SEIS DE PAUS

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6min de leitura

Antes que me esqueça: a carta mesmo era um 6 de ouro, mas ele falava “paus”.

Num ambiente que remete a aquela parte do Porto Seguro onde teve a graduação de grau do colegial, há uma longa bancada, mas longa mesmo, algo com uns 8 metros de extensão por 1 de profundidade. Está sendo dada uma espécie de aula, sendo que o professor é aquele tarólogo Radko do YouTube. Não chega a ser uma aula de fato, não saberia dizer porquê. Fica algo entre ser uma aula de verdade e um forecast dele que está sendo feito ali ao vivo.

Os alunos estão todos do outro lado da mesa de pé e Radko fez uma fileira de cartas de baralho viradas para baixo sobre a mesa, uma leitura do tipo aquela em que se escolhe a carta e se vira.

Eu estou mais para o lado esquerdo da mesa e no que ele faz a fileira, meio frouxamente com a mão, logo me ligo numa carta que sinto me atrair e ao invés de escolher outra ou olhar outras, vou nisso que senti e de alguma forma escolho a carta acho que tirando ela da linha e colocando um pouco acima dela, mas sem desvirar.

Outros alunos estão ali e eu não disputo a atenção do Radko, mesmo assim, acho que depois de comentar algumas poucas cartas de outros alunos, ele pega a minha e desvira.

Estamos bem próximos agora, quase frente a frente.

Pela expressão dele já vejo que não é coisa boa.

Digo isso não lembro em que frase.

Ele concorda apenas com a expressão também. Não sei se é nesse momento ou depois que desvira a carta e vejo que é um seis de ouro.

O diálogo corre assim, até onde posso lembrar.

Fico quieta e tento não atrapalhar os pensamentos dele.

Depois de ficar um tempo fazendo expressões que deixam claro que aquela carta é algo bem nada de bom, ele pergunta:

– Você tem um sítio?

Eu estava indo no fim de semana para uma sítio que lembrava mais a chácara do meu avô do que Pouso Frio.

– Sim.

Nesse momento um aluno se colocou ao lado direito dele, esquerdo meu e fica olhando a carta, pois o objetivo da aula era meio como se fosse ensinar tarot, mas usando isso na prática com os alunos.

Radko parece estar tentando intuir de onde viria a tal coisa ruim.

– A água desse sítio...de algum jeito...

Ele não consegue completar a frase ou a idéia mas fica claro que ele pergunta se a água do sítio tem risco de estar envenenada. Não fica como se o perigo fosse eu me afogar e sim da água ter algo nela.

– A água é mineral,não tem nada, digo.

Até no sonho noto que digo mineral, mas estou certa, é água de fonte.

Eliminada essa possível ameaça, ele pensa mais um pouco e pergunta:

– Você tem algum namorado ou caso amoroso lá nesse sítio?

Respondo com 100% de clareza:

– Não.

Nesse momento, apesar de estar sim impressionada com a carta, não consigo deixar de estar super atraída por ele e desejando que aquela pergunta sobre namorado fosse por razões pessoais, coisa que acho bem pouco provável.

– Que signo você é?ele pergunta.

– Virgem, respondo, como se aquilo atestasse alguma pureza pessoal também.

Ele parece embatucado, como se todas suas hipóteses tivessem sido descartadas. Seria como se achasse que tivesse que justificar algo quando me fala:

– Todo mundo sabe que 6 de paus é Saturno vindo e te colocando no seu lugar...

Faz uma pequena pausa.

– ...ligado a arrogância.

Arrogância?penso comigo. Sim, já fui bem mais arrogante mas mesmo agora de vez em quando tenho momentos, ou será que sou arrogante e não percebo?

De qualquer forma, e esse é o pensamento que me dá certo alívio, não é como se estivesse super bem, Justamente o que não ando tendo há muito tempo é motivos para ser arrogante. Como tantas vezes penso quando escuto prognósticos mencionando dureza, isolamento, esforço, é que já estou assim, então não tem como “piorar”.

– Mas pode não ser ruim, não?

Ele olha a carta confuso, mas sua expressão de que é sim algo negativo se mantém e talvez seja nesse momento que diga a frase sobre Saturno.

Isso se esgota. Saio dali preocupada mas não apavorada. Vou no banheiro, sento no vaso fechado e rezo assim:

– Guias,sei que tenho momentos de arrogância ainda, mas meu desejo de mudar é sincero e vocês sabem. Vocês sabem.

