{23 de julho de 2007}
Foi um fragmento. Em determinada altura, eu acompanhava um homem jovem e atraente, que lia uma poesia que ele tinha escrito para alguém que ele amava mais que tudo, provavelmente uma mulher. O homem havia morrido faz tempo. Era quase como se um dia eu tivesse lido a poesia e estivesse imaginando tudo aquilo, como teria sido o autor da poesia ( por que era fato que ela era uma poesia de amor escrita por um homem morto há tempos) A voz do homem era baixa, rouca, masculina, doce, triste e sensual ao mesmo tempo. Me encantava quase tanto quanto a própria poesia, que era simplesmente a coisa mais bela, apaixonada e triste que já ouvi na vida. Era destinada a alguém que ele havia perdido há tempo, e cuja ausência doía mais que tudo. Não lembro da poesia, apesar dela ser curta, e no instante do sonho, ter sido clara e nítida para mim.
Mas ao fim do sonho, eu já não conseguia recapitular as palavras.
Era algo mais ou menos assim:
“ .... nascida em xxxxxx,
para ( ir embora ) em xxxxxxx,
( aqui vinha um frase belíssima que eu não recordo, mas que era bem mais ou menos isso:) a sua ausência , o quanto eu desejo que você estivesse aqui,
viver num mundo que não tem você...
Eu não me lembro, mas era dilacerante de tão lindo.
Eu ficava muito, muito impressionada com tudo aqui, e mais que tudo, com a realidade e vitalidade e energia daquele homem que eu via declamara a própria poesia, que parecia alguém que eu conhecia, alguém de quem eu fiquei separada por um abismo de tempo e mortes.
Observação depois: tive esse sonho, e, uns dias depois, comecei a ler os diários do Kafka e simplesmente me apaixonei loucamente por ele. Tenho quase certeza que esse sonho foi sobre ele, por que os sentimentos que haviam no sonho são os mesmos que tive ao ler os diários e conhecer melhor o que ele pensava. Se Kafka fosse vivo, estivesse onde estivesse, como estivesse, com a idade que tivesse, eu iria até ele para passar nem que fosse meia hora com ele, porque esse homem é que nem eu, e tem por dentro o que eu tenho, e se ele fosse vivo, seria o amor da minha vida, e eu queria ser o dele.
Não sei qual a utilidade disso tudo, agora. É uma grande porcaria.
Minha vida amorosa já é um pesadelo, agora fico loucamente apaixonada por um homem morto?
Bela bosta.
IMAGE CREDITS ELLE FANNING | VOGUE AUSTRALIA 2018