O HALO

1
6min de leitura

{14 de setembro de 2023}

O título é meio interpretativo mas talvez nem tanto.

Mas sendo bem, bem precisa mesmo, essa interpretação não me ocorreu no próprio sonho.

E esse sim é o Sonho Oficial do Niver.

Sou abordada por uma equipe de filmagem para atuar.

Me oferecem um papel. Nem seria uma ponta, um papel mesmo de relativa importância.

O produtor, um rapaz jovem de ar ansioso, está ao meu lado direito aguardando minha resposta.

Digo que gostaria de ler o roteiro. Aliás no sonho estou perfeitamente consciente de que a praxe é essa mesmo, se envia o roteiro para ver se o ator quer atuar no projeto.

Ali já estava no ponto do produtor se oferecer para enviar o roteiro, mas ele não tinha dito nada e parecia achar que eu responderia ali, de imediato, então eu digo isso já achando aquilo tudo meio atípico.

– Não posso enviar o roteiro, o produtor me diz.

Não chega a dizer que o roteiro é confidencial, mas sua expressão transmite isso.

– Mas como assim,? eu pergunto. Tá… então me conte a história.

Apesar da parte do halo eu ter interpretado com tanta facilidade que talvez nem seja interpretação, seja entendimento mesmo, aqui nessa passagem inicial, que foi bem forte, tanto que eu acordei, sonhei com outra coisa e essa outra coisa emendou de novo nisso, algo aliás, que acho que nunca ocorreu, acordar, dormir de novo e voltar a sonhar com a coisa, mesmo tendo levantado para ir no banheiro, isso é normal, mas sonhar com outra coisa e esse novo sonho dar sequência ao anterior acho que nunca.

Tudo isso para dizer que não sei o que me leva a tentar dar um jeito para o produtor.

Não estou particularmente tomada pela idéia de atuar, mesmo achando divertido e novo.

Mas minha reação instintiva, ao invés de insistir no que era meu direito mínimo necessário para poder dar uma resposta, foi contornar a situação.

O produtor se entusiasma com a idéia.

Ali no sofá já está sentado o diretor do projeto.

– Vamos sentar ali e você me conta a história, eu digo.

Nós sentamos e o produtor abre a boca, ainda parecendo entusiasmado, mas não diz nada e então muda de expressão e diz:

– Não posso contar a história.

– Mas como assim? Como posso aceitar algo que nem sei o que é?

O produtor fica quieto como quem diz que era esse o esquema ali.

Mais uma vez, ao invés de me rebelar contra esse absurdo, eu procuro dar um jeito.

– Tem cenas de nudez? De sexo?

Eliminando isso já tem chance, eu penso.

Outra coisa que me preocuparia seriam cenas idiotas, mas nudez e sexo era pior.

– Sim, tem com todos os atores, responde o produtor, o diretor quer aproveitar ao máximo.

Querendo dizer que o diretor iria gravar o máximo de cenas usáveis e marquetáveis com o elenco e nada mais marquetável que nudez e sexo, como disse aquele amigo do André no telefone: tem cena de sexo? Eles ficam pelados? Quanto tempo?

Isso sem chance. Digo:

– Não vou ficar pelada ainda mais num primeiro papel.

Isso é mentira, não ficaria em papel nenhum, imagina me expor sem roupa num filme que qualquer um pode ver.

Então fica aquele impasse, eu ainda querendo que houvesse uma maneira.

E então como que corta para “um tempo depois”.

Seria como num filme mesmo, quando a coisa pula para um certo tempo depois.

Acho que foi nesse momento que levantei, fui no banheiro, dormi de novo, sonhei que estava com um grupo e então esse grupo seria o grupo de atores que estavam no elenco e eu conto a um deles em especial, que remotamente lembra quele ator que parece o Ricardo Sêco, o do filme do Jason, que eu tinha recusado a proposta de atuar por causa das cenas de nudez e sexo.

Eu acabei de fora desse filme, mas estou ali conversando com o elenco, pois são todos meus amigos.

Aqui cabe um registro da minha vida acordada.

Ontem fui dormir achando que tinha melado de vez a inscrição no Paulo Gustavo, que minha mente está vendo como a última oportunidade que terei de fazer o seriado ou qualquer filme ou qualquer coisa na minha vida.

