AS PAREDES ASSOMBRADAS

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{8 de janeiro de 2025}|

Acho que dos 2000 sonhos que tenho registrados, menos de 10% foram exatamente em cima do que eu havia experimentado no mesmo dia na vida acordada ou até mesmo na mesma década.

Esse apartamento em que moramos não parece a Padre, mas poderia ser uma versão mais encolhida do andar da Padre, com os 4 apartamentos por andar, tudo de madeira e as portas mais juntinhas.

Eu, minha irmã e minha mãe e mais umas figuras vagas que moram ali, sendo que tomando a Padre como base, seria como no andar da minha mãe o nosso apartamento, estamos nos preparando para a Noite de Natal.

É dia 24 de dezembro e já de noite, ou seja, o Natal é dentro de horas. Minha mãe e minha irmã estão já em processo de se arrumarem faz tempo, e eu , como sempre, nem comecei, mas no que vou, noto algo muito perturbador.

Vindo de dentro das paredes, há um som de choro de vozes femininas.

Um coro de vozes femininas chorando.

Aqui é muito precisa a simbologia Não seriam mulheres emparedadas. Não seriam fantasmas. Seriam mulheres que foram absorvidas pela parede e agora somente existiam na forma de fantasmas aprisionados dentro das paredes, chorando.

O choro não chega a ser super alto, quase que fica como ruído de fundo.

E aqui é mais louco ainda a simbologia.

Eu sei o que houve com as mulheres. A parede as devorou. As transformou em fantasmas e não apenas isso, fantasmas emparedados e não apenas isso, lamentos de fantasmas emparedados. Seria como se nem mesmo em forma de fantasmas as mulheres existissem mais, haviam sido reduzidas a lamentos de um antigo fantasma de finadas mulheres.

Eu sei que a parede é uma força sinistra e ameaçadora, pois foi ela que fez isso com as mulheres. Tive aquele sonho com as palavras demoníacas surgindo nas paredes. Então falo para minha mãe e minha irmã que o mais seguro era irmos passar o Natal com duas senhorinhas que morariam no apartamento direto em frente, pois quanto mais gente junta, mais difícil da pessoa ser abduzida pelas paredes.

Falo e insisto e mostro os lamentos e estou com medo, mas minha mãe e minha irmã não dão a menor bola. Não acham aquilo nada de mais e não vêem risco nenhum. Escutam os choros tanto quanto eu, mas consideram que são algo a ser ignorado. – Vamos nos divertir, elas dizem, como se eu estivesse sendo a estraga prazeres do Natal.

A atitude delas me irrita muito. Tenho um rompante e digo:

– Então tá, foda-se.

Em parte minha preocupação era com elas. Se elas não estão nem aí, problema delas, penso meio com raiva. Mas isso não resolve o problema, pois eu posso ser abduzida, ainda mais eu que fico tanto tempo sozinha.

Mas estou com tanta raiva que deixo isso de lado e começo a pensar que vestido usarei e tenho pouco tempo para me arrumar e quase nenhum vestido bom.

Aí prossegue da seguinte nada a ver forma.

Está o Lucas Schudeler ali. Ele meio que divide o apartamento como se fosse um roomate, ele não faz parte da nossa família. mas está ele ali e eu, que vinha contendo uma atração bem imprópria por ele, acho que como está todo mundo ali sentado na sala, e não estamos sozinhos, até dá para eu ficar ali, coisa que evitaria caso ele estivesse sozinho, mas não estou tão santa assim e estou cavando maneiras de jogar charme para ele sem que isso configure algo muito errado, devido ao óbvio fato dele ser casado. Então sento ali no canto e estou com meu vestido zadrez e percebo que ele não levanta e sai da sala, o que me parece ser um sinal de que também rola uma certa atração da parte dele.

E assim encerra.

Algo morreu. Foi devorado pelas paredes e reduzido ao lamento fantasmas femininos. Acho que sei o que é.

IMAGE CREDITS ERWIN OLAF


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