Aquele clima mágico permeando tudo.
Nessa cidade que levemente remete a Strasbourg, caminho pela rua com objetivos. Tenho objetivos, não estou ali andando à toa e o engraçado é que apesar desses objetivos e seus decorrentes problemas, pois objetivos sempre derivam em problemas e obstáculos, sendo que naquele momento eu estava muito mais à volta com os problemas do que os objetivos em si, apesar disso estar tomando totalmente a camada mais externa da minha mente, nada fica super claro.
Não sei que objetivos seriam esses e os problemas também não tomam forma mas pareciam envolver um encontro marcado com a minha mãe, chuva e apenas no final se configura em precisar fazer xixi.
Com a a parte mais externa da mentalidade percorrendo essa trilha vaga, em segundo lugar, ou melhor, em segundo plano mesmo, minha atenção verdadeira se focava no seguinte.
Vinha frequentando uma tal faculdade ou universidade. Mas havia, naquela cidade, uma outra faculdade ou universidade. Essa instituição de ensino tinha várias características fascinantes que lhe davam uma aura mística ou mágica.
Ela era afastada. Ela era maior, muito maior. Ela era mais difícil de entrar.
Nas brechas que me permitiam toda a logística que eu tinha montado ali em função dos meus objetivos, vou sentindo flashes de atração por essa outra Universidade. Mas meu lado racional classifica isso de “perda de tempo” e "distração inútil".
Não fazia parte dos meus objetivos. Fora a dificuldade toda da coisa, diz minha mente. Era complicado ir lá, um desvio da rota que não serviria de nada para meus objetivos.
Mas mesmo assim, estou funcionando daquele jeito bem típico meu que cada vez valorizo mais. Escuto as objeções da minha mente mas vou indo na direção do que me atrai, mesmo que camufladamente de mim mesma.
A tal Universidade seria do outro lado de um riacho. Não um rio turbulento, nem um abismo. Um riacho quase córrego. Então meio que de bobeira vou indo na direção desse riacho, enquanto comportadamente sigo pensando em como atingir meus objetivos. Alguns passos depois já ultrapassei o riacho, ou seja, o primeiro grande empecilho colocado pela minha mente não era nada de mais e havia sido vencido. Já estou na zona da cidade que tem a Universidade, que seria situada numa faixa estreita e comprida de terra meio que marginal. E já que estou ali mesmo, porquê não chegar mais perto? penso comigo. Pode até ser um bom ponto de encontro com a minha mãe, poderia marcar com ela na frente da Universidade.
Assim dando para mim mesma desculpas meio fajutas de que a outra Universidade teria a ver com meus objetivos, vou me aproximando das suas instalações.
É tudo meio amarelado, mas de um jeito luminoso.
Então acho que começa a chover e penso comigo: – Melhor esperar a chuva passar lá dentro, né?
Estava com guarda-chuva e poderia bem ficar ali mesmo mas aquilo me serve de justificativa, pois se posso ficar debaixo de um teto, melhor do que debaixo de um guarda-chuva., não é?
Entro então nessa Universidade que é um prédio antigo lindíssimo, o que o deixa mais mágico ainda.
Há um grande saguão e vejo anexo uma sala grande que desejo olhar, já que estou lá dentro e tenho que esperar a chuva passar. Vou indo nessa direção quando meio que dou de encontro com o seguinte.
No saguão, de frente para a sala que eu estava curiosa em ver, há uma turma de alunos se graduando . Estão todos em formação de foto de formatura. O pessoal que está fotografando está justamente dentro da tal sala para a qual eu me dirigia, para ter um bom recuo para a foto. Todos parecem alegres. Os alunos estão sorridentes e irradiam uma espécie de luz. Estudar nessa Universidade era algo bem desejado, mesmo que poucos se dessem a esse trabalho, por ser ela mais fora de mão do que a outra. Eu mesma vinha preferindo a outra por essa razão. Isso fica tão tênue que quase escapa da percepcão. No fundo todo mundo preferia essa Universidade, eu mesma preferia, mas por um conjunto de razões variadas, a maioria das pessoas, eu incluída, acabava concluindo que não era uma opção.
Quando percebo isso da foto me breco, tipo quando a gente quase passa entre a pessoa que está na rua tirando foto de outra pessoa e atrapalha tudo.
– Estava entrando na foto, já imaginou? eu penso.
Então fico vendo a Universidade e cogito talvez estudar lá.
Mesmo sendo uma instituição seletiva, não existia nada de concreto que me impedisse. A parte de mim que estava enganchada nos meus objetivos via aquela mudança como um enorme transtorno, quase inviável, mas nem era. Eu já estava ali. Tudo que tinha a fazer era oficializar a mudança de Universidades. Então começo a ter vontade de fazer xixi. Olho ao redor. Não avisto nenhum banheiro ou talvez, talvez até avistasse, se procurasse por um avistaria com certeza, deve haver banheiros em todos os andares, mas começo a pensar comigo que os banheiros do andar de cima com certeza estariam mais limpos por ficarem mais longe do público, então se eu subisse as escadas e entrasse mais na Universidade, encontraria esses banheiros para fazer um xixi melhor, no segundo andar do prédio, o andar onde ficam as salas de aula e provavelmente também a Sessão de Alunos, onde são oficializadas mudanças de Universidade. Apesar de me achar a mais boba do mundo com todas essas auto-manobras, pelo menos, pelo menos finalmente estou na Universidade que quero e agora vou estudar aqui de qualquer jeito.
{4 de fevereiro de 2024}
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