Acordei achando que o sonho indicava justamente isso, que tinha melado tudo.

Então estou ali, nadíssima chateada, veja bem, e na conversa super tranquila com o elenco vou verificando que essa produção era uma roubada e eu escapei de boa.

Não no sentido porn pelados, mas no sentido prático.

O elenco, que dependia da produção para se alimentar, estava passando fome.

Todo o elenco, que como disse eram amigos, não está sofrendo pois para eles qualquer sacrifício para estar num filme vale a pena e a produção em si não era fraca, mas o esquema para os atores era nível carceragem.

Tinham super pouca comida. Dormiam em alojamentos e mal tinham tempo de ir no banheiro.

– Mas fazem cocô, como? eu penso, mas isso não digo.

Então até meio que rindo, eu digo a eles que ainda bem que não aceitei.

Mas para eles, super vale a pena então ninguém ali precisa ter pena de ninguém.

Acho que tem mais coisa me fugindo.

Ah, tem uma passagem meio chata de escrever.

Tem um cara ali que gosta de mim e ele está numa cama de madeira de alojamento comunitário escrevendo algo e eu na cama em frente e eu saio da minha cama e vou até a dele e me deito ao lado, o que não chega a ter um tom erótico, ainda mais porquê fecho os olhos e cubro a cabeça com um cobertor e acho que digo a ele algo bem para deixar claro que aquilo não era uma aproximação sexual, do tipo vou dormir aqui um pouco enquanto você escreve. 

Eu gostava dele e de ficar perto dele.

Ele coloca a cabeça debaixo da coberta e diz:

– Você fica bonita quando…

Não fica claro qual seria esse quando mas nem me importa. O que importa é eu ficar bonita.

E depois disso estou novamente com o tal elenco mas num lugar fechado que parece uma loja, conversando super de boa e dois caras da loja, que tem alguma importância ali mas não ligada ao filme, vem com algo para me dar e é engraçado pois cada um segura numa das bordas do que seria um chapéu de caubói.

É um presente para mim,

Eu estou usando uma roupa super bonita e adoro ver aquele chapéu pois ficaria super legal.

Chapéu de caubói são bonitos e esse era feito de um couro malhado de vaca marrom, preto e branco.

Então eu pego o chapéu e viro assim com a boca para cima e duas coisas me chamam a atenção.

Primeiro, que a boca do chapéu era revestida internamento por uma superfície fina de um metal parecendo prata, com uns entalhes delicados e bonitos.

Muito bonito mesmo mas olhando a pequena concavidade ali moldada rigidamente pelo metal prateado, eu digo em voz alta:

– Ai meu Deus, Não vai caber na minha cabeça.

Tenho uma cabeça grande. 

– Estava bom demais para ser verdade, eu penso.

Mas mesmo assim coloco o chapéu e… encaixa perfeitamente.

E agora a parte mais maravilhosa.

Há um espelho na loja, claro que vou me ver e o que vejo é que a aba do chapéu, que se revela muito, mas muito maior do que parecia antes de eu colocar, forma uma borda ao redor da minha cabeça, eu diria de uns dois palmos e meio no mínimo, toda revestida por dentro de uma lã macia num tom de amarelo claro, que fica justamente ao redor do meu rosto..

Olho para aquilo e digo para um dos dois homens que me trouxeram esse presente, e que está ao meu lado me olhando feliz com minha felicidade:

– Mas… é grande demais! Não posso sair na rua com uma coisa desse tamanho.

Não chego a perguntar se não teria um menor, mas minha intenção fica clara.

O homem, que mais Guia Espiritual impossível, me olha surpreso mas não bravo.

Posso ler seus pensamentos até.

Acabo de ganhar uma coisa dessas e estou reclamando e querendo um menor?

Eu ganhei um halo. Um halo de santo. Não quero menor não, Guias, estou honrada e grata e orgulhosa no bom sentido do meu enorme, enorme halo de santa.

Obrigada!

IMAGE CREDITS MOLIN ROUGE (2001) | VAZ LUHRMANN


O HALO

Comentar
Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Twitter
Copiar URL