A ALÉIA 

0
4min de leitura

{7 de setembro de 2025}

Desencontrado de tudo que vem tomando minha vida acordada, que seria: primeira diária concluída com sucesso. Tudo muito vida e bom. Agora o trabalho árduo de processar minha figura no vídeo, que tem coisas maravilhosas mas beleza não é uma delas. A carga de estimulos negativos, acredito, nunca foi tão alta. De todos os lados o tempo todo vem que está tudo perdido. Olho para mim mesma no vídeo e também penso isso, está tudo perdido. Mas essa Coisa Viva em mim que amo acima de todas as coisas está cada vez mais capaz de não se influenciar com o que minha cabeça enxerga e é isso que quero. Estou perto da Paulista. Só isso já conecta o sonho com essa última gravação que foi tão, na verdade, terapêutica. É fim de tarde. Estou numa sala com pessoas, terminei algo e essa sala tinha uma porta que dava para a aléia mas já chego nisso. Tenho que voltar para casa. Estou com uma mochila, já arrumei meio de qualquer jeito as coisas dentro dela. As pessoas ao meu redor, que estavam de certa forma realizando essa atividade comigo, estão conversando entre si alegremente. Estou pensando muito qual seria a maneira mais eficiente e segura de voltar para casa. Esse sonho não tem grandes enredos, como de costume, é quase minimalista e o grande ponto é esse de qual seria a melhor maneira de voltar para casa e nisso aplico todos meus raciocínios. Então olho no google maps no celular, coisa que aliás nunca fiz na vida acordada, e vejo que essa sala na qual me encontro tem uma porta, aliás diante da qual me encontro também, que dá diretamente para uma aléia que liga ali esse quarteirão com não sei que rua mais larga e movimentada uns dois km distante, que se eu chegasse nela estaria tudo resolvido, eu poderia chamar um 99, algo assim. Fica meio vaga isso de porque se eu chegasse nessa avenida estaria tudo ok, mas estaria. Acho que até cogito chamar um 99 dali mesmo, mas acabo decidindo ir pela aléia. Aléia, uma palavra antiga que ninguém mais deve conhecer, seria uma passagem interna para pedestres, normalmente nos fundos das casas, normalmente estreita. Olhando ali no Google Maps, ela me parece ter mais de 1 km e faz umas quebradas. Decidir ir por ali envolve um certo risco, como decidir cortar caminho pelo beco deserto nos filmes. Não sei o que vou encontrar ali. Por uns segundos até penso em pedir para minha amiga Simone, que muito remotamente seria a Simone Bumaruff minha amiga que morava no Hotel Lord, acho que no Rainha da Paz, mas que no sonho mora numa casa, para eu dormir na casa dela.

- Não posso fazer isso, ninguém pede para dormir na casa dos outros, a dona da casa é que tem que convidar a pessoa para dormir lá.

Penso isso com toda a convicção do mundo. É meio engraçado pensar que é essa convenção social meio equivocada, pos eu podia sim muito bem explicar a situação, dizer que estava tarde, e logo estaria, e pedir para passar a noite na casa da minha amiga que me impede de adotar a solução mais segura e não desafiadora e optar pelo que no fundo era o certo para mim: ir pela aléia. Dou um tchau geral e sem perder tempo ganho a rua. Começo a andar pela aléia em estado de alerta máximo. Pessoas vem no contrafluxo do meu lado esquerdo, curiosamente só tem eu andando naquela direção. O fluxo é irregular tanto na quantidade de gente como no tipo. Passa tanto pessoas de ar bom e seguro quanto outras que nem tanto.

Olho para o céu acima. Está branco.

- Enquanto estiver dia, estarei segura, penso comigo. Devem ser umas 5 da tarde. Pelo menos uma hora de claridade eu ainda tenho.

Tem uma hora pára de passar gente, a aléia fica deserta e isso é bem mais perigoso. E então vem um grupo meio ralo e entre eles a figura que mais me assusta.

Vejo um homem já velhinho, até meio frágil, não um homem ameaçador, com os olhos... como descrever? Tecnicamente até poderia ser dito que ele não tinha os globos oculares mas seria mais como se as pálpebras e membranas que rodeiam os olhos tivessem, pela idade e por enfermidade, coberto os olhos. Sem ter como provar isso, ele me parece, e até no sonho isso me passa, uma variante extremada do Fofão na porta. O Fofão do sonho O Fofão na Porta tinha umas bolsas de pele enormes debaixo dos olhos. Esse velhinho tinha bolsas de pele sobre os olhos. Fico com medo e ele me parece uma ameaça muito grande, alguém que pode me atacar, ainda mais porquê ele caminha junto da parede a minha direita, deixando um vão estreito para eu passar. Super instintivamente sigo reto sem fazer nada, passo por ele e... Pronto. O perigo se foi. Alguns passos adiante dou com o final da aléia a esquerda. Posso ver a tal rua com movimento. Na verdade a aléia até prossegue, mas essa era a saída que eu queria. Muito mais rápido do que parecia. Deu tudo certo. Estou bem. Vou para casa.

A ALÉIA 

Comentar
Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Twitter
Copiar URL