{16 de novembro de 2025}
Cada noite uma saga. Duas cenas principais que lembro.
Estou sentada no chão, enrolada numa coberta, de roupa tipo moleton, de pantufas até. O chão não está sujo nem nada de desagradável. Do nada, de repente, ali a uns dois palmos na minha frente, um enorme escorpião, muito fora da realidade de um escorpião, pois ele tem, na verdade, o tamanho de uma lagosta e é peludo como uma aranha caranguejeira. Ele se desloca numa linha reta passando na minha frente, não está vindo na minha direção, e não está caminhando rápido, tanto que no que na minha cabeça estou processando aquilo, pois não é um bicho comum de se encontrar em casa, no que estou pensando "meu deus, é um escor..."..
Ante que a frase se complete na minha cabeça, eu, com um único golpe, atinjo o meio do corpo do escorpião com uma das patas do bicho de pelúcia marrom que tenho comigo. Sendo o escorpião um animal sem esqueleto, o golpe, que mesmo sendo de um bicho de pelúcia, é dado com toda força, esmaga a parte central do corpo do escorpião. Ele pára e aos poucos, morre. Eu mal posso acreditar que fui capaz de eliminar uma ameaça dessas, ainda por cima com um golpe de um bicho de pelúcia. Fico observando, achando que o bicho pode ainda estar vivo, mas ele não está. Não gosto de matar nada, mas fico contente com essa parte minha que instintivamente e prontamente eliminou uma ameaça antes mesmo que minha mente terminasse de processar que era uma ameaça.
- Imagina ter esse troço ai pela casa, eu penso.
Mas já está resolvido e agora a questão são duas. Primeiro, a parte do meu bicho de pelúcia que atingiu o escorpião e entrou em contato com a gosma dentro dele. Não me parece um problema muito grande. Não chego a pensar que posso lavar o bicho de pelúcia na máquina, colocando bastante desinfetante, mas sei que é algo tranquilo de resolver
A outra questão é mais complicada. Como retirar o bicho morto. Não é algo que dê para catar com papel toalha, mesmo com luva. Sei lá. Nem é o risco de veneno, algo assim, mas o nojo. Apesar de não ter hesitado um segundo em matá-lo, não me sinto capaz de fazer essa remoção eu mesma. Então penso em pedir para meu pai. Ele é homem e homens não sofrem tanto com esse tipo de coisa, não será tão difícil para ele quanto para nim. Esse pensamento me acalma e dou a coisa por resolvida e acho, não tenho certeza, que é nesse ponto que o sonho já emenda na outra cena, que foi muito, muito nitida e vivida com intensidade por mim. Estou num teatro. As dimensões e a disposição geral é bem igual ao do Teatro da Hebraica, mas não fica colocado que fosse ele. Estou sentada na segunda ou terceira fileira, na lateral direita do auditório, para quem estivesse de frente para o palco. Estou acho que no extrema final da fileira ou quase, ou seja, bem perto da parede direita do Teatro, do ponto de vista de quem, como disse, estivesse de frente para o palco. O auditório está cheio. A situação na qual estou envolvida me intrigou, avordada, por dois motivos. Prineiro por ser uma reprodução exata de algo que penso muitas vezes na vida acordada e isso é raro. Acho estranho essa ideia de serem os sonhos como que um eco da vida acordada, pois para mim quase nunca é. É tão raro que quando acontece chama a atenção. E a outra coisa quw me chama a atenção é que, mesmo pensando isso na vida acordada muitas vezes, não me parecia algo que me atinja profundamente, mas pelo jeito é. Senão, não teria sinhado e no sonho sofro muito com a situação, que seria assim. No início estou acompanhando, como toda a plateia, uma cena representada por dois atores, que tem tanto a ver com o Nando e o J que fica essa pergunta de porquê então o sonho não colocou o Nando e o J de uma vez, ou as pessoas reais ou os atores do seriado. Ao invés disso, o J, acho, o personagem mais sério, é interpretado por uma figura masculina mega recorrente em sonhos, mas sem paralelo na vida real e que me evoca, não faço idéia porquê, o nome Luis. Seria um honem jovem, menos