Depois disso fico mais apaziguada e rola a seguinte coisa.

Saí do banheiro e estou numa sala que pensando bem, remete a cozinha da casa do Pouso Frio.

Uma garota loira, mais baixa que eu, que não tinha me ocorrido remeter a Clarissa e de fato,e la tem feições bem americanas, poderia lembrar aquela cantora loira country Elle King Ex’s and Oh’s mas não gorda e que está totalmente nua com algo no cabelo que não sei o que seria mas funciona como uma shampoo, que faz aquela massa meio rígida no cabelo.

Essa moça está de costas para uma bancada, de fato lembra bem a cozinha do Pouso Frio e me olha rindo e já sei que sua intenção é meio que me zoar por que o Radko, com quem eu estava ou não envolvida, o sonho consegue deixar isso em aberto, tinha “casos”.

Aqui acontece algo bizarro, pois sei que ela vai dizer isso, meio entre sério e brincadeira, levando na brincadeira mas procurando me atingir,e preparo uma resposta na cabeça mas quando ela de fato fala isso, toda ela aliás, parecendo uma pequena Vênus ali toda nua, eu abro a boca e o que me sai é algo completamente diferente.

Nesse momento o Radko está ali a minha esquerda, mas atrás de um corredor que iria na direção paralela a mim,s eparado de mim por uma parede.

Começo a brincar dizendo:

– Sim,ele tem e não me importo. Quem se importaria? Olha essa voz, esse cabelo, esse homem...

Se havia mesmo alguma má intenção da menina ao dizer aquilo, ela se esvai porquê acha graça na minha brincadeira e se desarma.

Todos rimos e eu prossigo:

– Quem é você para falar dele, seu cabelo está horrível.

A moça era linda mesmo com aquele shampoo na cabeça, então faço esse comentário sabendo que isso não a torna feia, mas existe sim agressividade nisso.

Aquilo fica como uma “resposta lacradora”e o Radko comenta algo nesse sentido, como se dissesse “arrasou”, algo assim e saímos.

Ele não é mais 100% Radko naquele momento e fica um tempo eu e ele ali eu querendo que a coisa role mas derepente a cena é outra.

Estou numa sala me preparando para voltar para casa.

Essa sala,onde tem mais gente, seria na parte alta do Porto Seguro.

Carrego minhas coisas com dificuldade, tem algo comprido comigo que parece ser uma prancha.No que abro a porta para o que seria a saída, dou com um breu absoluto.

Esse lugar onde estou com essas outras pessoas se abre para um páteo e nele posso ver pessoas sentadas ao redor de mesas circulares de concreto.

Parecem pessoas da escola e estão ali numa boa. A escuridão é total mas essas pessoas podem ficar ali esperando que se resolva.

Mas eu teria que ir através dela, pois minha mãe está me esperando no outro portão, o de baixo,eu teria que cruzar o colégio todo e naquela escuridão completa isso é impossível.

Fico meio pensando no que fazer, ainda por cima posso desencontrar da minha mãe, não vou nem enxergar o carro e não vou conseguir ver o teclado do celular, fora que sempre estou sem crédito e ele não liga. Acho que apoio um pouco minhas tralhas na mesa e fico pensando o que fazer.

Ao meu redor pessoas conversam amigavelmente, o clima não é ruim e ali existem pequenas luzes, mas se eu me embrenhar pela escola, não terei luz alguma e estarei sozinha.

Volto para a sala de onde saí apenas para me impedir de fazer isso, de me meter a ir pela escuridão.

Ali dentro um homem vem me oferecer uma lanterna improvisada.

Achava que não contaria com a ajuda de ninguém, mas ele me oferece uma lanterna. É feita de um garrafão de coca cola que tem o formato desses garrafões de água e tem uma líquido dentro que se eu chacoalho a garrafa, faz luz, mas tem que ficar chacoalhando de tempos em tempo.

Pronto, com isso posso ir, mesmo que me assuste a questão de desencontrar da minha mãe e não ter como ligar para ela. Saio novamente levando essa lanterna, mais uma coisa super trambolhosa que tenho que equilibrar ali comigo e essa prancha longa fica batendo em tudo. Mas acho que vou acabar indo pela escola.

{10 de abril de 2018}

SEIS DE PAUS

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