A PESSOA PODE SER ELA MESMA

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{1 de julho de 2023}

Fortíssimo se entendido como o que cada vez mais entendo como sendo os sonhos: representações das dinâmicas internas de energia, que por rolarem nos bastidores que a mente acordada não enxerga, se desenrolam de forma surreal, mas essa é a realidade, que se tornou, como disse, acima do que a mente acordada é capaz de processar, a não ser que rompa com seu entendimento lógico e raso.

Foi tão discreto que no sonho eu mesma não prestava muita atenção.

A cena que ficou como sendo a primeira parece ter sido precedida por um monte de eventos, talvez não no próprio sonho, mas como no sonho de ontem, lembranças do que veio ontem.

Bem difícil de registrar mas vou me esforçar para não arredondar nem descartar nada.

Logo de cara minha interação com uma figura masculina que seria um homem maduro, de muita vitalidade mas tão aura de Guia que apesar do imenso afeto e respeito que sinto não desenvolvo coisas românticas parece ser a parte mais importante da situação.

Eu e ele, ou melhor, eu a serviço dele, pois sou tipo uma assistente, haviamos promovido a seguinte situação.

Haviam duas mulheres de meia idade, ambas glamourosas como estrelas de cinema, não duas senhorinhas, duas divas, sendo que uma era mais estrela que a outra,e havia uma espécie de desavença entre elas que havia rompido a comunicação entre elas.

Esse enredo infelizmente encaixa na coisa com a Lú na vida acordada mas não acho que seja isso não e sim a ligação entre o Sol Dourado e o coração, que senti ontem.

A desavença não era nada de super grave.

O que esse homem havia tido a iniciativa de fazer e havia, com minha fiel colaboração, conseguido, era reunir essas duas divas numa espécie de grande estúdio de gravação que parecia ser mais de áudio do que cinema e deixado elas totalmente livres para interagir sem nenhuma influência externa ou pressão de nada.

Isso era uma espécie de grande feito.

Estou nesse estúdio que lembra um pouco os estúdios de gravação da Cultura. O Homem está ali, as duas mulheres também, e há uns mezaninos e uma desce a escada de uma plataforma até a plataforma onde a outra se encontra.

Nesse ponto, tendo tudo perfeitamente encaminhado e sendo justamente esse o objetivo, não interferir, eu saio do estúdio, fechando a porta. 

O Homem permanece ali dentro com as duas.

Fora do estúdio há uma ante-sala bem pequena aliás, tudo com ar meio vintage e nisso essa espetacular cena.

Eu saio e nisso entra esbaforida uma outra figura feminina que seria quase que totalmente a Helen Mirren. Uma atriz de peso, mas no sonho essa mulher seria uma figura de grande autoridade que tinha a função de supervisionar interações em geral. Meio que de todo mundo, mas principalmente de pessoas de destaque como as duas mulheres divas.

Ela entra correndo e vai até a porta do estúdio, que está com aquela luz acesa de “gravando” mas mesmo isso não a teria detido, ela teria entrado, pois estava super decidida, mas a porta, quando se estava gravando, só podia ser aberta por dentro e ela me vê saindo, tenta alcançar mas tarde demais, a porta se fecha.

Sem opção, ela se senta na cadeira simples que tem ali umas duas ou três, na parede que tem a porta do estúdio de gravação, obviamente pensando no que fazer.

Eu então me ponho a ...não sei que palavra usar.

Eu me aproximo dela e com um pouquinho de maldade mas muito mais felicidade que qualquer coisa começo a dizer o seguinte, e são coisas que apenas no que digo passam a configurar a situação do sonho.

– Nossa, digo eu, essa deve ser uma situação totalmente inédita para você, não é? Se ver impossibilitada de interferir. Ter que aguentar ver as pessoas interagirem sem a sua supervisão, a sua coação, a sua direção, sem seu molde, sem o discurso que você escreve para elas. Pois agora as duas estão falando de coração para coração, sem nenhuma interferência, sem a sua interferência.

O que pode ser mais sensacional que essa passagem?

Tem mais coisa nessa frase, que se eleva em nitidez ali no sonho, mas o sentido é exatamente esse.

