OS CINCO OU SEIS ANOS DEPOIS QUE A PESSOA MORRE

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{24 de novembro de 2025}

Tem ultimamente uma certa expectativa diferente minha em relação aos sonhos. De uma forma difícil de explicar e até de entender, sonhar ultimamente vem sendo encarado como uma espécie de aventura noturna.

Mesmo que eu leve super a sério e ache sim que ali está a verdade sobre mim, muito mais do que as coisas que penso e acho acordada.

Desde o início a Adriana Lima, a modelo, faz parte do sonho, mas não está nele o tempo todo. Está difícil lembrar como que inicia mesmo. Acho, e apenas acho, não tenho certeza, quando a Adriana Lima me fala dos cinco anos depois que a pessoa morres, já existe esse contexto de que nós, o meu grupo, que não chega a incluir ela, mas ela seria uma visita esporádica, nem chega a ser amiga de fato, sendo que meu grupo seria basicamente minha familia, talvez só ela, mas nosso grupo e todas as pessoas ali vivendo no jardim da Gregório, pois tem mais gente além do meu grupo, bastante até, parece ser umas 30 pessoas desconhecidas, mas convivendo ali, de qualquer forma, toda essa gente, Adriana Lima incluida, já está determinado para sermos executados pelos nazistas. É fato. Então esse contexto é que faz com que a Adriana Lima, não com o rosto dela 100% igual ao da vida acordada, mas bonita, e isso importa, como se verá adiante, sentada a minha frente numa das mesas de madeira que estão no gramado, me diz muito seriamente que ela ouviu dizer, de fonte respeitável, que depois de morrer, a pessoa continua leva uns 5 anos para desencarnar por completo, e esse tempo ela continua levando suas coisas normalmente. Aquilo fica ali como uma conversa secundária, enquanto eu tento processar essa coisa de que em breve, nada além de um mês no máximo, os nazistas, que nos tem em seu poder, iriam nos executar. Ele vinham fazendo isso com todos e era a nossa vez. Haviam poucos quintais com gente vivendo ainda. Depois de pensar, chego a conclusão de que o melhor a fazer era arrumar nossas coisas o melhor possível, como se não houvesse esse deadline. Literalmente um deadline. Começo a arrumar todas as coisas minhas e da minha familia em pilhas organizadissimas, em linhas super retas ali no jardim. São coisas concretas mesmo, como panelas. Eu capricho ao máximo. Minha mãe fica brava, e de pé na minha frente, num lugar que não é o jardim, mas faz parte ali da nossa prisão, pois estamos presos alu, me diz me olhando com raiva:

- Mas você quer ficar arrumando tudo mesmo sabendo que estamos condenados a morte?

- Sim, eu respondo.

Minha vontade prevalece, todos se envolvem nas minhas arrumações, todos da minha família, quero dizer, e como resultado disso foi realizado um almoço familiar ali na ness de madeira. Toda minha família está sentada na mesa, o tempo é agradável, faz sol, tem comida e todos conversam alegremente, como costuma ser quando minha família se reúne. Sentada ali escutando a conversa, penso comigo que foi graças às minhas arrumações que se tornou possível essa reunião festiva. Não fica uma lógica racional, mas essa reunião festiva era fruto do trabalho caprichado de arrumar as nossas coisas, que agora formavam fileiras de pilhas altas e perfeitas ali no jardim. E eu começo a fantasiar que talvez isso de alguma forma tivesse o poder de alterar nosso destino, os nazistas mudassem de idéia e nos deixassem viver, mas infelizmente a nível simbólico não é isso que ocorre. Minha mãe pede algo, acho que pimenta, seria um potinho com um pó alaranjado, e a pimenta que comecei a usar aqui na vida acordada é alaranjada e fez uma grande diferença na minha comida, aforo pimenta. Eu me levanto e vou buscar, para isso indo em meio às pilhas das nossas coisas que formaram uma espécie de labirinto de paredes de coisas ali entre onde estava a mesa de madeira e o muro no fundo do jardim, e quando eu chego na parte do muro...