de 40, com um monte de pelos negros no rosto: cabelo denso negro, mesmo que curto, barba e bigode negros, sobrancelahas negras. Ele está sentado numa cadeira de frente para o palco, contracenando com o seu amigo, uma figura masculina só um pouco mais jovem, que caminha ao redor do palco. A cena é um diálogo entre os dois, um diálogo engraçado, escrito e dirigido por mim. A cena está agradando, a plateia acha graça. Eu estou contente. E então a cena conclui, e meio como em um show de música, no qual tem bis, os atores resolvem espontaneamente continuar a cena, e esse barbudo começa a improvisar. O fato dele fazer isso não chega a ser nada de mais, seria como um bis num show mesmo, mas ele começa a improvisar com o outro ator uma cena muito mais longa que a própria cena que fazia parte mesmo da peça, ou apresentação, e vai improvisando um texto da cabeça dele, que é muito mais tosco do que o que eu escrevi. O ator está se achando e vai ali falando e falando e o que me incomoda nem é um ter medo de acharem que fui eu que escrevi aquela besteira ou ficar me sentindo desautorizada pela liberdade dele, mas é ver todo o cuidadoso texto que eu tinha criado e ensaiado ser submergido por uma enxurrada espalhafatosa de texto ruim. As oiadas são óbvias e ruins, grosseiras. As frases são ruins.
Na hora em que ele finalmente cala a boca, eu me levanto e falo bem alto:
- Olha, eu não gostei disso aí não.
Querendo me referir ao texto.
Mas imediatamente a platéia começa a bater palmas entudiasmadas. Fico muito afetada por isso.
- Nossa, eles não percebem a diferença entre um texto bom e um texto ruim. Para eles é a nesma coisa.
Mas mesmo abalada por essa constatação, tudo o que está rolando ali ainda me pertence, é a minha produção teatral e eu devo me impor, não por nada, mas eu sou a autora. Então continuo falando algo nesse sentido de tomar as rédeas da situação, mas o ator barbudo, animado pelas palmas e sendo o centro daa atenções ali, fala bem alto ainda do palco:
- Agora me deu vontade de ir não sei onde fazer não sei o quê.
Não fica claro a frase, mas ele, depois de ter usurpado o meu texto, usurpa a produção, pois ele se levanta e sai e toda a platéia sai junto. Fico sozinha no auditório.
Teve mais coisa esse sonho, eu vou também não sei onde tentar recuperar não sei o quê. Mas o que ficou foi um prolongamento da cena do escorpião. Estou de volta a aquela sala residencial, ainda de moleton, ainda sentada no chão, mas mais distante do ponto onde estava o corpo morto do escorpião. E no que olho para ele, o corpo se encaixotou. O corpo tomou a forna de uma caixa reatngular do comprimento e largura do escorpião, mas baixa, assim de um centímetro de altura. Não que ele tenha virado uma caixa, o seu corpo depois de morto, como se fosse seu processo de decomposição natural, tomou a forma dessa caixa.
- Ficou bem mais fácil de remover, eu penso.
E nisso minha mãe, que também está de moleton, está deitada dentro de uma pequena barraca de camping montada ali no meio da sala, não exatamente no local onde na parte inicial do sonho eu ne encontrava sentada, e bem junto do escorpião, suficientemente afastada dos dejetos do animal.
Eu digo, preocupada:
- Olha, cuidado, matei um escorpião e...
Antes que eu termine a frase ela me diz, ali pela abertura da barraca:
-Eu vi, eu vi a trilha de gosma no chão.
Realmente, a barraca não estava encostando em nada do escorpião, nem no corpo dele nem na trilha de gosma que tinha no chão. Estava com receio que minha mãe não tivesse visto e por acidente encostasse em algo do bicho. Tranquilizada em relação a isso, começo a contar animada:
- Mãe, você não inagina, era um escorpião enorme...
Estou prestes a dizer: de dois palmos. Não estou contando minha proeza e sim sobre o bicho, que era anormal. Mas o sonho interrompe antes mesmo que eu compkete a frase. Agora relendo, só um comentário. O escorpião era preto. E a "caixa" na qual ele se transforma é uma caixa preta, feita de carne morta de escorpião.