{27 de outubro de 2019}
Bem.
O Leo King tinha dito mesmo que se começasse a vir weird shit, weird shit, run.
De fato veio. Fui lá no Garagem na hora errada porquê confundi.
Todos me olharam feio.
A menina não postou nenhuma foto de divulgação minha.
Ninguém foi na feira ontem.
Engraçado que agora escrevendo não parece tanto.
Voltei bem triste e só tive sonhos medonhos.
Então sim, coisa ruim.
É engraçado pois muitas vezes parece que estou vivendo coisas muito drásticas e meus sonhos não refletem isso. Os sonhos entre ontem e hoje ultrapassam o que pareceu ser experimentado na vida real e entre tantas coisas e confusões, o que posso ter como confiável são sim meus sonhos.
Achei que se não fosse na feira estaria me queimando com essa menina do Garagem.T er ido na feira só serviu para eu ver que eu sempre estive queimada com ela. Que nem nunca existiu isso de estar ou não queimada.
Eu fui com uma mentalidade sensata e cheguei mesmo a pensar: pode ser que não esteja fazendo a coisa certa, de fato tive sim consciência de estar forçando em alguns momentos, mas achei que não dava para recuar e rezei para os danos caso houvessem não serem grandes.
Realmente não foi uma boa experiência.
Vamos voltar para o que tem de bom na minha vida, o filme e a beleza.
Fim das explicações.
Por favor guias me ajudam a aprender a ser melhor. Estou me machucando muito. Basicamente noto dois sei lá, planos. Não plano de ação mas plano de patamar, de universos. O universo das pessoas e experiências que me mostram de maneira positiva para mim mesma, o qual foi seriamente abalado pelo fato do principal pilar dele, o H., ter agido de forma totalmente contrária a justamente todo esse feedback positivo que ele estava ou parecia estar me dando e o universo de sempre onde sou vista como algo ruim, insuficiente, que precisa ser corrigido, que não tem nada de muito bom. Engraçado que até esse momento agora,no qual pensei no que escrever aqui, pois escrever com profundidade me ajuda, eu nunca tinha tido essa clareza.
Sim,foi isso que aconteceu. Eu estava começando a habitar um universo onde eu tinha qualidades preciosas, o filme tinha saído bom, eu era realizadora e podia confiar nas minhas capacidades. A beleza, como sempre, estava se ferrando muito. Mas essas outras coisas, que também vinham sendo bem ferradas, pelo menos estavam conseguindo ser felizes talvez pela primeira vez.
Aí o que sucede? Justamente o H.,responsável não só por boa parte da felicidade como por toda a infelicidade, abala seriamente a parte feliz.
Começou aí e acho até engraçado isso que já tinha notado de que enquanto a mente mais consciente passa o tempo se preocupando com desgraças que não acontecem, os verdadeiros abalos ocorrem na surdina e muitas vezes enquanto a cabeça continua a ficar ali ruminando coisas que NÃO ESTÃO ACONTECENDO.
Sim,o H. fazendo aquilo me atirou de volta no universo de “eu não tenho nada de bom em mim ”.
Fui seguindo e por causa do Leo King fui falar com o Ioram e... mais uma pessoa que me empurra dentro desse universo.
Em dois segundos ele praticamente acabou com qualquer idéia a respeito de ter conseguido fazer um bom filme.
Não conseguiria dizer agora como que isso de universo que te elogia universo que te trata com lixo não entra em conflito com qualidade e desejo de melhorar.
Não estava vaidosa nem nada. Estava contente, me sentia como se tivesse descoberto um talento meu, enfim um dom, algo que não é “ insuficiente ”.
Meio isso.
Eu sinto instintivamente mas não consigo ainda uma forma racional de explicar. Sim, existe esforço e melhora, mas isso é impossível ou quase num universo onde você é vista de forma negativa ou depreciativa.
Não quero escrever muito sobre isso, quero ir para o sonho.
Mas juntou H. ,Ioram e até mesmo o contato com o Edu, e ontem a feira, de repente me senti voltando ao universo onde sempre vivi, o universo onde sou vista como feia, antiga, insuficiente, não desejada, sem talento, etc.
Run.
Não sei se estou percebendo certo.
Mas talvez esteja, pois como disse, esse pensamento só me ocorreu dessa foram agora.
Sim, dois universos. Não quero retornar ou mesmo entrar num universo onde sou novamente vista como indesejável em todos os sentidos. Run.
Foi muito entrecortado vou colocando as partes que lembro.