Uma das pessoas do restante do tal grupo de quase 30 pessoas que coabitavam ali, um menino de uns 15 anos, está amarrado de pé num pilar de madeira preta, com os braços para cima e amordaçado com arame. Ao lado dele, quase colado, outra pessoa na mesma situação. Olhando para minha direita, sendo que estou de frente para o muro, já vejo os nazistas, vestidos com uniformes de SS, deitando pessoas no chão, numa fileira rente ao muro. Fica claro que aquela é a execução, que primeiramente eles tentaram colocar todos amarrados em postes, mas vendo que não cabia, resolveram deitar todos no chão. Estou ficando com medo desse sonho agora escrevendo, coisa que curiosamente não tive durante o próprio sonho. Lembrei de um detalhe agora. Quando estamos sentados na mesa e tudo é bom e eu penso aquilo de que talvez isso altere nosso destino, de repente ali onde seria a parede de vidro dos fundos do salão da Gregório, pois era bem nessa parte do gramado que estava nossa mesa, numa horizontal paralela a essa parede, ao invés da parede de vidro existe um alto muro branco de um terreno vizinho, e bem junto a ele do outro lado, está em movimento lento uma betoneira que seria tipo umas três vezes o tamanho de um caminhão betoneira normal, e esse caminhão está com aquela parte que gira para fazer o cimento girando, e isso lança uma nuvem de pó de cimento sobre nossa mesa. Não chega a ser algo que estrague tudo, aliás, a refeição prossegue tão animada e descontraída quanto, apenas um certo inconveniente ali que todos relevam, e é nesse momento que minha mãe pede a pimenta, eu me levanto para pegar, notei a betoneira, não estou achando nada de mais mesmo que eu veja que meu copo, ou algo que seguro, se tornou coberto de pó de cimento e aquilo me passe uma impressão meio sinistra, como um presságio, e instantes depois já vejo a execução sendo preparada pelos nazistas e mal tenho tempo de pensar que sim, foi um sinal. O nazistas não viram ainda nossa mesa porque ela ficou oculta atrás das fileiras de arrumações, mas vão ver. Ainda tenho tempo de pensar que minhas arrumações proporcionaram para minha família aquele último momento de felicidade, mad agora é o fim. Não temos como fugir.

- E fugir poderia piorar tudo, pois eles poderiam nos punir com crueldades, eu penso.

Não dá tempo de nada. O que eu faço é o que seria o mais crucial salvar, que seria o João criança, com uns 5 anos. Eu pego ele, o abraço de forma a envolve-lo totalmente com meu corpo e já me deito com ele na fila no chão, colada ao muro do fundo do jardim, já vendo os nazistas do pelotão com metralhadoras, aguardando estar tudo pronto para metralharem a gente. Um dos oficiais nazistas que estavam organizando essa fileira dos condenados, até com certo bom jeito me separa do meu irmão, ordenando que nós dois continuemos juntos, mas lado a lado de barriga para cima, para os tiros serem mais eficientes e eles não precisarem ficar checando se estávamos mortos e tendo que atirar de novo. Isso me confy que naquela situação, a melhor coisa seria colaborar para ter uma morte rápida, o que também parecia ser do interesse deles. Penso em minha mãe, que acredito ter sido amarrada em um dos postes. Nem deu tempo de me despedir dela. De qualquer forma, logo estaremos todos mortos e essa cena encerra com um vago som das metralhadoras já sendo disparadas, com a saraivada de balas se aproximando de mim e do João. Ainda penso se os tiros vão doer. Já ouvi dizer que muita gente leva tiro e não sente. De qualquer forma, eles estão atirando para matar, então estou relativamente segura de que não será doloroso.

Então corta direto para. Fui morta e estou noutro lugar, mas ainda na Terra, pois como disse a Adriana Lima, leva uns 5 anos para desencarnar de verdade. Esse lugar onde estou não é o restaurante As Meninas, na Padre Carvalho, mas tem uma disposição parecida. Um lugar aberto, mais ou menos do tamanho do páteo do As Meninas, mas eu, que estou sentada numa mesinha de frente para o corredor, tenho a minha direita um espaço sem muros. Nem o João nem ninguém da minha família está comigo. Tem ali de pé uma vaga figura feminina com essas roupas meio batas alternativas e umas pessoas esparsas Não estou pensando em nada em particular quando vejo a Adriana Lma caminhando pelo corredor na minha direção. Ela entra nessa parte qye seria o equivalente ao páteo do As Meninas e se põe a conversar com a figura feminina indistinta. Escuto perfeitamente a conversa e agora escrevendo não lembro o assunto. Espero que volte pous importa. Tendo encerrado essa conversa, na qual a Adriana se mostra totalmente a vontade, ela cem falar comigo, já em tom diferente. Senta-se na minha frente não tão sorridente quanto estava ao falar com a mulher indistinta. Eu no fundo sei que ela não me considera amiga e vem falar comigo apenas poe formalidade social, uma vez que me conhece, mas eu tolamente me sinto tão prestigiada pela atenção dela que não consigo evitar de a tratar como se fosse minha melhor amiga e ficar naquele estado meio over enpolgado.

