O PATINHO TONI

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{5 de julho de 2016|

Na porta de um quarto, a Lú está lá dentro, no meio de um monte de coisa, de pessoa, de sei lá o quê e acho que é nesse momento que chamo o patinho dela. O patinho é dela, não meu e se chama Toni.

Céus, o que significa essa insistência nesse nome guias????? E pela primeira vez o nome surge na forma de “Toni”, como eu pensei acordada no Toni Vanzolini, será uma confirmação? Mas porquê um patinho?

O mais louco desse sonho é que tinha tudo para ter um tom de crítica, eu encantada com um patinho e meio que fazendo dele “meu namorado”, mas não tem.

Tem um tom muito doce que lembra o sonho dos passarinhos na gaiola, aliás, isso sei que não é coincidência.

Mas retomando.

Eu sabia desse patinho da Lú, mas era a primeira vez que interagia com ele.

A Lú tá ali muito envolvida com as coisas dela e eu chamo:

–Toni, Toni.

O patinho logo vem.

Ele é um patinho filhote mesmo, muito branquinho e fofo.

E o que mais chama a atenção é que ele age de um jeito quase humano.

Vem todo perfiladinho, seguro de si e destemido.

É só um frágil filhote de pato mas tem muito mais coragem que muitos humanos.

Responde a chamados quase como se fosse gente.

Ali dentro do quarto digo para a Lú que eu tinha acabado de adquirir um cãozinho e tinha pensado em dar para ele o nome de Toni também, se ela se importava que eu usasse o mesmo nome.

Muito a contragosto, a Lú responde, numa voz muito baixa que “tudo bem”.

Mas o que já estou sentindo é que queria o patinho para mim.

Ele está saindo do quarto, vou atrás, com medo que ele se meta em encrencas, é só um patinho.

Toni sai pelo corredor e como uma criança, começa a empurrar a porta dos quartos com o biquinho e ver o que tem dentro.

Assim como no sonho dos passarinhos, vou atrás achando que tenho que protegê-lo, mas ele não parece precisar disso. Está se virando muito bem.

Não lembro direito mas acho que desencano de achar que ele precisa da minha proteção e vou fazer minhas coisas, com ele me acompanhando. É só chamar que ele vêm.

Parece que estou no salão, onde me deparo com o mesmo embolotamento de coisas que a Lú tinha ali no quarto, mas quando resolvo o que tinha que resolver e saio, se passa o seguinte.

Há uma figura masculina, meio na posição de meu amigo, que me decepciona.

Alguém frágil, escorregadio, temeroso, com quem não posso contar.

Mas pelo menos não estou apegada a ele.

Saio dali e chamo:

–Toni.

O patinho vem mais que depressa, todo estufadinho e se põe do meu lado. Sinto que posso contar com ele.

Digo ou dou a entender, com minha atitude, que aquele patinho é muito mais valente e muito mais “homem”que essa tal figura masculina que me decepcionou.

E vou embora.

Tem um pedaço que lembrei depois.

Na hora em que estou no quarto com a Lú, no começo do sonho, estou tão encantada com o patinho que digo várias vezes:

–Estou apaixonada por esse patinho!

Mas o que sinto é que, ao mesmo tempo que estou sinceramente encantada com ele, a ponto de me dizer “apaixonada”, estou ciente de que vejo no patinho muitas das qualidade que gostaria que um namorado tivesse.

IMAGE CREDITS AGNIESZKA KULESZKA & LUCASZ PIK | ZUZANNA BIJOCH | HARPER'S BAZAAR NETHERLANDS JANUARY/FEBRUARY 2020

O PATINHO TONI

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