{4 de julho de 2025}
Algo com esse nível de complexidade e essa narrativa lógica, quase realista, com esse detalhamento todo, tem chance de não significar nada? E então o que significa?
É noite e estou na Gregório, meio já me preparando para ir dormir, quando. sou convocada pela seguinte situação. Desço até a garagem, na frente da casa, onde está, mais uma vez esse símbolo, o Damasceno, o colega do meu pai que morava votando a esquina, isso ma bida a acordada tanto quando no sonho, com cara de pessoa que vem pedir favor. A encrenca seria a seguinte. Ele vinha hospedando na casa dele, por uns dias, uma colega tanto dele quanto do meu pai, do Instituto de Geociências.
Ela deveria ir pegar seu avião de volta para sua cidade, que não era São Paulo, nessa mesma noite. Mas devido a um recente pronunciamento do presidente, não ficando colocado qual seria, ela, como uma forma de protesto, havia decido não embarcar. Esse pronunciamento era algo considerado por ela absurdo e abusivo, e não embarcar era uma forma de protestar. Outras pessoas estavam fazendo o mesmo. Só que, e isso me dizia o Damasceno com um sorriso amarelo, a casa dele não estava preparada para abrigar a hóspede por mais tempo, sua esposa já contava com a partida dela essa noite e prolongar ainda mais parecia inviável para ela. Então vinha ele pedir que nossa família abrigasse a hóspede, uma vez que meu pai também era colega dela. Isso já daria um ótimo conto. O pedido fica no limite de ser uma folga. Não ha ia previsão de quando a mulher iria embarcar. Eu sabia que ninguém na minha família compartilhava dessa atitude protestados. A tal medida do governo era ruim, como todas são e não valia a pena se desgastar por causa disso. O favor contava então com um unico ponto de apoio, que seria uma questão de cortesia, tanto para o Damasceno, vizinho e amigo, quanto para com a tal colega de profissão. Parada ali com o Damasceno junto a parede de tijolinho do fundo da garagem, pensando surpresa no quanto ele estva jovem e bonito, com uma certa consciência de estar sonhando, pois penso algo como: " mas não lembro fele ser bonito assim na vida acordada'. Agora escrevendo tenho a impressão que o filho dele era bonito. Ontem na vida acordada a senhora na minha frente ficou uma meia hora para do a fila por causa do desconto de 20% no queijo que tava no app mas não passou no caixa e eu fiquei esperando de boa. Então meu pai está ali junto, também sorrindo amarelo e fica claro ali o motivo. Minha mãe não iria gostar, claro, de ali no final do dia ter que se organizar para receber uma hóspede xe favor para o vizinho. O Damasceno e meu pai contavam comigo para ir falaram ela. Eu digo:
- Sou uma intermediária, não uma mediadora. No sentido de que iria falar com minha mãe, mas não iria tentar convencer ela. Então num corte direto, estou no meu quarto e olho pel janela e vejo lá embaixo minha mãe, com meu pai e o Damasceno, e ela já está ciente. É meio significativa minha atitude. Se esse sonho significa algo, minha atitude tem significado. Eu não gostei da intrusão forçada, mas como disse, por questão de cortesia não tinha como se negar. Olhando lá de cima, sinto soliedariedade por minha mãe, que vai ter que providenciar tudo e digo:
- Quer ajuda?
- Sim, responde ela.
Então vou para a cozinha, pois teríamos que dar jantar para a hóspede. Abro a geladeira e fico olhando. Tem uma linda salada com azeitonas e frios e uns pratos tipo torta.
Minha mãe entra na cozinha apressada. Eu digo que vou arrumar a mesa, colocando aquelas comidas na geladeira. Minha mãe me entrega um pacote de presunto parma que pelo jeito ela acabou de comprar no supermercado.
- Ela gosta de carne defumada, de presuntos, ela me diz.
Tem um ar quase animado. Como sei que minha mãe não é de fazer das tripas coração, me parece que talvez ela esteja até gostando um pouco.