Essa mulher vinha implacavelmente dominando, seria esse o termo, dominando as interações no geral, mas principalmente quando se tratava de pessoas importantes tipo essas duas mulheres, porisso ela até havia meio que perdido a pose e corrido com tudo para tentar entrar ali no estúdio, mas a manobra do Homem era justamente para evitar isso e ele havia conseguido.

A Helen Mirren, que está impecavelmente e elegantemente vestida, fica uns instantes ali processando sua situação e então, como se chegasse a conclusão de que não havia nada que pudesse fazer, se levanta, vai para uma sala com vidro ali do lado, sai de vista por uma porta e retorna depois de um tempo com vários balões desses de festa, mas de alumínio, em diferentes modelos, e se põe a estourar um por um com um alfinete.

É uma cena cômica, até bem legal para um filme e mesmo no sonho eu me lembro do dia que me fiz essa brincadeira no restaurante do SBT e todo mundo riu.

Eu acho graça. Não tem grande maldade de nenhum dos lados.

E então a coisa no estúdio se encerra e ali nessa ante sala ou outra perto, as pessoas da equipe se juntaram num momento meio de comemoração.

Não fica super colocado, mas aquilo de juntar as duas mulheres havia sido algo a ser comemorado.

Então tem uma garota que também é alguém que passo bastante tempo interagindo, lembra um pouco a Maísa, não fisicamente, mas da forma de interação, uma amiga mas com algo de superiora minha.

Aqui não sei bem mas sentado numa mesa redonda com toalha branca está esse Homem, o meu chefe, e sobre a mesa tem a parte de cima de um tambor ou algo que chamo de cuíca mas é algo de bater.

Ele está batucando no tambor e me olha daquele jeito risonho e despretencioso dele que tanto conheço e gosto.

Me chama para sentar ali com ele e batucar.

Isso de batuque está sendo algo repetido nos sonhos.

Estou muito feliz, sento ali e batuco nesse tambor, mas não sou boa nisso, até gostaria de saber tirar um samba ali daquele tambor, mas não sei isso, faço o que posso e pelo menos barulho fazemos.

Estou tão feliz e orgulhosa do nosso trabalho que não ligo de estar fazendo um péssimo barulho.

Ficamos ali batucando e rindo, e tem mais pessoas ali e umas batuam, tenho esperança de que aquilo vire uma roda de samba, não vira, ninguém ali é músico, mas como disse, não me importo. Antes me importaria. Mas não me importo. Somos vencedores. O que conseguimos é uma grande vitória.

Então virou uma mesa retangular, mas ainda pequena e ao meu lado esquerdo está um rapaz que eu identifico como o Henrique mas fisicamente não é ele, mesmo que pareça..

Ele vem da parte aberta que está a alguns passos a esquerda pingando, pois está chovendo e ele tomou toda a chuva na cabeça.

Já é tipo a terceira vez que isso acontece.

Ele se senta do meu lado esquerdo e vamos jantar.

– Nossa Henrique, eu digo, como é que você nunca fica gripado?

Ele responde qualquer coisa.

Nisso o garçon está na mesa e meu Chefe, o Homem, pediu um uísque com soda, esse tipo de coisa.

Eu quase peço o mesmo mas então digo:

– Quero uma caipirinha.

– Caipirinha? pergunta o Homem meu Chefe, claramente sem saber o que seria.

Então eu vejo nisso uma oportunidade de realizar o que o batuque não havia realizado, que era mostrar algo de Brasil para esse meu Chefe, que era estrangeiro. 

Quando ele me chamara para o batuque, mesmo de brincaderia havia uma expectativa de que eu, por ser brasileira, soubesse batucar, coisa que eu faria com o maio prazer, mas não tenho esse talento.

Mas ali na caipirinha seria algo do Brasil que poderia mostrar a ele.

E com isso da caipirinha se encerra essa parte.

Daí meio que corta direto para:

Estou numa sala ao lado com a tal garota que remete à Maísa.

Ela me diz:

– Mas péra, tenho um presente para você.

Aliás…

O sonho dos bombons na caixa profetizou a kit.

