ELES QUEREM TE FALAR UMA COISA

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{26 de outubro de 2025}

Vou anotar nos mínimos detalhes pois é uma benção e um dom e um milagre ter sonhos com esse nível de complexidade e, no caso desse aqui, nitidez. Mas tenho que dizer que foi um sonho meio chatongo.

Já de cara nesse táxi, sentada bem atrás da cadeira do motorista, estou a meio caminho de um lugar ao qual estaria indo já pela segunda vez

No sonho, essa vez anterior não é vivida, mas a lembrança dela está nítida para mim nos mínimos detalhes. Seria uma grande editora, muito afastada da cidade, coisa de mais de uma hora de carro, sem nenhum paralelo na vida acordada. Mas essa editora estaria para os lados de uma região super, super recorrente nos meus sonhos: o bairro da periferia onde todos se perdem. Seria isso uma reminiscência da estrada de Cotia? É algo que vai ficando mais rural, sem chegar a ser de todo, até tem , pelo menos ali no momento inicial do sonho, uma parecença com as estradas que iam para o SBT. A editora, na qual estou pensando ali naquele momento, tem instalações modernas e amplas, dá um certo trabalho fazer as coisas ali dentro por causa dessa amplidão, mas tudo funciona perfeitamente e mesmo que seja algo meio cansativo pois é tudo muito longe e demorado de chegar, desde o trajeto de carro até as coisas que terei que fazer lá dentro, não é nada tenso, com risco de não dar certo.

Estou indo ser paga. Da vez anterior também fui lá ser paga, mas não parece ser o mesmo job. O processo de ser paga é realizado nessa editora em duas etapas: eu tenho que passar numa sala e pegar uma guia de pagamento com um funcionário e depois , cruzando um bom tanto de chão ali, e mudando de andar, levar essa guia até um guichê onde receberia o pagamento, tudo indica na forma de cheque. Até mesmo num momento mais prá frente, meu celular não é snartphone e sim um celular pré. Repasso na cabeça tudo isso que tenho que fazer e começo a repassar a volta para casa. Da vez anterior ou eu andei até o metrô ou tomei um táxi até o metrô. Mas não voltei tudo de táxi, sairia muito caro ida e volta de táxi. Olho então pela janela a minha direita para tentar localizar um ponto importante nessa etapa de voltar para casa. Apesar do trâmite ali dentro da editora ser custoso mas tranquilo, os arredores fora dela me deixavam nervosa. Ainda não era uma paisagem rural, mas esse tipo de arredores feito de muros altos parecendo infinitos, sem portas, sem casas, sem comércio e, aliás algo que é marcante nesse sinho: sem gente. Mesmo as imagens que tenho na mente da editora são de lindas e amplas instalações, mas praticamente vazias. O que vejo passar pela janela é a visão de um muro escuro tão alto e sem aberturas que parece quase uma escarpa de rocha. Justamente o que estou tentando localizar olhando esse paredão infinito negro era um café ou lojinha de comida natural na qual, da vez anterior, eu tinha feito um pit- stop que tinha amenizado aquele entorno inóspito. Tinha tomado um café, relaxado um pouco e em seguida tinha ido numa lojinha que estaria na perpendicular ao lado, que tinha bijouterias. E em seguida retomado meu caminho para casa. Tenho certeza quase absoluta de que isso ocorreu na vida acordada. Quando eu era ilustradora, tinha que ir nas editoras para receber, fui várias vezes na Editora Simbolo e lembro sim de um vez na volta em que me dei essa brecha de descanso, fui num pequeno café e ali bem nessa mesma posição, tipo você sai do café e a uns 10 metros a esquerda, na perpendicular em relação a porta do café, tinha uma pequena porta de uma lojinha de bijouteria onde, também nesse espírito de me agradar, comprei alguma cousa dourada que depois nem gostei muito. Não tinha nada de muito bonito na lojinha, mas a coisa toda foi agradável e algo especial, eu não me permitia muitos momentos assim. Estou focada em tentar localizar esse ponto que tinha esse café e a lojinha pois lembro que da vez anterior isso foi não chegou a ser um um problema, mas uma questão.

- Vou ficar olhando aqui e daqui a pouco vou ver ela passar, está onde não parece que está, da outra vez foi assim.

