{24 de março de 2025}
Assim: tudo o tempo todo, a cada passo do caminho, a cada movimento, em meio a uma quantidade surreal de zona. Não sujeira. Não coisas depredadas. Basicamente papéis em caixas e espalhados ao meu redor.
Tudo muito dificultoso.
Mas assim como Cinderela naquele super mega simbólico conto de fadas que ninguém ou quase isso percebe se tratar de alegoria sobre dinâmicas internas, que nas brechas da sua pesada labuta consegue costurar um vestido de baile dentro ali das suas possibilidades, eu, usando o máximo das minhas capacidades realizadoras, consegui, em meio a aquela bagunça toda, que me veio aqui agora, talvez não represente a minha bagunça interna e sim a densidade aqui dessa dimensão nesse planeta e se for isso, melhor, consegui organizar o que seria o ponto culminante de todos meus esforços até então: um desfile de moda de bonecas.
Tem ali uma coleção de bonecas, sempre isso, que não seria exatamente a Suzy, mas não seria a boneca que eu mesma fiz de biscui, mas uma fusão entre as duas coisas, pois seriam bonecas comerciais, mas com a imagem da minha boneca, cada uma um pouquinho diferente das outras.
Tem uma coleção de umas 8 e eu já confeccionei figurinos completos para cada uma delas, todos lindos e criativos e já está tudo preparado para o desfile, que vou realizar com a Lú, e na espécie de ensaio geral do desfile, esse simbólico acontecimento:
A Lú providenciou uma bolsa para completar o figurino de uma das bonecas É uma bolsa desse formato “caixa”, de uma lona branca com riscas pretas.
Ficou perfeito.
Noto agora que uma das coisas meio recorrentes nos meus sonhos, a falta de preparo e a precariedade, aqui não comparece, muito antes pelo contrário. Em meio a toda aquela zona opressiva, eu olho para as bonecas e os figurinos e penso contente comigo mesma que não poderiam estar mais caprichados. Se estão bons ou não, é outro departamento. Mas eu me orgulho no bom sentido de ter feito meu melhor.
Então meio que às vésperas do desfile, que não inclui público, me vem uma idéia dessa vez sobre a dinâmica do desfile.
Eu e a Lú estávamos planejando ir movendo as bonecas com a mão, como de costume mas me ocorre abrir um trilho no meio da passarela do desfile, que era num formato meio circular, como uma pista de carrinhos de corrida, e prender uma haste por baixo das bonecas de modo que elas pudessem ser movimentadas por baixo, por uma haste vertical que eu e a Lú segurariamos por baixo da pista, que aliás era de papelão.
Ficaria ótimo pois criaria mesmo a ilusão de um desfile de bonecas. Com certeza uma idéia boa que melhoraria o nível do desfile. Minha única dúvida era: seria tão fácil quanto eu estava imaginando? Que a idéia era boa e até mesmo viável, eu não tinha dúvida, mas esse “viável” de costume envolve muito mais trabalho, tentativa e erro do que parece quando estou apenas imaginando.
E o desfile seria no dia seguinte. Seria caso de arriscar algo que já estava equilibrado para tentar uma coisa que poderia se desdobrar em dificuldades imprevisíveis e consumir meu tempo e energia para o desfile?
No que penso nisso, ando de andar em andar dessa casa na qual estou com a Lú, tudo tendo que escalar montes de papéis, e entro no salão, uma sala que ficava no nível mais baixo dessa casa. Não tem nenhuma ligação com nenhuma casa da minha vida "acordada ”.
E ali, também em meio a bagunças, está uma banda de nível, toda montada, que veio tocar músicas minhas.
Aqueles poemas que eu escrevi e coloquei no site eu tinha transformado em lindas músicas.
Essa atividade teria sido feita meio em segundo plano, então eu não sabia onde tinha colocado um papel no qual havia impresso as letras.
Tenho que também fazer isso ali das letras, mas como atividade secundária, e então digo ali para o líder da banda que vou procurar essas letras que eu havia impresso, mas por nem estar super sabendo que a banda iria vir ali querendo tocar minhas músicas eu não lembrava onde havia posto.
Ainda estou com o lance do desfile das bonecas na cabeça, mas de um jeito super sutil e difuso de sonho, aos poucos vou percebendo que o desfile de certa forma foi substituído pela história da banda, ainda mais que seria eu a cantar e tenho cantado melhor e desejo cantar.
Eu poderia imprimir as letras, que estão no computador, mas me sinto culpada ali por não estar com tudo preparado, o pessoal as banda, que é uma banda de nível, está sendo super paciente, e me parece mais transtorno tirar a impressora de debaixo daquela bagunça ligar o computado e imprimir novamente.
Tenho todas essas coisas, veja bem. Tenho a impressora, tenho o computador, tenho papel e tenho as letras, o problema é… a bagunça. Eu teria que deslocar alguns instrumentos da banda para abrir espaço para imprimir, e eles, da parte deles, estão com tudo super em cima e prontos para tocar.
Então, pedindo milhões de desculpas para o líder organizador ali, eu falo que vou procurar os papéis. Para minha vergonha, ainda por cima a banda se dispõe a me ajudar a procurar. Eu entro na pequena sala contígua a sala na qual está a banda e está algo digno de Escher. Caixas e caixas de plástico cheias de papéis, e agora me veio que senti isso um pouco na casa da P.
Mas aqui é muito mais. Assim como na cena daquele filme com a Anne Hataway dos Passengers, começo a virar tudo no chão, numa tentativa desesperada de encontrar os papéis por pura força do acaso, pois é como encontrar agulha no palheiro mesmo.
Aí vem o líder da banda com a maior boa vontade me ajudar e eu digo:
– São duas folhas de almaço com as letras impressas. Folhas novas. Eu sei que estão por aqui.
Pois a única coisa que poderia diferenciar esses papéis da imensidão caótica de papéis impressos ali, e apenas isso, nem coisas, nem trabalhas, nem sujeira, apenas papéis impressos, era que esses papéis eram folhas novas, e não velhas e meio amareladas como as demais.
Vem até uma figura masculina claramente Guia Espiritual me ajudar, e eu digo a mesma coisa e vasculhamos as caixas sem que em nenhum momento me passe pela cabeça a coisa mais óbvia: que é impossível achar os papéis naquela bagunça de papéis.
E eu subo até o andar de cima, pois pode ser sim que apesar de achar que tinha deixado em alguma canto daquela sala contígua poderia sim estar enganada e ter deixado os papéis no andar de cima, o anda de cima está tão cheio de caixas de papéis quanto o debaixo, ou seja, dobra a impossibilidade e no andar de cima eu encontro, também à minha espera, outra banda!
Outra banda que que tocar minhas músicas.
Agora tenho duas bandas que querem tocar minhas músicas, tenho músicas lindas mas não tenho as letras das músicas, o que seria necessário para eu cantar ali para o pessoal da banca começar a fazer o arranjo. Eles são mega profissionais, se eu cantar, já começam a montar o acompanhamento, pelo menos isso me parece, e agora escrevendo lembro que de alguma maneira em algum momento isso tudo envolvia uma praia super perto na qual eu quase que ia.
IMAGE CREDITS ANDREAS ORTNER | BARBORA PODZIMKOVA | HARPER'S BAZAAR CZECH OCTPBER 2017