Engraçado que agora me ocorreu que é quase uma versão deturpada do lindíssimo sonho “No alto”.

E claramente, do princípio ao fim,me mostra como “fazendo errado”.

Numa edificação grande, de aparência luxuosa,misturando casa e loja, existe uma espécie de parte mais alta,a qual se acessa subindo uma série de escadas, terminando com uma escada metálica em espiral.

Ah, sim, remete um pouco os dois lances de escada que subo aqui no prédio mais a escada em espiral de metal depois, para chegar ao terraço.

É um paralelo mas é outra coisa. No sonho é essa casa meio louca, muito rica e legal, que me pertence.

Mas nem estou empolgada com a casa. Só agora percebo o quanto é legal.

Não é uma casa em construção. É algo já instalado. Essa escada metálica espiral, a última que subo para alcançar esse aposento que é o mais alto e bem que poderia ser tecnicamente considerado um sótão, mas não é, aliás no sonho tem algo de “sala de comando” associado a essa sala, que não é a maior ali.

Mas é tipo um lugar especial dentro daquela edificação-casa-loja-sei-lá.

Porisso não combina muito com a palavra “sótão”,q ue remete a local de despejo.

Aquela sala mais alta é o local “nobre” da casa, nobre, era essa a palavra que faltava.

Há um homem instalado lá. Isso em parte partiu de mim, como se ele fosse um hóspede que eu tivesse alojado nessa parte “nobre” da casa, dando o melhor quarto para ele. Na verdade até tenho essa sensação de ter cedido um espaço especial meu para ele. Mas isso é muito leve pois eu tenho esse homem em altíssima consideração, o considero até mais que a mim mesma.

Mas vou me ater aos fatos,pois não quero “interpretar”o sonho.

Mas isso é fato,que eu é que tinha designado aquele lugar para ele,que havia uma levíssima sensação de que aquele lugar era ocupado por mim,e que eu havia cedido para ele,ou então,que eu tinha que ocupar aquele lugar recorrentemente,e agora o encontrava ocupado por esse homem.

Esse homem, isso é importante registrar, não é alguém tudo de bom, como o homem do “No Alto”.

Ele é alguém que me parece importante, tem isso dele ser alguém a quem atribuo uma enorme importância, como se fosse uma celebridade, mas não é um homem que eu particularmente me sinta atraída ou que seja um “tudo de bom” como no outro sonho.Não sinto paixão por ele. Não sinto repulsa, mas não sinto aquela atração como com o homem do “No alto”.

No começo até tenho um instante de franca decepção com a presença dele ali naquela sala.

Penso meio assim:

– Poxa, mas ele? Não sinto nada por ele.

Só o que sinto é isso dele ter algo de importante, que não toma uma forma de daonde estaria vindo essa importância. E ele é assim, jovem, meio loiro, bem apanhado. Eu é que não me identifico, não tem nada de errado nele em si,.

Mas apesar disso, a partir daí, pelo fato da convivência, vou entrando numa espiral de achar que devo e quero e desejo transar com ele.

É bem assim. No começo por ele estar ali, ocupando o que seria a sala mais especial de todas, acho que estamos destinados, um pensamento que me provoca, como disse, certa tristeza, não pelo cara ser horrível, mas por não ser nada que me empolgue.

Mas de tanto pensar naquilo e de subir ali e encontrar o cara, vou ficando mais e mais a fim dele, algo que vai sendo intensificado pelo fato de que nunca consigo ficar com ele, então se torna uma obssessão.

Se eu dissesse aqui que eu é que me convenço de que desejo ele, estaria interpretando.Mas o que posso dizer sem interpretações e sim como algo colocado pelo sonho, é que o fato de nunca conseguir ficar com ele vai me colocando num estado meio obssessivo no qual eu tento e tento e tento e tento, mais porquê me parece que tenho tudo para conseguir, do que por algum outro motivo. É algo bem sutil de explicar. O ponto principal dessa obssessão era isso de parecer que tinha tudo para isso acontecer. Ele era solteiro, era atraente( mesmo eu não sentindo) estava ali dentro da minha casa...parecia estar aberto a mim, ou pelo menos não tinha me dado o toco, como de costume...inclusive tinha me dito que estava sem namorada...

Mesmo assim nunca, mas nunca rola.

Subo aquela escada inúmeras vezes e sempre algo interfere e corta os acontecimentos.

Acho que meio intercalado com esse enredo tem uma parte onde estou de carro nas ruas de noite e apesar de exímia motorista, dando cavalo de pau e tudo, não chego a lugar nenhum.Não bato o carro e ele me obedece,mas giro em círculos e não chego a nada.