E de fato, vejo um recorte de vãos naquela fachada negra de muros que parece ser onde estão essas duas lojinhas, a do café, que no sinho curiosamente parece mais ser uma loja de comida natural e a lojinha perpendicular de bijouteria. Mas apesar de ter esse momento de alívio de localizar esse ponto que me tranquilizava em relação a volta, quando passo na frente desse recorte no muro que parece ser feito de uma pedra meio ardósia preta, o que vejo é um paredão fechado, principalmente a parte do recorte perpendicular onde eu esperava ver a porta da lojinha de bijouterias. Me dá uma sensação de opressão ver aquele paredão hostil, negro, árido, invencível, ali onde eu esperava ver uma abertura cheia de coisas bonitas e brilhantes.

- Então acho que ainda não chegou na parte da lojinha. Esse recorte no muro deve ser apenas um recorte no muro que por coincidência é bem igual ao recorte no muro que tinha as lojinhas. Ela era quase chegando na editora. Devemos estar meio longe ainda.

Fico olhando atenta. A possibilidade das lojinhas terem fechado nem me ocorre.

Em paralelo começo a pensar se vale a pena pedir para o motorista me esperar. Talvez eu tenha ficado um pouco insegura por não ter ainda localizado as lojinhas.

E é então que reparo que além do motorista tem um casal no carro, que numa surrealidade de sinho, está sentado ao lado do motorista. O homem super lembra o Guia Espiritual Paul Newman, e a mulher é a esposa dele, que agora escrevendo parece que remete a minha mãe jovem, mas no sonho não penso isso

Nesse momento em que presto mais atenção neles, por que na verdade já tinha dado conta da presença deles, mas estava focada em localizar as lojinhas, tenho um instante em que eu pareço estar voltando a mim, como se tivesse cochilado um pouco, até tenho a impressão de que momentos antes o Paul Newman havia olha de o para trás, me visto dormindo e comentado isso com o motorista, rindo de leve. Aqui tenho que esclarecer algo que depois que acordei e pensei no sonho me pareceu relevante. Nenhum deles, nem o motorista nem o casal me parecem sinistros ou mal intencionados.

Então meio que pula direto para o carro ter parado num pequeno restaurante de beira de estrada e nisso já está bem mais rural a paisagem. Já me vejo fora do carro, acompanhando o motorista, que tem um tipo nordestino, mas um olhar e jeito de falar bem paulista, sem aquela malemolência típica nordestina. Ele me diz:

- Vamos fazer uma parada aqui.

Vou seguindo meio por inércia. Não tenho hora marcada e o percurso é mesmo grande. Entramos no pequeno restaurante que é muito simples, com jogos de mesinhas pequenas e cadeiras de madeira descombinadas.

Desde que desci do carro, não avisto mais o casal, que foi na frente. Quando entramos no restaurante e estou olhando ao redor, na verdade sem saber o que achar dessa parada não solicitada, o motorista se vira para mim e com uma expressão intensa me diz;

- Eles querem te dizer uma coisa e pediram para você subir.

Acho que a ordem das sentenças talvez fosse ao contrário. O restaurante tinha um pequeno mezanino e o casal já havia subido. Imediatamente começo a ver um panorama suspeito ali. Porquê parar? E porquê subir? Digo ao motorista, bem firme:

- Não vou subir. Eles que desçam e falem aqui mesmo.

Aqui é muito significativo porquê muitas vezes tenho so sonhos nos quais me percebo fazendo algo errado, mesmo que não mude de atitude e no sonho pareço estar coberta de razão. O pequeno mezanino, ligeiramente sombreado, poderia estar vazio, como tudo o mais praticamente estava, e se resolvessem sumir comigo ali, ninguém ia ver.

Mas se nós sentassemos numa dessas mesinhas, principalmente essas perto da porta de entrada, eu me sentiria segura. O motorista acho que insiste um pouco, pois lembro que tenho que repetir isso de dizer a eles que desçam. O motorista então, com uma expressão de quem se põe a fazer algo meio sem chance, sobe as escadas para passar meu recado. E nisso eu começo a ter mais certeza de que estou em perigo.

- Querem me sequestrar, vai ver.

Saio do restaurante. Logo a direita da portinha do restaurante tem outra portinha, o lugar é daquele pequenos aglomerados de beira de estrada que tem diversos estabelecimentos, e essa portinha é de um posto de saúde. Dentro tem dois profissionais de saúde com jalecos brancos e um deles é praticamente o ator meio indiano que faz o papel do médico que faz o teste de dna na menina que descobre que não é filha dos pais dela, naquele filme C do YouTube que vi ontem pela metade. Engraçado como os sonhos escolhem elementos da vida acordada aos quais nem dei importância. Pois era aquele médico. Digo a ele:

- Acho que estou correndo perigo, posso ficar aqui?

