SETE DE OURO

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{29 de agosto de 2024]

Como uma cortina se fechando suavemente entre dois mundos, e eu, já acordada, sendo capaz de no último instante espiar pelo restante da fresta aberta e o que eu vi foi o seguinte:

Venho funcionando de uma maneira até de alto nível sem esse fator financeiro.

Essa parte minha que está feliz em funcionar e está cada vez mais alto nível nisso não dá importância a esse fator, mais que isso, simplesmente não toma conhecimento disso.

Não toma conhecimento disso.

Como se eu fosse alguém insignificante demais para merecer atenção, e de fato, é essa parte minha, a que não considera o fator financeiro, que está conseguindo funcionar em alto nível, não a parte que fica pensando no fator financeiro. É exatamente assim que eu me sinto, como se eu estivesse cada vez mais tentando fazer a minha parte realizadora dar importância para o fato de que estou funcionando sem base financeira.

E então depois de ontem, no qual eu fui capaz de conectar pelo lado esquerdo de uma maneira parecida com o Sol Dourado, não na base do “vamos resolver essa bagaça” como era antes e me senti falando diretamente com o Universo, que sempre irá responder com algo na mesma frequência, intensidade e grau de pureza em que a minha vibração é emitida, sonho o seguinte.

Vinha se desenrolando numa sala meio vip, a qual eu tinha acesso meio reduzido, torneios de poker de alto nível. Eram jogadores profissa e não eu jogando com meus sobrinhos.

Eu, aliás, nem fazia parte dessas rodadas de poker e ficava do lado de fora e desde o início do sonho seria como se houvesse algo que me perturbava nisso mas estivesse vago mas a coisa vai se definindo mais e mais, tenho a impressão de que eu, do lado de fora, mexo e remexo num baralho para me certificar das minhas suspeitas e então, me torno totalmente convicta e embasada, de um jeito que até então não estava. 

Entro na sala de poker, cujo acesso não me era vetado, mas de certa forma, eu não tinha muito o que fazer lá, uma vez que não jogava, mas dessa vez eu tenho sim, algo mais importante até do que todo aquele jogo.

O jogo era coordenado por uma mulher muito um desdobramento meu, com rabo de cavalo.

Ironicamente era esse mulher que me ignorava ao ponto de eu sentir como se nem existisse.

Não tenho raiva dela.

Mas me debruço sobre a mesa, uma mesa de uns quase três metros de diâmetro onde uns 20 jogadores jogavam, e falo com ela, e sendo mais uma vez polidamente ignorada como seria uma mosca, faço o seguinte: num impulso lhe entrego algo que até acho que confecciono ali na hora mesmo. Com caneta bic, azul, sobre um plástico transparente embrulhado ao redor de um papel ou cartão branco no formato igual de uma das cartas do baralho que estava em uso, eu desenho toscamente o 7 de ouro, com os losangulinhos.

E entregando isso para a mulher, digo:

– Pronto, agora podem continuar jogando, pois o baralho já tem o 7 de ouro.

Finalmente a mulher me olha nos olhos. Tenho sua atenção. Mas antes de ir em frente, procuro me certificar do ponto ainda meio confuso, pois para essas pessoas qualquer erro idiota de digitação já é o suficiente para eles descartarem a mensagem toda. Isso alegoricamente.

– Isso é ouro, né? Ou é o coração que é o ouro?

Me refiro aos losanguinhos. Não estava certa se o naipe de ouro era o coração ou o losanguinhos e se minha suspeita de que os sonhos tem níveis variados de significado, essa dualidade ouro e o coração é maravilhosa. Sim, estou entre o ouro e o meu coração. Ou seria o coração o ouro?

A mulher nem se dá ao trabalho de registrar uma pergunta tão irrelevante, se eu interrompi seu importante e alto nível jogo e me coloquei a altura de merecer segundos da sua atenção, não deveria ser para esclarecer esse tipo de dúvida amadora. Ela não estava ali para isso, e realmente perdi pontos, não por não saber a diferença, mas por usar frações da preciosa atenção dela com algo desse nível tonto. Tenho que ir para as cabeças, dizendo o que de fato era a coisa importante a dizer, a meu ver mais importante que o próprio jogo, uma vez que faria tudo mudar de figura:

– Essa baralho está sem o 7 de Ouro. Você vem jogando sem o 7 de ouro.

Ela me olha. Dessa vez consegui comunicar a mensagem. Ela me ouviu. Fui ouvida, eu penso comigo. Estou aqui e dessa vez fui ouvida. O que tenho a dizer foi considerado digno de atenção. Tem um sentimento muito bom nisso. 