Mas enfim. A situação com o cara, que começa como algo simples de resolver, vai se revelando cada vez mais empatada e me levando a esse comportamento obssessivo no qual nem raciocino mais e me empenho em tentar de novo,p ois parece que estou prestes a conseguir. Quero conseguir nem que seja para desencanar.

Mas cada vez mais ajo desesperadamente.

Tem uma hora subo a escada de metal e escuto ele lá em cima transando com uma garota muito nova, que depois vejo descendo as escadas, parece ter menos de 20 anos, mas na minha cabeça não acredito que ele goste dela, penso comigo que isso pode ser excitação causada pela convivência comigo, que ele precisou descarregar de alguma forma.

Por ter escutado os dois lá em cima, não subi,voltei, mas quando a menina se vai, torno a subir as escadas.

Tem duas passagens que não lembro a ordem, ou talvez sejam uma só.

Minha mente já entrou naquele estado que tão bem conheço em que existem duas facções opostas: uma dizendo a mim mesma que esse cara não parece estar a fim de mim e a outra encaixando tudo que ocorre em explicações mirabolantes como essa de que a menina “foi usada”.

Subo a escada e já estou agindo por desespero ,tentando atrair a atenção dele das formas mais bizarras.

A lateral da escada tem umas trepadeiras muito bonitas, com flores brancas, parecem camélias, arranco uma, com certa dó, está tão linda e viva, mas o desespero já me leva a fazer coisas que normalmente não faria, pego a flor e começo a passar ela no rosto, nem sei porquê faço aquilo, quando peguei a flor não sabia o que pretendia com ela, estou tentando coisas absurdas para atrair o cara, acho que achei que seria sedutor aparecer com uma flor e quando começo a esfregar ela no rosto me ocorre que pode ser que me perfume. Minha intenção é me fazer parecer mais sexy, de qualquer forma.

Mas quando chego no alto da escada, ela me levou a uma loja, chamada Vivara, se não me engano.

Que droga, como que a escada me levou no lugar errado? Será que não percebi e entrei para um outro lado, algo assim?

Fico meio brava e desço e subo de novo, aquele lugar me pertence, eu tenho que poder chegar nos cômodos que quero.

E aí assim. Nesse momento dessa confusão de escadas, desci a escada em espiral, voltei a grande escada tentando entender o que fiz de errado para ter subido para um lugar diferente, quando vejo que o cara,escutando minha aproximação apareceu meio ali na entrada daquela sala de comando, lembro agora que ele ficava mexendo em algo que parecia uma mesa de som, pois ele estava ali para trabalhar, não ficava à toa.

Mas no que percebo que ele veio ver se era eu, meio que desfaleço ali na escada, ainda tendo a flor nas mãos.

Isso tanto tinha de fingimento quanto não tinha. Estou mesmo à beira da prostração, de tantos insucessos. O cara fica preocupado e vem até mim, me segura. Me toma nos braços e começa a descer as escadas comigo.

Nesse instante em que tudo parece se encaixar e que me vejo momentaneamente livre da obssessão de conseguir, sou capaz ainda de perceber que não tenho uma mega atração por ele, mas mesmo assim ela se configurou por causa daquela “história”.

Ele está me carregando e me levando a um quarto abaixo, onde com certeza vamos transar e pronto. E então... o comportamento dele, apesar de claramente apaixonado, vai ficando cada vez mais repelente. Ele começa a cantar, no começo até ok, mas seu canto vai cada vez mais se tornando o canto de um bêbado. Ele está bêbado? penso.

Tento relevar, fico torcendo para que cheguemos logo a essa cama, para a excitação que ainda existe sobreviva, mas a descida é longa e agora além de bem bêbado ,ele se tornou um japonês.Não tem bêbado menos atraente do que um japonês bêbado. Não sei como, mas eles conseguem descer a um degrau de repulsividade que nenhum outro bêbado é capaz de atingir.

Minha atração por ele está indo pelo ralo e para piorar, o fato dele estar bêbado dificulta muito sua capacidade de chegar numa cama comigo, o que ainda poderia resolver a situação, pois depois do tanto que investi nisso e lutei para que acontecesse, não iria abrir mão de transar com ele mesmo bêbado, mesmo japonês.

E só nesse último instante é que tenho um embrião de pensamento do tipo ”bem, talvez seja um equívoco essa idéia de transar com esse cara”.

Uma frase boa que me veio agora, rezando: Não tinha outro homem ali, então eu tentava fazer dar certo com ele.

Essa é a minha justificativa no bom sentido até.

{9 de outubro de 2016}

IMAGE CREDITS REGAN CAMERON | ANTONINA PETKOVIC | HARPER'S BAZAAR UK MARS 2017