Digo mais ou menos isso, não super explico, mas minha expressão deve ter transmitido autenticidade , pois o médico, que no sonho era enfermeiro, nem fica colocado como isso, pous ele era um cara de jaleco branco num posto de saúde, sem nada mais que o designasse como nada, mas ele era enfermeiro e não médico, balança a cabeça e em retrocesso percebo aqui que ele foi a única pessoa que acreditou em mim e me apoiou, pois sem absolutamente razão nenhuma, eu vou me sentindo insegura e mudando de pessoa a quem peço proteção, sendo que vai ficando cada vez pior. Parada ali na meia entrada do posto de saúde, um local mega seguro, vejo outro profissional também de saúde sentado na parte externa coberta, na frente das portas do restaurante e do posto de saúde, numa mesinha de madeira das mesmas reduzidas dimensões das mesas do restaurante, que já tinham chamado minha atenção por serem todas mesas de no máximo duas pessoas, mesas quadradas de menos de um metro quadrado. Estava esse profissional de saúde ali, com roupa branca mas não um jaleco, ou seja, menos que um médico ou enfermeiro, e um ar também menos confiável e protetor do que o enfermeiro- médico-indiano-do-filme. Pois mesmo notando tudo isso eu resolvo que estaria mais segura com ele. Vou lá sentar na mesinha e começo a explicar toda a complexa lógica que me levou a achar que eu estava em vias de ser sequestrada. O rapaz, que parece ser meio gay, deve ser uma espécie de triagem para o posto de saúde e me escuta sem se envolver, numa profissional espera de que eu chegue ao ponto da minha história. Eu já tinha começado meu relato dizendo que precisava de proteção e no que ainda estou nuns 30% da narrativa, vejo um grupo de ubs 3 ou 4 policiais fardados caminhando em direção ao restaurante, provavelmente infyo almoçar. Aqui e ali se vêem pessoas que fizeram uma parada para comer algo, ir ao banheiro, mas o local nem de longe está cheio. Interrompo minha frase no meio quando vejo o grupo de policiais, com certeza os mais indicados para me dar proteção, e quando, ainda de boca aberta no meio da palavra volto o olhar para o tal atendente, ele me devolve um olhar e um gesto que querem dizer:, isso, vai, vai lá falar com eles.

Parece aliviado de se livrar de mim. E eu então mais uma vez repito essa dinâmica de abandonar uma situação de proteção em troca de outra progressivamente pior. Pois no que chego ali para o policial de farda e bigode, e sou acolhida com um olhar receptivo, digo:

- O motorista de táxi no qual eu estou está com um comportamento estranho

Aqui é bem louco pois ao mesmo tempo que fico contente de ter conseguido o que ne parece ser uma ótima forma de sintetizar meu problema, o policial imediatamente muda seu olhar de totalmente receptivo para... Ah, mais uma louca que vem me amolar com problemas imaginários ou irrisórios. O motorista ficou estranho.

E fazendo um gesto como o de alguém que espanta uma mosca, passa por mim. Ainda tento insistir com os demais policiais dizendo a palavra sequestro, mas uma vez que a atitude do primeiro policial claramente me classificava como louca, os outros policiais passam sem me olhar e logo ali nesse pequeno páteo não tem mais nem policiais nem profissionais de saúde e nem mais táxi. E eu me dou conta de que meu grande problema agora é voltar para casa de um lugar remoto onde não passa táxi.

Fico meio barata tonta ali enquanto começa a escurecer.

Se fosse uma situação real, o ideal seria voltar ao restaurante, mas é como se isso não existisse. Essa parte do sonho enrola um pouco pous lembro que fico meio desnorteada ali pensando o que seria melhor fazer, vendo a noite se aproximar e me sentindo sem recursos e com medo, mesmo tendo bolsa w celular e de repente é a manhã seguinte e eu ainda estou no mesmo estacionamento desse complexo de beira de estrada mas descansada e revigorada e acho que a melhor e mais brilhante ideia é sair andando por esse lugar já bem rural con esparsos pontos de casas, e tentar me informar como chego ao metrô, que sei e existir por ali.

Vou caminhando e a uns 500 metros do restaurante de beira de estrada dou com a parte do morro onde todos se perdem, pedaço do sopé.

