SEGURE!

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Era uma longuíssima tira de pano mas depois que enxerguei significado nesse enigmático sonho, não consigo mais chamar de pano. Mas o título não está interpretativo.

Uma das coisas que me chamou a atenção e intrigou foi o fato dessa cena não ter tom de tragédia mas até isso fez sentido.

No alto desse prédio de pelo menos uns 30 andares, mais alto que o meu, que tem 24, estamos, ali no rooftop, eu, minha mãe, a Lú e meu irmão com dez anos de idade.

De pé ali num grupinho, nós tinhamos acabado de acompanhar a seguinte atividade recreativa: a pessoa vinha correndo até a muretinha de uns 30 cm de altura que rodeava o rooftop e em pleno pulo segurava, agarrava mesmo, uma faixa de tecido meio grossa, não uma fita, algo assim com um volume de tecido, que pendia do alto estática, numa altura razoável para a pessoa agarrar no último instante antes de despencar em plena queda livre ali daquela altura de sei lá, 100 metros talvez. O pano, que se estendia acompanhando toda a queda, funcionava como uma espécie daquele elástico do boogie jumping e fazia aquela queda mortal ser um passeio seguro, como uma montanha russa.

A razão da pessoa ter que vir correndo ao invés de simplesmente ficar parada ali, segurar na faixa e pular, não ficava clara. Era opcional. Ninguém estava sendo obrigado a nada. Olhando aquilo, eu ficava dividida entre achar aquilo tudo normal ou não. Era um risco absurdo, quase insano. A queda era longa o suficiente para durar minutos e não sei que tipo de controle físico a pessoa teria que ter para conseguir não largar a faixa de tecido, o que seria fatal.

Mas todos parecem estar se divertindo, inclusive uma pessoa que remotamente lembra eu, uma figura feminina morena, acaba de realizar o pulo sem nenhuma dificuldade. Até isso fez sentido no meu entendimento.

Então a Lú se prepara para pular.

Ela anda e recua um pouco em direção a faixa, como que ensaiando para a hora que for ter que agarrá-la e novamente, tudo é feito em clima de brincadeira de playcenter, nada que exija preparo atlético.

Vejo que ela está com alguma hesitação sobre como agarrar a faixa então para ajudar me abaixo ali junto da muretinha e seguro a faixa, que desce até o chão do rooftop, para que ela não balance, o que acredito vai facilitar para a Lú.

Digo:

– Eu seguro para você.

A Lú então recua ali a distância necessária, vem correndo para tomar impulso, pisa sobre a muretinha que rodeia o limite do roof top e...

Inexplicavelmente nem ao menos tenta segura a faixa. Ela pula do prédio sem segurar em nada. Cai do alto dom prédio em queda livre.

Fica todo mundo ali meio que absorvendo a situação. Não tem outra coisa possível de acontecer: ela está morta.

Meu Deus que tragédia. Vou procurando assimilar que ela, de um momento para outro, está morta e aquela brincadeira, de um momento para outro, se transformou numa desgraça irreversível.

Em paralelo vou processando o que foi que rolou e nisso se mostra a intrincada e rica simbologia dessa parte do Ser que compõe os sonhos como forma de comunicação com a pessoa que sonha A Lú não tinha se matado. Também não tinha não conseguido agarrar na faixa, algo que seria até natural, não é fácil vir correndo e agarrar um pano em pleno salto. Ela nem ao menos havia tentado segurar no pano, porquê... esse comando, apesar de registrado no plano consciente dela, apesar dela ter visto várias pessoas saltando e segurando no pano, apesar de perfeitamente entendida e importância de segurar no pano, na hora em que ela se colocou em movimento, assumiu a parte instintiva e essa parte não havia ainda assimilado isso de que tinha que segurar em panos.

Assim como uma criança que precisa de várias tentativas para conseguir se coordenar a uma determinada ação. Só que no caso da Lú, não haveria outra tentativa pois ela estava morta! Morta!

O peso disso me esmaga. Temos que descer no térreo para ver o que fazer. Nossa vida vai mudar, nunca mais será. a mesma. Meu irmão é uma criança e para ele o choque não será tanto mas minha mãe, que está agindo como se nada tivesse acontecido, parece estar entrando num estado de negação.

Então vamos ali chamar o elevador para descer e recolher o que sobrou da Lú.

Fiquei um bom tempo meio confusa com esse sonho tão pesado, mesmo que, como disse, não tivesse clima pesado, quando na prática do começo do dia, de rezar e conversar com a Diretoria Celeste, tudo se esclareceu na minha cabeça.

Sim, eu salto e seguro no Fio da Vida e isso torna o salto um passeio divertido.

Mas quando vou fazer minhas atividades de trabalho, mesmo sendo um trabalho que eu gosto e escolhi, eu não seguro. Eu me deixo levar pelo fluxo da ação e vou fazendo tudo meio impaciente e ansiosa e mesmo sendo algo que amo fazer... algo morre. E mesmo já tendo percebido que é por soltar esse Fio, essa conexão com a Coisa Boa e Viva que isso ocorre, eu ainda me deixo arrastar pela adrenalina do movimento, do descarrego da ação e solto. Solto a Coisa Boa. Ainda não estou treinada a segurar.

Ali, indo em direção ao elevador, me preparando para lidar com a catástrofe e todas suas decorrências, pois minha mãe está se mostrando claramente em choque, me passa pela cabeça uma possibilidade de ter sido eu a culpada, por ter segurado o pano. Essa minha parte acusatória até mesmo começa a insinuar que talvez eu até tenha feito de propósito com intenção de matar a Lú.

Tem esse detalhe no sonho. Mas isso consigo rebater com facilidade. A Lú nem ao menos tentou segurar o pano. Se o fato de eu estar segurando ajudava ou dificultava, não fez diferença pois ela nem ao menos tentou segurar o pano.

Então pelo menos isso. Não causei a queda.

Mas é um detalhe interessante.

Por quê isso de eu “ir ajudar”?

De qualquer forma, eu entendi, Guias.

Vou me condicionar a segurar no Fio da Vida, mesmo que minha parte instintiva ainda não tenha registrado que isso é necessário.

Que a Lú não morra mais.

{10 de abril de 2024}

IMAGE CREDITS MARIANO VIVANCO | JENNIFER LOPEZ | HARPER'S BAZAAR US APRIL 2018

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