Ela me deixa ali na cozinha e sobe para o andar de cima para preparar o quarto da hóspede. Nisso ela praticamente cruza com a tal mulher, que nesse momento entra na cozinha e pensando na mulher agora me bateu um sentido para esse sonho. A mulher deve ter uns 40 anos, amulatada, de rabo de cavalo, está de saia e blusa e lembra muito a Luciana da Cisarte. Esse é o sentido que me veio. A Cisarte e a contradição de sentimentos associada a ela. A mulher é simpática. Chega sorrindente e agradecida. Estou ali focada e eficiente. Não tenho mais uma vontade com ela. Assim que me cumprimenta, ela me diz, com grande intensidade:
- Você viu o que o ...acaba de fazer?
O nome fica obscuro. Mas claramente se refere ao tal pronunciamento e claramente acredita que todo mundo estaria no mesmo grau de indignação que ela. Aqui tem um detalhe sutil que melhor não descartar. Ela não havia dito nada no sentido de " ser sincera e direta", mas eu, em parte a cortando, se bem que com certa delicadeza, ainda que firme, digo:
- Olha, se é para ser sincera também, eu não falo sobre política.
Sem nem pedir desculpas.
Como não sou agressiva, ela não fica ofendida, apenas confusa, pois não concebia que alguém não quisesse falar de politica. Sem perder um segundo para a coisa desembocar numa discussão, procuro levar a conversa para um território agradável.
- De onde você é?, pergunto.
Enquanto isso vou colocando a toalha na mesa, os pratos e em seguida, tiro a salada da geladeira e coloco sobre aquele aparador de fórmica que tinha ao lado, a cozinha está super realista, e como disse, o sonho todo é bem realista. Começo a ajeitar melhor a salada, não fica colocada uma razão, a salada já estava perfeita. Talvez eu estivesse adicionando os presuntos parma. A mulher me responde com um nome que nem imagino onde fica.
- Em que estado fica?
E mais uma vez ela fala um nome que nunca escutei. Começo a estranhar, pois um cidade que wu não conheça é super normal, mas conheço o nome de rodos os estados.
Procurando evitar o tom de " nossa, você é do fim do mundo", pergunto:
- Mas isso fica perto do quê?
Com o mesmo tom simpático, pois ela era genuinamente simpática, ela me responde com uns três pontos de referência e de novo, nunca ouvi falar de nenhum.
Deixando um pouco as boas maneiras de lado, largo a salada e desenho um mapa do Brasil no ar enquanto digo:
- Tipo, aqui é o Brasil. Fica onde?
Sem se sentir injuriada, a mulher aponta para um canto do meu desenho imaginários e mais uma vez não entendo nada. Então desisto. Continuo a arrumar a salada e nisso ela, como boa hóspede, veio me ajudar e com deus dedos engordurados se põe a arranjar a salada, como eu estou fazendo. O ponto nem seria a mão dela estar suja, e sim engordurada. A salada, que estava linda, fresca e viçosa, passa a ser uma salada com cara dessas que passou um pouco do ponto, e engordurada. Fico chateada. O que tinha de bom naquela intrusão meio forçada é que iriamos ter todos um excelente jantar, com comidas todas ótimas e justamente isso é o que começa sutilmente a desandar. Primeiro a salada, que era quase a melhor salada que poderia haver, com azeitonas e presunto parma, passa a ser uma salada com ar de mexida por dedos engordurados. Não chegou a estragar, mas não é mais aquela salada atraente. Ponho na mesa mesmo asim e nisso por descuido eu mesma faço um enorme mancha de gordura na toalha, até então imaculada. Naquele meu tradicional espírito de " se virar com o que temos", eu pego um pano de prato molhafo e tento torar a mancha, o que apenas a transforma numa mancha dissolvida e maior na toalha. E em seguida outra coisa cai na toalha. Minha mãe retornou a cozinha. Eu penso que antes tinhamos uma linda refeição num linda mess. Agora temos que nos virar com o que temos.