pegar o Henrique pela mão e levá-lo até meu esconderijo e dizer para ele:
– Não precisa entender,faça o que eu digo para se salvar.
Ou seja ,tentar sim salvá-lo.
E isso me faz cair em contradição. Penso:
– Então estou achando sim ser possível tentar salvar quem amo.
Haveriam argumentos contra, poderia alegar que seria apenas uma pessoa, um adulto, que respeitaria o que estou falando,etc, mas isso não muda o fato de que eu achava sim que havia uma certa chance e se não estava pensando em salvar outra pessoas, estava disposta a arriscar tudo, até mesmo minha sobrevivência, pelo Henrique.
Percebo então que estou um pouco errada, não estava abrindo mão de salvar os demais por achar impossível mas sim por ser uma encrenca na qual não queria me meter.
Ao mesmo tempo em que penso tudo isso continuo tentando localizar o Henrique e isso não fica muito lógico pois lembro de estar vendo ele chegando com aqueles cabelo revoltos curiosamente engordurados e sujos e eu olho para o rosto dele com tanto amor que nem me importa. Mas lembro também de eu ali na porta procurando a figura dele entre as muitas pessoas que vejo ali e não encontrando.
Isso oscila com um trecho no qual fico ali no meu ponto de esconderijo me habituando a ficar ali,pois sei que é importante ter uma certa prática de ficar ali mas não me sinto mais como na primeira parte do sonho no qual eu estava “vencendo” os monstros. Ali estou mais me escondendo. Estou me sentindo mais para aqueles sonhos anteriores nos quais me anulava para sobreviver.
Aqui veja bem. Em minha defesa existem alguns pontos. Tenho um pouco de razão no sentido lógico estritamente racional, pois todas as alternativas teriam muita chance de fracasso. Falar com todo mundo ninguém me daria ouvidos, fora que eu sabia que não havia esse tempo todo. Trazer o Chico para cá ele é muito pequeno e não teria condições de entender ou realizar isso de ficar imóvel e tranquilo. Mas por mais que essas razões fossem razoáveis eu não podia deixar de admitir que estava simplesmente ignorando as mesmas razões ao querer trazer o Henrique para a janela, única e exclusivamente por o amar muito.
Ai mais coisas que não tem muita sequência pelo menos não recordo.
Quando estou nesses auto-questionamentos vejo o carro cheio de zumbis chegando ali na parte de trás da casa. São muitos e dessa vez não haverá chance contra eles. Procuro fazer com que não me vejam mas dessa vez não estou usando aquela “força da invisibilidade” e sim a proteção do umbral do telhado mesmo, ou seja,s e eles erguessem a vista me veriam.
Esse pensamento de que “ logo todos estarão mortos ” fica soando na minha cabeça.
E depois tem um pedaço que é isso que não entendo quando é que se dá pois estou ali na parte de baixo da casa e tem um monte de gente baixando ali e entre eles vejo o Henrique com sua prancha de surf.
Ele está conversando com as pessoas ao redor e elas se distanciam e andamos juntos um trecho ali na direção de uma porta avarandada e ele diz algo numa voz baixa e tem todo o jeito de alguém falando consigo mesmo mas eu sinto que se dirige a mim mas mesmo assim não dou ouvidos pois estou muito triste porquê sei que ele não é meu par e até meio ressentida, então me afasto como se não estivesse escutando e eu sei que ele por sua vez se chateia com isso.
E esse parece ser o final desse sonho.
Só hoje dia seguinte lembrei de um trecho mega forte.
Num dos momentos em que desço à procura do Henrique para tentar salvá-lo ,já em conflito interno por estar ficando evidente que é possível sim salvar outras pessoas ou pelo menos com o Henrique eu me dispunha a tentar, estou na sala com uma figura masculina careca que mega lembra meu adorado Guia Careca e o próprio Henrique, acho. E aqui,s em nenhuma forçação de barra para parecer boazinha, acho que estou sim conversando com os dois sobre a forma de vencer os zumbis que eu havia descoberto.
Não lembro a sequência do diálogo, só sei que eu digo:
– É tudo um sonho.
– Isso aqui é sonho? me pergunta o Guia Careca ( ou mais ou menos isso )
– Sim, é sonho, é tudo um sonho.
– Mas se você sabe que é um sonho porquê fica aqui? me pergunta o Guia.
– Por que é divertido, eu respondo rindo.
E agora lembro de um diálogo similar a esse com uma figura masculina parecida, o Guia Careca, em outro sonho, até sei que sonho seria, um que fujo com uma mochila e entro numa casa de periferia para me esconder.
IMAGE CREDITS GUI PAGANINI | BELA HADDID | VOGUE BRAZIL SEPTEMBER 2017