A ESCRAVA BRANCA

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Sei lá porque quero escrever esse sonho. Devia é escrever aquele em que eu perco o controle das pernas, caio e fico meio paralizada no chão, que parecia mais importante. 

Mas esse foi assim: estou em uma casa de cidade de praia que lembra um pouco a casa daquela praia que a minha família ficou na última vez que viajou junta, acho. Lá em Barra do Una. Bom, estou eu e umas pessoas e estamos em poder de três bandidos muito maus, um homem que é o chefe, uma mulher meio tonta que é namorada dele e o amigo dele. A coisa já está durando um certo tempo e agora, estou na expectativa se serei libertada ou não. Tenho uma passagem marcada de avião para volta para casa e o chefe so bandidos ficou de me levar no aeroporto. Estou muito ressabiada, achando pouco provável que ele me liberte, mas estou cautelosa, querendo ver o que vai acontecer. Estou na casa, já com tudo preparado para a viagem, sentada num páteo com a namorada do bandido e uma criança que é bandida também. A namorada do bandido quer vistoriar minha bolsa, não sei por quê. Ela pega minha bolsa e começa a jogar o conteúdo no chão, de qualquer jeito. Joga minha carteira, depois minha carteirinha de cartão de crédito. Me dá ódio ver ela jogar coisas minhas tão preciosas no chão, mas me controlo, por que estou em poder deles. Pego as coisas e começo a arrumar a bolsa de novo, como se nada fosse. A criança bandida começa a me encher também. Não lembro direito o que ela faz, mas me irrita muito também. Mas também me controlo e falo com ela que quando eu voltar vou trazer um enorme pirulito para ela, se ela está feliz com isso? Estou fingindo para os bandidos que está tudo bem e que eu estou me submetendo à eles. Não deixo transparecer nada, eles devem estar mesmo pensando que me submeti completamente. Então a chefe chama a namorada, fala uma coisa com ela. Ela volta e me diz que o chefe acabou de decidir que eu vou ficar na loja deles no Rio, tomando conta da loja para eles. Ao invéz de me libertar, vão continuar me dominando. Eu concordo como se nada fosse. Estava achando mesmo fácil demais ser libertada assim. Por dentro, sinto ódio e penso que estão me transformando em escrava branca, sou uma escrava, e terei que fazer o que eles querem. 

Sinto que chegou a hora de agir. A namorada do bandido me diz para irmos para o aeroporto, e eu digo: tudo bem, vou só terminar de comer isso. Estou comendo abacate batido numa tigelinha. Digo isso bem casualmente. Ela então diz que ela e o bandido chefe vão dar uma saída, e na volta, passam para me pegar. Eu vou até a cozinha. O amigo do bandido está parado em frente à porta da cozinha, meio que de vigia. Dentro da cozinha está o Jude Law, que é mais o personagem Dickie do filme, do que o ator mesmo. Ele também é prisioneiro. E como estamos todos aparentemente cooperando, os bandidos estão num clima meio de camaradagem. Esse bandido trata o Jude Law quase como se fossem amigos. Mas não são. Entro na cozinha. Meu plano é pedir socorro para o Dickie/Jude Law. Como ele é malandro, acredito que terá coragem de lutar com os bandidos. Ele também me lembra um apouco o Mauro namorado da Renata. Entro na cozinha, comendo o abacate. O bandido fica lá fora. Tem um garoto de uns 14 anos na cozinha, mas ele também é refém dos bandidos. Digo para o Dickie: me salva!

Ele imediatamente fala: Shhhh. E começa a fingir uma conversa comigo e bem na hora, por que o bandido entra, desconfiado. Quando vê que a gente está conversando, fica aliviado. Não sei o que fazer. Vi que o Dickie Jude Law não vai fazer nada por mim. Para ganhar tempo, começo a lavar uma louça que está na pia. Imediatamente o bandido e o Jude Law dizem, em tom de camaradagem: que é isso, Silvia, deixa isso aí, Silvia.

Fico com mais ódio ainda. Estou sendo transformada em escrava branca e o bandido fica dando uma de que se importa comigo, em não me dar trabalho.

E penso com certa tristeza que devo estar passando uma imagem de alguém que acha que só serve mesmo para escrava branca, indo ali lavar a louça, depois de tudo. Vou saindo da cozinha. O bandido, agora relaxado, conversa com o Dickie Jude Law, de pé na soleira da porta. Passo por ele, pensando desesperadamente no que eu devo fazer. Estou por conta própria. Logo na saída da cozinha, há uma churrasqueira e sobre ela, um espeto de carne. Me passa pela cabeça que poderia pegar o espeto e bater na cabeça do bandido, que está distraído e de costas para mim. E a oportunidade seria perfeita, já que os outro dois estão fora e seria fácil dominá-lo. Ou mais fácil, pelo menos. Mas não tenho coragem. Me parece impossível que eu consiga vencer fisicamente um bandido. Penso em aproveitar e sair correndo. Aqui é o pedaço mais curioso do sonho. No sonho , isso não é uma boa idéia, por que deixei minha bolsa com meu dinheiro lá em cima e não daria tempo de ir buscar. Porque eu preciso de dinheiro para fugir, eu não sei. Eu poderia correr e pedir ajuda no vizinho, sei lá. Chamar a polícia. Mas no sonho nada disso é possível. Se eu fugir, sei que serei perseguida e capturada, e se estivesse com dinheiro, teria chance de ir mais longe.

Pensando racionalmente, a explicação desse sonho é como eu me sinto em relação à Brand Champs. Estão me fazendo de escrava branca e eu aqui, sorrindo e lavando a louça deles. E achando que não posso com eles.

Se no sonho eu soubesse que era um sonho, pegava o espeto e dava na cabeça do bandido, só para ver o que acontecia.

{ 21 de junho de 2007}

IMAGE CREDITS RAISSA RICARDO

A ESCRAVA BRANCA

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