Não importa se estou certa. Não importa se estou errada. A questão me aflige, E dessa vez, consegui que ela me escutasse a respeito.

Desse ponto corta direto para eu fora da sala, com algo na linha de que a mulher estaria ali decidindo o que fazer a respeito. Comigo está um menino, para o qual eu sou a autoridade maior e para ele eu digo minha lógica ao meu ver irrefutável:

– Mas se todo esse torneio de poker, com os respectivos jogadores e pontuação, tudo isso prestes a chegar numa conclusão, foi realizado com uma baralho sem uma das cartas, isso invalida tudo, percebe? Nada do que foi conseguido ou vencido ter significado, pois o baralho estava sem uma das cartas.

E é exatamente isso que tenho dito em oração tantas vezes. Tudo o que eu fiz, realizei e consegui fica em parte anulado pelo fato de que só ter sido possível por causa da minha herança e então, nem estaria ajudando a humanidade a deixar de ser escrava como acredito que seja, pois no fundo, nem eu consegui deixar de ser escrava, pois venho jogando sem o 7 de ouro.

E numa fascinante e apaixonante sequência, o sonho justamente menciona… minha herança.

No que rola isso de eu finalmente haver conseguido que a mulher considerasse o que tinha a dizer, já rolava o fato de que o Edu tinha voltando e estava morando numa das minhas casas. Eu já tinha ido e voltado algumas vezes. E penso em voltar de novo pois estou gostando da presença dele, Aqui péra.

Não lembro direito mas acho que esse lugar do jogo de poker era já no mesmo prédio desse lugar meio instituição ou órgão público o qual percorro já decidida a ir para casa ver o Edu.

E aqui é muito curioso o quanto algumas passagens super a princípio sem graça dos sonhos tem algo, uma vitalidade, que as torna divertidas de escrever.

No que saio, uma mulher baixa, meio gordota, com cabelos grisalhos despenteados mas ar competente, e que seria uma das diretoras ali vem me dizer com um ar até maternal, que tem algo muito importante a me dizer.

– Vai haver uma alteração na lei sobre simei. Você precisa estar ao par.

Ela prossegue:

– A sua herança vai ser afetada.

E continua:

– A… fulana ( no sonho o nome não fica claro) está na sala tal dando uma palestra sobre isso, vá lá.

Agora tenho que ir lá, que droga.

Mas é importante. O que penso é que provavelmente inventaram um novo imposto para taxar que tem simei ou mei e paga pouco imposto e esse imposto talvez fosse que quem teve mei e simei tem menos direito a herança pois trabalhou menos, pois se tivesse trabalhado mais, com certeza teria tido necessidade de um tipo de empresa que paga mais imposto.

Posso ver mais para frente que estou enganada, mas isso tudo me parece uma rica e criativa alegoria da minha culpa por não estar trabalhando por dinheiro. 

Mas vou lá nessa sala.

Numa mesa retangular não muito grande estão umas 12 mulheres, todas meio parecidas com a gordota de óculos de aro quadrado e grosso, mulheres desse tipo meio masculinizado.

Mas todas, todas tem um ar extremamente afetuoso comigo,

No que me sento numa das cadeiras dispostas na frente da mesa, e além de mim devia haver apenas umas 4 pessoas ali acompanhando a palestra, uma das palestrantes meio que repete o que a senhora gordota havia disso mas não esclarece mais nada.

– Eu tenho simei, digo.

Todas as palestrantes me olham com estranheza, como se isso que eu havia dito revelasse que eu estava mais por fora do que percebia.

– Como assim? uma dela pergunta.

Ué, será que eu disse alguma besteira? penso comigo, mesmo que não me importe dizer besteira ,o que eu quero é entender essa nova regulamentação com certeza absoluta injusta e abusiva da parte do governo. Eu me dispus a vir ali para isso 

– Nunca sei se é mei ou simei, digo, para tentar fazer a conversa ir em frente.

Pois o que importava era tomar conhecimento dessa alteração, não se eu tinha mei ou simei.

A mulher palestrante que está mais na minha frente, e me veio agora uma comparação do que é esse estilo de mulher: aquela Maya do grupo de terapia em grupo, que era Vila Madalena clássica.

Mas tem um ar muito amoroso e bom comigo.

Ela começa a me explicar e aqui… eu não consigo escutar. Escuto um murmúrio. 

Digo para ela falar mais alto por favor, ela parece entender, mas segue falando num tom que eu não consigo escutar e tenho o seguinte pensamento…

– Deve ser assim que minha mãe tadinha, se sente sendo surda.

Esse momento de identificação com minha mãe acho que importa, pois sonhos com pessoas dizendo algo que eu não escuto já foram vários e nunca pensei isso.