-Eles te mataram? é a primeira coisa que pergunto, pous esse era o grande assunto ali no momento. A Adriana estava no mesmo grupo de condenados ali no quintal da Gregório, mad essa era a segunda vez no sonho em que estava falando com ela e nisso tenho que destacar e enorme e importante,como já tinha anunciado, mudança física bela. Adriana estava não gorda, mas uns 6 kilos acima do peso, com um rosto que não chegava a ser envelhecido, mas branco e amorfo e um cabelo esse sim, bem ruim. Era um corte curto altura chanel, mad meio desleixado, tingido de loiro cheezetos. Esse símbolo me parece bem claro, pois na vida acordada já pensei umas vezes que cabelo loiro cheezetos muitas vezes é o ultimo recurso da mulher que já está destituída de beleza tentar forjar alguma. Ali era bem o caso dela, mesmo que, novamente, ela não estivesse envelhecida, e aparentasse menos de 40 anos. Enquanto conversamos estou pensando em todas essas coisas, mesmo que por educação e não falsidade, procure nada demontrar

- Sim, mataram, ela responde.

-Como?pergunto.

Adriana Lima responde algo confuso que me passa a impressão de que teria sido por enforcamento. Por dentro dou graças a Deus de ter sido fuzilada e não enforcada.

- Eles me mataram também, digo alegremente. Mas foi rápido e não doeu, graças a Deus.

- Então, prossegue ela. Não tenho certeza se aquilo que falei dos cinco anos seriam cinco ou seis.

Fico pensando nisso e nesse momento não estou mais dividida entre o que penso e o que digo. Estou totalmente pensando nisso, pois se haveria algo de positivo nesse violento sonho, era o fato de que o pior tinha passado. Quando acordei pensei comigo que uma coisa que eu diria para ela seria que esses cinco anos morta mais ainda não desencarnada seriam os melhores da minha vida, pois eu estaria livre de todas a milhares preocupações que tinha, uma vez que nada de ruim poderia mais ocorrer. Mas no sonho quando estamos nesse ponto, a Adriana Lima se levantou e parece querer voltar a conversa com a figura feminina indistinta e eu, mesmo consciente de que ufo indica que ela fale comigo apenas por cortesia, vou atrás dela emendando no assunto sobre o qual tinha escutado ela falar com a figura feminia indistinta ao chegar, fazendo comentários, falando depressa, querendo abarcar tudo. Nisso Adriana chegou junto da figura feminina indistinta, que ainda está de pé ali do lado, próxima o suficiente para que o fato de eu ter mencionado a conversa anterior delas não ficasse como intrusão, e sim quase como uma conversa pública, e Adriana retoma o papo com ela muito mais animadamente do que estava ao falar comigo e a última coisa que tenho brecha de dizer a ela antes de me tornar uma espectadora ali da conversa entre as duas é:

- Mas que cousa esses nazistas, hem? Se desse para fazer alguma coisa...

É a primeira vez que tenho esse movimento de reação a aquela opressão que eles estavam realizando, para dizer de maneira leve, estava mais para atrocidade do que simples opressão, porquê pela primeira vez eu não estava mais a mercê deles, já qye estava morta. Começo a fantasiar voltar ao quartel ou sei lá, campo de concentração do quintal da Gregório, agora apenas ocupado por eles, uma vez que tinham matado tidos nós e dizer:

- E então, nazistas. Vocês me mataram ontem, beleza? Estou aqui.

Mas fico na dúvida. Que pider eu teria contra eles? Nem ao menos tinha certeza de eles não terem mais nenhum poder sobre mim. Se atirassem em mim, como com certeza fariam, eu não tenho mais corpo? Ou tenho um corpo que está morto e que reagiria sei lá como ao ser atingido? Estou morta, mas ainda sou passivo de ser aprisionada? São dúvidas. E de quer adianta ir lá ficar arreliando os caras? Isso não resolve nada. Eu vi que estava acordando, tentei me mater no sonho ainda um pouco mas não deu.

OS CINCO OU SEIS ANOS DEPOIS QUE A PESSOA MORRE

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