A Lú, que se mistura com a Carina, não de forma física, mas emocional, seria como se a Lú e a Carina num mesmo ser, sendo que o físico era a Lú mas o emocional mais a Carina que a Lú, havia tido a idéia de fazer uma festa de aniversário no salão do prédio. O prédio parecia o da Lapa da mamãe mas essa casa onde se passavam os eventos parecia mais a Gassipós.
Então essa cena, por si só muito significativa.
Na mesa estamos sentadas a minha mãe, de frente dela essa mistura de Lú e Carina, sendo que a idade ficava indefinida, mas não seria uma adolescente como a Carina e sim alguém mais velha e na cabeçeira dessa mesa retangular, eu.
A Lú-Carina, toda ela irradiando expectativa e alegria, comunica para minha mãe esse plano da festa de aniversário.
Minha mãe escuta com frieza e então pronuncia seu veredito.
Pois seria essa a situação, mesmo não se configurando ali como adolescente, a Lú-Carina precisava da permissão da minha mãe:
–Não.
Não, não pode fazer sua festa de aniversário.
E aqui a coisa que me parece mais significativa de todas.
No que minha mãe fala isso e a Lú-Carina tem toda aquela decepção e se desmancha em prantos e sai dali, tenho total consciência de uma coisa. Que o motivo para minha mãe ter vetado a festa de aniversário era simplesmente o fato da Carina-Lú estar querendo muito.
Na cabeça dela ela não poderia ter algo que ela quisesse muito.
Bom, a coisa é perturbadora e mesmo agora escrevendo me dói quase insuportável mas vamos prosseguir com cuidado.
O simples fato da Lú-Carina desejar muito a festa fazia, para minha mãe, fazia com que o pedido tivesse que ser negado, pois não era educativo deixar que a “ criança ” achasse que pudesse ter tudo o que queria.
A cena me parte o coração, pois a Carina-Lú, que ali no sonho tinha incorporado essa coisa da Carina na vida real de sofrer, tinha justamente colocado todos seus anseios e desejos numa coisa muito simples e viável, que seria a festa de aniversário, como alguém que depois de se sentir frustrada em grandes sonhos, decide tentar ser feliz com o que está ao seu alcance e minha mãe nega isso. Até isso.
Fico furiosa e começo a berrar mesmo.
–Você ficou louca? Vai negar uma festa de aniversário para sua filha, que tinha nisso a única oportunidade ao seu alcance de ser feliz?
Não obtenho nenhuma reação da minha mãe que começa a parecer quase um ser inanimado e nem olha na minha direção.
Tive que parar de escrever agora para chorar. Em algum nível estou fazendo isso comigo mesma. Se fosse antes eu poderia achar que isso retrata minha mãe o que não deixa se ser um pouco verdade, mas agora acho que mesmo sendo verdade, a presença dela na minha vida reflete algo interno meu e eu devo estar fazendo isso a mim mesma.
Em seguida me levanto e vou atrás da Lú.
Saio gritando:
–Lú! Lú!
A casa se tornou uma sucessão de aposentos bem maiores que os da Gassipós e vazios e desolados.
Não encontro a Lú,ela não está lá.
Não quero ficar fazendo apartes que muuuito provavelmente não vou querer eler depois, mas acho que sei ao que se refere, Experiências como as de ontem que vão me tirando do meu contato com minha beleza, coisa já tão prejudicada.
Beauty left the building. A Lú não está na casa e eu estou sozinha numa casa vazia.
Então a cena mais power ainda.
Estou então sentada na cama do quarto da Gassipós da minha mãe,olhando ali para os armários e assimilando as informações e aliás me ocorre agora uma explicação provavelmente correta para esse intrigante e sutil elemento “ armários ” nos meus sonhos:quando éramos crianças eu e a Lú brincávamos de teatrinho para nossos pais nos armários do quarto deles e eu lembro muito bem que eu fazia uma coisa de fechar as portas na minha frente e abri-las e dizer alguma gracinha e imagino a cara de reprovação que minha mãe devia ter desde aquela época.
Acho que os sonhos com as sapatilhas laranja dentro do armário,meu tio Luís e os armários, etc, refletem isso. Os armários ali, meu primeiro palco de anseios artísticos e meu primeiro “ público ” meus pais.
No que estou ali sentada na cama assimilando justamente isso de que a Lú deixou a casa, ocorre algo em si bem significativo que seria o fato de que não sei que estou sonhando e me parece que estou acordada.