Aqui essa minha meio que superiora também, não do mesmo porte do Homem Meu Chefe, mas um cargo abaixo, tem um presente para mim.

Ela sai da sala para pegar.

Estou morrendo de fome e coloco um pedaço de chocolate na bolsa.

Aqui o único desmérito do sonho é o que rola a seguir.

Vem essa Maísa com um lindo chocolate estrangeiro numa rica embalagem dourada.

Com grande expectativa me entrega.

E eu tenho uma reação que assim que sai da minha boca me arrependo.

Ela estava obviamente muito feliz de me dar uma grande alegria e esse chocolate era mesmo especial, fora o fato da deferência toda dela comigo.

Mas eu olho aquilo e digo abruptamente:

– Nossa, você não vai querer que eu coma tudo isso, né?

É meio que um balde de água fria ali nela.

Mas tem todo um lance de o fato de eu ter metido um chocolate muito inferior às pressas na boca contribuir para meu próprio não deslumbramento com um presente que era sim algo para ficar deslumbrada.

Eu percebo que fui muito indelicada e me arrependo e explico:

– Acabo de comer um pedação de chocolate, estava com fome.

Querido Guias, ainda não dá para eu achar que entendo os sonhos.

Mas muitas vezes quando começo esses esforços para obter tal e tal resultado nas minhas coisas, e produzir, produzir, produzir, muito lá no fundo e agora meu deus lembrei mais coisas que falo para a Helen Mirren.

Caramba.

Eu falo para a Helen Mirren assim:

– Ela escutou essa vozinha interior e conseguiu fazer o time que estava perdendo ganhar.

Sim.

A mulher diva mais importante funcionava como uma espécie de treinadora de um time de rugby que estava perdendo o campeonato e ali, tranca a sós com o Homem a outra mulher, a interação autêntica dela com essa outra mulher, autêntica por vir do seu coração e não mais algo definido pela Helen Mirren, havia causado uma reviravolta e o time de rugby havia ganhado o campeonato.

( acrescentei isso ao reler o sonho, Deus como sou grata por gravar essas coisas. Essa é a verdade) 

Então essa manobra do Homem havia sido com esse objetivo de ganhar o campeonato e havia dado certo.Isso porquê, ali livre de influências, a mulher mais importante havia por fim escutado a tal vozinha interior. 

Enquanto eu mesma penso nesse momento:

– Mas eu escuto? O que ela me diz?

Teve aqueles Shorte insistentes do Morgan Freeman sobre escutar a vozinha e eu pensando, cadê a minha vozinha? Fala comigo, vozinha.

Aquelas duas divas estavam nesse momento escutando suas vozinhas interiores e não mais as ordens da Helen Mirren.

E o que essa analogia do chocolate me fez lembrar é que muitas vezes, mais de uma, já tive a sensação de que por estar com medo e desesperada, fico produzindo coisas e coisas para “resolver”, mas não são “As Coisas”.

Tipo isso de por causa da fome tem enfiado de qualquer jeito um chocolate inferior na boca e quando chega o Chocolate Premium, estou meio que entupida.

Minha vozinha já disse isso e depois desse sonho tenho que escutar, mas então é para eu fazer o quê?

E como sempre, esquecendo da parte que dá nome ao sonho.

Então a frase completa para a Helen Mirren poderia ser mais ou menos:

– Nossa, digo eu, essa deve ser uma situação totalmente inédita para você, não é? Se ver impossibilitada de interferir. Ter que aguentar ver as pessoas interagirem sem a sua supervisão, a sua coação, a sua direção, sem seu molde, sem o discurso que você escreve para elas. Pois agora as duas estão falando de coração para coração, sem nenhuma interferência, sem a sua interferência. Deve ser algo muito difícil para você, agora a pessoa pode ser ela mesma e escutar aquela vozinha interior. Ela escutou essa vozinha interior e conseguiu fazer o time que estava perdendo ganhar.

Que eu escute, que eu escute, que eu escute.

IMAGE CREDITS CLAIRE ROTHSTEIN | TOSIN + ISABELLE | TATLER UK APRIL 2019

 

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