O PAVÃO

8
4min de leitura

{3 de maio de 2013}

Estou tão, mas tão desanimada com minha falta de sensações, que nem esse sonho lindo chega a me entusiasmar. Mas vou escrever.

Estou numa casa, onde há um monte de gente jovem e alegre, quase como se fosse uma festa.

Nesse grupo, todos tem algo onde se encaixam e se sentem bem, quase como se fosse sua qualidade especial, uns são belos, outros sociáveis, outros atléticos, etc. Eu estou meio dentro da casa. Estou gostando de estar ali, me tratam bem, mas sinto que não tenho nada. Me sinto deslocada, não sou uma pessoa do grupo, apesar de bem recebida.

Estou quase triste, não chego a tanto porque estou muito forte e bem, mas estou a parte, com certeza, e me sinto " sem solução". É bem isso. Alguém que não tem função, nem para si, nem para o grupo.

E então a dona da casa vem com um pássaro na mão, que ela tinha acabado de ganhar de presente. É um pavão.

Um pavão lindíssimo, de corpo todo branco, não maior que o corpo de uma pomba, (imagino que os pavões da vida real sejam como galinhas, pesados) leve, macio, e com uma cauda deslumbrante em tons de azul.

Ela tinha acabado de ganhar aquele pássaro tão raro e tão delicado e estava meio sem saber o que fazer, como tratá-lo, porque era algo delicado, a orquídea dos pássaros, algo que exige cuidados especiais, senão morre ou fenece.

Ela entra na sala onde estou com o pássaro na mão, para me mostrar, meio para me distrair, como boa anfitriã, e me vendo a parte ali, levasse algo muito especial, numa tentativa de me fazer sentir especial também. Mas o pássaro, assim que me vê, se agita e fica feliz, como um cachorrinho que faz festa. Ele não tinha sido assim com ninguém, muito pelo contrário, uma das dificuldades de se cuidar de pavões, no sonho, era que eles eram extremamente aversos a pessoas. Mas comigo ele logo se sente à vontade. A dona da casa, animada com isso, coloca o bicho no meu braço. Na hora tenho medo que ele me bique, ou seja difícil de carregar, mas ele se encaixa com facilidade no meu braço, sem que nada de desagradável aconteça. Para ser super sincera, não tenho muita atração por pássaros, inclusive não tenho atração por pavões, mas foi engraçado que tinha uma imagem de pavão no Graphic Fairy outro dia, e eu fiquei um tempão olhando, sem entender o motivo. Engraçado como meu subconsciente tem escolhido pássaros que eu nem curto, mas que são sem dúvida belos, como araras e pavões, para simbolizar coisas importantes para mim.

Não tenho atração inicial pelo pavão, mas com ele no braço, começo a gostar. 

Ele é leve, macio, e não pesado e pontudo e malcheiroso como eu imaginaria, e é de uma beleza mágica. Quase nem parece um animal, parece um ser mágico, de contos de fadas.

E o fato de gostar de mim me cativa. Me sinto como naqueles contos de fadas onde o menino rejeitado da aldeia faz amizade com um dragão. E no caso, faço amizade com um bicho que tem justo as qualidades das quais me sinto desprovida, beleza, sensualidade, magia, encanto.

O bicho praticamente me adota e só quer ficar no meu braço. Evidentemente se sente seguro comigo, e segurança é uma das dificuldades, no sonho era meio como se fosse algo difícil fazer um pavão se sentir seguro, e sem se sentir seguro, eles adoeciam e ficavam fracos. A dona da casa fica encantada e até meio aliviada, de ver que o pavão se dava bem comigo, porque ela estava no fundo meio aflita pensando em como ia cuidar dele. Ela fala para todo mundo que o pavão estava no meu braço, vejam, que coisa.

Era algo mesmo muito difícil de ocorrer. Me sinto meio obrigada a circular entre as pessoas para mostrar o pavão e retribuir a gentileza da dona da casa, e isso me integra. 

Esse é meu dom, os pavões se sentem bem comigo, apesar de eu ser entranha, ou talvez justamente por isso. Sem estar no meu braço, ele jamais faria isso e teria que ficar escondido num canto, protegido do contato humano. É bem esse meu papel. O pavão era algo raro e especial, mas de uma delicadeza extrema. A dona da casa ter ganhado isso de presente foi uma espécie de honra, mas por outro lado, teria que deixar o bicho num canto, para preservá-lo, e isso era quase o mesmo que não tê-lo, pois de que adianta? Mas com a minha participação, fazendo com que o pavão se sinta seguro e feliz para circular por aí, todo mundo, a dona da casa inclusive, poderia desfrutar daquela presença tão rara, do poder quase mágico daquela beleza extrema, e de uma maneira muito sutil ,são gratos a mim por isso.

Lembrei de um detalhe. Quando o pavão se acomoda de vez no meu braço, eu começo a girar com ele, meio numa dança. Isso faz com que a cauda dele se abra, e mostra mais sua beleza. Quando vou para o meio das pessoas, continuo fazendo isso, eu danço com o pavão.

Ah, outra coisa: o pavão ficava no meu braco esquerdo, do meu lado esquerdo.

IMAGE CREDITS GREG KADEL | VALERIE KAUFMAN | NÚ<ERO #169 DECEMBER 2015/ JANUARY 2016

O PAVÃO

Comentar
Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Twitter
Copiar URL