Esse cenário tão recorrente tem algumas poucas variações, mas essa versão, que até lembro de um dos sonhos nos quais apareceu, que foi o em que eu ia numa feira de multi coisas com meu pai, onde tinha tortas e linguiças e um hospital de madeira alternativa, é assim: Ai redor de um morro que fica progressivamente mais tomado de floresta cortada apenas por uma estradinha de terra, algo bem Pouso Frio mesmo, percebo agora, há umas casa instaladas nuns cavocamentos que descem abaixo do nível do solo ao redor da base do morro, e que tem variados graus de civilização. Aqui no sonho de hoje tinha bem pouca civilização, parecia mais um complexo residencial super humilde começando a se instalar ali, que não chegava a ser favela, mas eram essas casas auto construidas toscas bem de ambiente rural mesmo. Eu via mais tapumes meio precatios de madeira fazendo um caminho que ia se afundando ali naqueles barrancos de terra mesmo, nada cimentado, com arremeds de casas quase que nem existentes. Eu dou uns avanços por esses tapumes, consciente de que a atração que aquilo exercia sobre mim não era muito saudável, mesmo o lugar sendo limpo e como disse, não faveloso. Mas meu lado racional diz que se eu seguir em frente, logo vou estar embrenhada em um lugar do qual talvez não consiga sair e que, mais uma vez racionalmente, tem tudo para ser perigoso, mesmo que eu não aviste alma viva ali, outra coisa que chama muito a atenção, pois o local não parecia abandonado.

- Que tipo de gente morará aqui? é o que penso e que quebra de vez aquela espécie de encanto. Me forço a sair dali. Uma coisa que me chama a atenção também é que minha capacidade física está ótima. Não me sinto cansada e me locomovo ágil, leve e ligeira. Aqui não tenho certeza da ordem, mas acho que a parte dos gramados vem antes. No que deixo esse local que percebo exercer uma atração não muito saudável em mim, na sequência mergulho noutro que também parece ser outra modalidade de atração não muito positiva e que tem tudo para ser entendida como o Parque.

Dou com uns gramados verdejantes com árvores e aquilo passa tanta vibração de vida que meu primeiro impulso é sair correndo pelo local. Nesse momento tem umas famílias al, mas nunca muita gente.

Mas mais uma vez me detenho.

-Minha situação continua sem solução, eu penso. É de manhã e estou descansada, mas logo vai começar a cair a noite e se eu gastar munha energia correndo por uma réstia de parque, terei gastado em vão. Vou continuar aqui.

Me pergunto se isso representa meu amado Parque Augusta. Um atenuante numa situação mal resolvida?

Mais uma vez tomo a decisão sensata e não saio correndo pelo parque, que como disse, nem era um parque de fato e sim uma réstia de verde ali. Geograficamente aqueles cavocamentos com tapumes eram o mais afastado do restaurante de beira de estrada que eu havia chegado, esses gramados eram como que um pouquinho só voltando na direção do restaurante mas meio ao lado dos cavocsmentos e assim que eu desvio minha atenção dos gramados vejo outro pinto de interesse que estaria como que formando um triângulo com esses dois pontos, o restaurante e os cavocanentos, e que exigia uma caminhafinha mas essa foi aprovada pelo meu bom senso. Avisto uma pequena vila. Não um semi casario meio perturbador como o dis cavocamentos, mas uma pequena vila de ar europeu com todos os componentes, casinhas, praça, igreja, comércio. Posso pedir ajuda, telefonar e deve ter algum táxi com certeza. Vou até lá. Tenho que caminhar um tantinho, mas é plano e estou, como disse, super bem. Logo chego na tal vilinha e num plot twist sensacional do sonho, assim que chego lá... é uma cidade cenográfica. Sem uma alma a vista. A não ser uma mulher que está sli fazendo não sei o que, e que se dirige a mim com ar solicito e eu só não peço ajuda a ela porquê ainda não sinto que tenha chegado no meu limite, como no filme O Sobrevivente.

- Que eu estou vivenciando, penso comigo.

Volto ao estacionamento do restaurante. Uma criança me vê e comenta com outra:

- Olha, ela ainda está aqui.

Parece que virei uma dessas figuras típicas, a mulher de bolsa que fica andando prá lá e prá cá sem rumo no estacionamento. Nesse momento já conclui que minha única chance é táxi. Num momento da minha vida acordada em que por causa dessa conjuntura drex, guerra, digital id, André e Dr Jerry não vendo problema em nada, será que isso está espelhado nessa situação na qual eu acho que não vale a pena pedir ajuda, será inutil, o mesmo valendo para telefonar, já que estou com celular?

