O SER DO MAL

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Havia um homem de uns cinquenta anos, grisalho, ar sinistro, que era um Ser do Mal. Todo mundo que via ele perdia tudo o que tinha na vida, família, casa, amigos, coisas, trabalhos e desaparecia para sempre. Era como se fosse sugada para o nada. Eu estava em uma casa de campo com umas pessoas. Perto morava uma família de pioneiros, eles até se vestiam como os antigos pioneiros.

Um moço tímido e magro, de óculos, que estava na casa de campo comigo ia muito na casa dos pioneiros porque estava gostando de uma moça de lá. Eu também fui lá umas vezes e um dia vi o Ser do Mal por lá. Então logo vi que iria acontecer alguma coisa com aquela família. Dito e feito, uns dias depois eles desapareceram sem deixar rastro. Algumas pessoas pensaram que eles tinha ido embora, mas eu sabia que eles tinham sido sugados pelo nada depois que viram o Ser do Mal. Todo mundo na casa de campo ficou impressionadíssimo com o sumiço da família e com medo do Ser do Mal.

Eu queria contar para alguém que tinha visto o Ser do Mal e quem sabe isso ajudasse a capturá-lo e detê-lo, mas ninguém me dava atenção. Vi o investigador Grisson do seriado CSI, que eu gosto muito. Ele era um fotógrafo e como eu acho ele inteligente e sensato, resolvi falar com ele e estava confiante que ele saberia o que fazer.

Chamei ele e fiz com que sentasse do meu lado e contei, em tom de grande revelação: eu vi o Ser do Mal lá perto da casa da família de pioneiros. Para minha decepção, ele não ficou nem um pouco impressionado. Concordou com a cabeça e levantou, dizendo que tinha que tirar umas fotos. Comecei a achar a reação dele pouco natural e fui atrás. Ele entrou no ateliê dele, que estava cheio de trabalhos artísticos feitos com sangue. Eram quadros para celebrar o sofrimento e a destruição.

Vi que ele estava totalmente tomado pela sua criação sanguinolenta e pensei: Meu deus, ele viu o Ser do Mal e ficou perturbado, o Ser do Mal fazia com que a pessoa manifestasse um lado muito ruim, destrutivo, e esses quadros de sangue eram esse lado maligno do Grisson. Porisso que ele não deu bola nenhuma para o que eu falei. O Grisson saiu do ateliê e foi para uma mesa de refeitório. Eu fui junto. Ele começou a conversar sobre os seus quadros com um homem que era um grande fã das suas obras. O homem estava elogiando muito os quadros de sangue e achando o máximo esse tom de apologia da violência que ao quadros tinham. Aquilo começou a me irritar porque eu achei muita babaquice ficar achando que violência é o máximo e que aqueles quadros horríveis eram artísticos só porque eram feitos com sangue. Comecei a contestar o que o homem dizia mas eu não era ouvida. Juntei minhas forças e soltei uma crítica arrasadora, disse que aqueles quadros só poderiam ser considerados o máximo por um adolescente confuso com a cara coberta de espinhas que está na fase de achar que sangue e violência é o máximo. Isso atingiu o homem que estava elogiando as obras e ele se calou, meio envergonhado.

Saí de lá satisfeita mas ao mesmo tempo meio em dúvida se essa minha capacidade de fazer críticas tão ferinas não seria uma coisa ruim também. Aí tudo se esclareceu: lembrei que eu também tinha visto o Ser do Mal, então também devia estar sendo afetada por ele e essas minhas críticas muito destrutivas é como esse mal estava se manifestando em mim. E aí me ocorreu também que se eu tinha visto o Ser do Mal, também ia perder tudo e ser sugada pelo nada e nesse mesmo instante eu sabia que todas as pessoas que me rodeavam tinham desaparecido, eu estava só, e logo o Ser do Mal iria aparecer para me levar para o Nada.

{14 de dezembro de 2003}

IMAGE CREDITS CRIS NOTH | VOGUE US JUNE 2008

O SER DO MAL

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crírica mal nonada o nada ser do mal

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