Isso é muito raro.
As duas coisas juntas. Na maioria das vezes sei que estou sonhando.
Não saber já é algo menos comum. Mas aqui seria mais do que isso. Eu não só não sei que estou sonhando,e u tenho praticamente certeza de estar acordada.
Acho que nem lembro de outros sonhos com essa sensação de realidade.
Estou ali sentada e nisso minha mãe entra pela porta que no sonho seria na mesma parede dos armários. Na vida real era na parede a 90 graus.
Minha mãe entra e estou crente que estou acordada, aliás, seria como se eu tivesse acordado do sonho anterior, percebo agora. Estava ali sentada pensando nas cenas anteriores como se fossem um sonho do qual eu tivesse acabado de despertar.
Minha mãe entra, eu olho,v endo nela a mãe da “ vida real ” e não a personagem do sonho. Ela permanece estranhamente meio de ângulo para mim.
Ela não me olha de frente nem de lado, mas de ângulo.
E então ela mostra os dentes, não no sentido da expressão popular “ mostrar os dentes ” se bem que isso não deve ser descartado pois muitas vezes quando releio percebo que o sonho não estava e mostrando algo no meu plano de entendimento.
Mas ela recua os lábios de modo a mostrar não exatamente os dentes, mas a mordedura, que está,c omo no meu caso, meio prognata e aliás nesse momento ela está mesmo meio parecida comigo, a boca ou os dentes que ela mostra são super como os meus e seu rosto está com feições mais próximas das minhas do que as do rosto da vida real. E ela então me diz essa impressionante frase com total nitidez:
–Essa é a sua boca por dentro.
E nisso subitamente seu rosto se revela com a carne escurecida. A carne de alguém morto. Até é uma imagem muito usável em filmes pois a diferença era de qua apesar da carne estar quase preta por ser a carne de alguém morto, não estava decomposta.
Não fica como se a carne dela virasse essa carne morta na minha frente, mas como se ela se revelasse morta. Uma fantasma.
Fico apavorada. Mas aqui é o ponto, fico apavorada por achar que estou acordada vendo alguém se transformar em morto na minha frente.
Fico apavorada e faço aquilo de apertar os olhos para acordar ao mesmo tempo em que penso com total convicção:
–Mas como posso acordar da realidade? Estou acordada, tentando acordar?
Isso de tanto que estou achando que aquilo tudo é real.
Só quando acordo é que percebo que era sim sonho.
Ah, teve o pedaço do veneno.
Contrariando essa minha explicação racional e amadurecida de que “ sou eu que faço isso a mim mesma ”,mais para frente,n ão posso dizer que seja em seguida, me parece que veio coisas que não lembro antes, mas mais para frente sou eu mesma numa versão bem atual. Quase que uma personificação de como me sinto, quase bonita até e bem, sem estar me sentindo dominada por sentimentos péssimos.
E como que habitamos uma cozinha com cara de cozinha de restaurante, com equipamentos de cozinha industrial, tem umas outras pessoas ali mas aquele é nosso meio de vida, nossa vida do dia a dia e todo o lance seria que minha mãe me deu algo para beber tipo uma vitamina que ela exige que eu beba.
Ainda estaria nesse situação de não poder ter poder de escolha sobre o que eu ingiro. Ela me deu aquilo para beber e não tenho escolha a não ser obedecer. A coisa é apresentada meio desse jeito banal, uma vitamina.
É um líquido branco meio espumoso e no que coloco na boca, sei que é veneno.
E aqui não sei se por coincidência o LK falou nesse mesmo forecast onde falou isso do wierd shit, sobre ‘ poison ”. What poisions you.
Não é que percebo ser veneno por causa do gosto nada assim, percebo que minha mãe vinha me administrando veneno.Não fica claro se algo recorrente ou algo ali daquela vez.
Fico muito controlada. Mantenho o líquido na boca. Aguardo e ela sai para a sala do lado falando daquele jeito meio rainha dela.
Rapidamente ajo.
Vou até o tanque, pois a cozinha ali parece uma versão industrial da minha cozinha e cuspo o veneno no ralo e abro a torneira para apagar os vestígios da cuspida.
Pronto.
Minha mãe retorna mas agora o veneno está cuspido.
Não sei como interpretar isso.
Estou lidando com ameaças externas? Sou eu mesma que me nego a festa de aniversário?
Percebo claramente que devo me afastar desse universo que me “ envenena ” mas para onde eu vou?
O que significa essa “ minha boca por dentro ”?