- Mas quem eu posso chanar? Quem poderia vir me buscar? Estou longissimo e nem sei onde estou? Como a pessoa vai me localizar?

Então subo correndo o barranwuinho, esse bem suave, que leva até a estrads mesmo ali do lado do restaurante Minha boa disposição física é um consolo. Olho o movimento de carros, que como tudo ali, é ralo. Já passa pouco carro em di, táxi então, bem improvável. Mesmo assim passa um cheio e mesmo vendo que está cheio, não consigo evitar de fazer mil gestos para ele parar. Ele não pára, claro, mas isso de eu não e evitar de fazer coisas que parecem ser sem chance é o que acaba me salvando, pois em seguida cejo passando mais devagar um táxi desses lotaçãozinha, cheio também, mas não consigo deixar de fazer mil gestos e quase me jogar na frente para ele parar e para minha total surpresa ele pára. Corro até lá. Ele é dirigido por uma mulher nordestina super recorrente nos meus sonhos O carro está ocupado por uma família, uma mulher com um bebê, a filha dela com outro bebê e mais crianças ali em todas as brechas. Eu tenho que lidar com a mulher e não com a motorista, que fica em segundo plano, para conseguir que me deixem entrar no carro.

- A motorista tem todo interesse em me levar, eu penso, sou uma passagem a mais, mas para a mulher, eu não represento vantagem alguma, muito antes pelo contrário.

Mesmo assim ela não é nada hostil.

- Por favor me deixa ir junto, vou logo dizendo. Posso levar um bebê no colo.

Na hora que digo isso, olho rapidamente o interior da lotação, coisa que até já tinha feito. Os bancos, ao invés de serem um na frente do outro, eram um de frente para o outro, como em trens antigos. A mulher mais velha, a mãe de todos ali, era uma mulher jovem, meio gordinha, de ar baiano, vestida bem estilo Largo da Batata, com legging de cor forte e top estampado de flores bem descombinando da legging. Estava de rabo de cavalo. Na frente dela tinha uma menina de uns 12 anos com um outro bebê no colo. Então eu dizer que levo um bebê no colo não abre espaço nenhum aqui. Mas para minha surpresa a mulher não segue essa lógica.

- Porquê eu ia querer que você carregasse neu bebê? Eu quero carregar ele.

Nesse momento eu já estou sentada ao lado da mulher ,que está a minha direita

- Esse bebê, continua ela, viu todos os neus filhos nascerem, crescerem...

Fala suave e ternamente, se dirigindo mais ao bebê do que a mim. A van ou táxi ou lotaçãozinha está em movimento. Provavelmente irá deixar a mulher na sua parada antes, mas eu não me importo que demore ou que fique caro. Estou num carro, me afastando daquele lugar sem solução e indo em direção a minha casa. Penso comigo:

- Ué, mas não faz sentido isso, o bebê nasceu depois de todos os outros filhos dela. Então olho melhor e vejo que o bebê tem uma consistência parecida com o daquele mostro de IA di festival da piramide,valgo entre uma carne feita de poeira ou apodrecida, como se fosse um bebê zumbi. Fico pensando que vai ver o bebê tinha alguma doença que o mantivesse bebê, mas setia muito mais velho que os outros filhos da mulher. Então paramos num restaurante. Novamente, estou tão feliz de estar na van que não ligo para atrasos. O restaurante é grande e mais para o chique, sem ser chique mesmo. Tem dois andares e, percebo agora, num repeteco da dinâmica anterior, estou com a mulher no segundo andar do restaurante. Estou na dúvida agora se ela me dá o bebê para segurar. Estou tranquila e a vontade com ela, e se ela me dá o bebê, isso dele ser zumbi não compatece.

- Quero que você cozinhe para mim, diz ela.

Olho para ela surpresa

- Sabe cozinhar, né? ela pergunta.

Fico embatucada com a resposta, que é sim e não ao mesmo tempo. Sei cozinhar para mim.

- Bem, posso dizer que sei cozinhar sim, mas a principal qualidade da minha comida é a pessoa pider pensar: bom, plo menos não fui eu que tive que fazer essa comida

E com essa hermética cena fechanos esse linguissimo sonho.

ELES QUEREM TE FALAR UMA COISA

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