Então penso comigo que mesmo não tendo a informação completa, o que tenho já é suficiente, eu sei que haverá uma mudança na regulamentação e posso me informar depois. 

Então apenas balanço a cabeça. A palestra está chegando ao fim e as pessoas já começaram a falar sobre assuntos pessoais e tem uma outra mulher mais jovem mais na ponta direita da mesa me olhando e ela me confirma uma impressão que tinha tido desde que a mulher gordota tinha vindo toda prestativa me informar sobre a palestra: de que elas seriam todas lésbicas e eu despertava interesse ali. Pois a mulher me pergunta aonde eu iria passar o reveillon.

Aqui eu tinha já marcado de passar o Natal com o Edu, mas o reveillon estava em aberto, e essa pergunta eu escuto bem clara, mas me faço de surda e respondo outra coisa.

E então quase que fujo dali. É como que uma fuga mesmo, pois a impressão que tenho é que mais uns minutos ali eu seria cercada por um assédio lésbico por justamente passar a impressão de que por estar ali, estaria interessada.

Então me levanto e praticamente corro para fora e corro para fora do edifício e cai na Teodoro, na rua atrás da Teodoro que não seria a Cardeal e já sonhei muitas e muitas vezes com isso. 

Ainda estou correndo como se tivesse que escapar de algo. 

Aqui mais bizarro ainda.

Correndo, penso:

– Mas em que casa o Edu está? Não lembro.

Logo me parece ser o apartamento da Padre da minha mãe.

Mas então eu decido ir para a minha casa. Foi um dia muito exaustivo, posso ver o Edu depois.

E tendo virado a esquerda na direção de uma rua que pela vida acordada seria a Teodoro mas lembrava muito mais as ruas ali perto do Hospital Panamericano, em plena corrida, vejo um táxi vindo da esquerda, ainda correndo faço sinal e para minha surpresa ele pára.

Mas parou do outro lado da rua perto de uma pracinha.

Na rua vem passando ônibus que cortam minha visão, seria muito arriscado atravessar correndo, então, já que o motorista me viu e está esperando, é melhor atravessar com calma e no que estou esperando a brecha, essa enigmática cena. 

Pois enquanto espera, o motorista desceu do táxi, acho que para esticar as pernas e andando de lá para cá, fala bravo consigo mesmo e gesticula.

Já vi mendigos aqui na Roosevelt fazendo isso de um jeito que dá medo mesmo, mas não poderia dizer que o que o motorista faz me assuste. Alguém meio doido, mas somos todos meio doidos. Eu falo sozinha no parque.

Mas… e aqui me pergunto até que ponto isso revela algo, eu desisto de pegar esse táxi, ao qual estava em pensamento dando graças a deus e me sentindo afortunada, um táxi que me levaria para casa, e acho que é caso de sair correndo e fugindo, dessa vez do motorista de taxi, coisa que nem eu acho que é super perigoso, mas quando vejo já estou correndo para a direita e me parece que num primeiro momento dá até para eu ir correndo até a Padre, pois vejo algo que parece ser o largo da Batata e isso me passa a impressão de que tomei a decisão certa e escapei de um grande perigo, o motorista de táxi que fala sozinho, mas então, correndo, percebo que essa rua a qual achava que super conhecia era um cortiço quase favela.

Ai meu deus, serei roubada, eu penso.

Olho para frente e parece que a rua seria uma passagem dando para o Largo da Batata ou uma rua mais segura e então me forço a continua andando e péra.

Teve algo sutil antes. Sutil mas forte.

Eu entro correndo nessa ruazinha e então… páro de correr de um jeito meio estranho. Seria como se tivessem me puxado da tomada.

Não exatamente cansaço físico. Mas como se me tivessem retirado uma pilha, algo assim.

Eu penso isso no sonho.

Ué, mas de repente não estou mais capaz de correr.

Vejo ali o perigo que me rodeia e dessa vez de fato, o lugar é meio favela. Se o perigo do motorista era meio imaginário, esse aqui não é não, e o lugar exala pobreza, miséria, dificuldade. Vou andando e é nesse momento que me parece que aquela rua ia desembocar em uma rua melhor ou no largo da Batata então junto todo o meu restante de força e foco para ir caminhando o mais depressa que consigo e então…

Quando chego no fim da rua, como que uma miragem que desaparece, não está mais ali a rua diferente ou o Largo e sim um beco sem saída.

Terei que voltar pelo mesmo lugar por onde vim.

Estou cansada, Me sentindo sem força interna. Com medo.

Aperto os olhos e acordo.

IMAGE CREDITS ERIC MAILLET | BARBARA PALVIN | VOGUE RUSSIA DECEMBER 2010

SETE DE OURO

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