ROSA 30

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5min de leitura

{5 de março de 2025}

Existe essa aglutinação ou sei lá… um misto de cidade com não sei o quê, mas que é cenário recorrente e algumas vezes é algo rural, outras algo praiano.

Aqui seria praiano. Eu habito uma casa que fica um pouco afastada do centro da cidade mesmo, não como periferia da cidade praiana, mas como se fosse na borda da cidade. Tenho que percorrer um caminho que não tem casas, só estrada de terra, nada muito longo, mas um caminho meio cheio de bifurcações que preciso me manter atenta para chegar no Centrinho.

Como parte da minha rotina diária, saio dessa minha casa e percorro esse caminho de terra, que deve dar uns 10 minutos, se eu não errar, e faço não sei o quê no Centrinho e retorno.

Então mais uma vez me apronto, pego minhas coisas e me ponho a caminho.

Na vida acordada está um calor de matar, mas aqui nenhum desconforto me aflige, o caminho não é difícil e se eu me mantiver minimamente atenta, como disse, chego no Centrinho em 10 minutos. Também não tem nada sobre calor.

Pois bem.

No que andei os primeiros 5 minutos, cruzo por dentro de um ateliêr de uma garota que assim como eu, morava mais para fora da cidade do que para dentro.

Não parece haver nenhuma novidade nisso, acho que seria como cruzar o estacionamento. Mas dessa vez a menina está lá.

Ela é uma figura que irradia muito poder. Seria bem jovem, 30 no máximo, cara de garota, mas irradiando algo quase ancestral.

É morena, cabelo preto puxado para trás num rabo de cavalo e apesar de ter uma fisionomia bem parecida com a minha, não me parece um desdobramento meu,

Vem sorrindo para mim e só sua aproximação seria como que um comando para que eu interrompa o meu percurso e a escute.

Ao contrário daquela também impressionante figura com a franja cobrindo o olho que veio me comunicar algo no sonho com a Ordália, não lembro o nome agora, essa moça me olha com muito afeto. 

– Preciso te dizer uma coisa, ela fala.

Me estende então um folheto onde se lê como que uma prescrição de um determinado produto alternativo, como que florais de bach, mas não era floral.

Mas seria um produto líquido, vendido em vidrinhos e tomado em gotas, e assim como Floral de Bach, tinha vários tipos, cada um com uma finalidade. E aquele pequeno encarte obviamente tratava de um dos tipo.

O texto no folheto se dirigia a homens com problemas de impotência.

Penso comigo que muito provavelmente a garota havia escolhido essa sutil maneira de se referir ao que experimentei.

Ela seria, e eu já sabia, uma garota que trabalhava como uma curandeira que usava justamente vários tipos de produtos alternativos, esses inclusive.

Ela segue no mesmo tom ultra delicado e afetuoso:

– Você deve tomar o Rosa 30. Senão seu quadril vai ficar enorme de gordo.

– Mas meu quadril é magro, respondo. Mede 90 cm.

A garota me olha com uma expressão que, ainda que afetuosa, parece dizer:

– Não discuta. Estou aqui tentando te ajudar.

Para tranquilizar a mim mesma, olho no espelho de corpo inteiro que tem ali no lugar e confirmo que de fato, meu quadril dentro de uma calça de uma espécie de lã cinza, é bem normal.

– Não estou discutindo, estava só raciocinando, digo a ela. Onde consigo esse Rosa 30?

A garota me diz que numa loja do Centrinho vendem.

– Como é o nome desse tipo de produto, para eu perguntar?

– Um elixir alquímico quântico.

Não foram exatamente essas palavras mas lembro que ela menciona alquímico nesse momento e eu mais pra frente menciono quântico.

– Está bem. Quanto te devo pela consulta?

– Dois, ela responde.

Fico apavorada de serem 2 mil reais mas ela quer dizer 2 reais.

Aqui não lembro muito nítido.

Pergunto o nome da garota. Estou tão profundamente agradecida que quero fazer algo por ela. Essa parte foi muito forte. Fico pensando muito em fazer algo por ela.

Então, quase que esquecida do meu propósito inicial, retomo meu caminho em direção ao Centrinho, mas agora, com outro objetivo. Meu objetivo de ir ao Centrinho passou a ser conseguir esse Rosa 30. O objetivo anterior nem existe mais.

Por causa da conversa com a menina, me atrasei e quando chego as lojas estão fechando. Me concentro para utilizar o melhor possível o pouco tempo que tenho.

Pergunto num loja se eles vende preparados quânticos. Acho que é aqui que uso essa palavra. A atendente reage mal, como se eu estivesse sendo esnobe, aquela era uma cidade praiana e não uma universidade.

Aqui embola um pouco.

Eu não sei que loja vende aquilo. Acho que a menina tinha dado uma instrução a esse respeito mas não lembro e por um motivo sem lógica, o nome da menina ajudaria para conseguir informações mas eu não lembro o nome dela.

Essa parte do sonho foi se apagando mesmo mas ficou a seguinte cena.

Quando já dou tudo por perdido e acho que estou numa lanchonete tomando uma coca, surge ali a menina toda sorridente.

Vê-la é uma enorme felicidade.

Corro até ela e digo, sem reserva nenhuma:

– Perdi o papel que você me deu e esqueci seu nome.

– Meu nome é Amanda, ela responde.

De novo esse nome!!!

AMANDA E A RELAÇÃO ENTRE DOIS EM DIMENSÕES DIFERENTES

– Posso fazer o outro braço mas vai custar de novo.

Nesse momento, o que ela tinha feito de recomendar o remédio e me passar instruções de como consegui-lo se transforma nisso dela ter feito algo no meu braço, acho que uma tattoo.

– Ok. Quanto?pergunto.

– 1,48, ela responde.

De novo um susto até eu entender que ela queria dizer 1 real e 48 centavos.

Penso comigo que o dinheiro ali nessa cidade praiana deve ter outro valor e 1,46 poderia ser bastante dinheiro. 

 E essa sequência antes de acordar.

Estava em casa. Acho que na Gregório. Escrevi um roteiro. Ou o roteiro está na minha cabeça e tenho que escrever. Então pego o carro da minha mãe e meu plano é ir ali do lado com ele num tal lugar onde escreverei o roteiro, ou nem mesmo isso, apenas dar uma volta no quarteirão, voltar para casa e escrever o roteiro. Parece ser mais o primeiro caso.

De qualquer forma, é uma mini voltinha de carro, coisa que não deveria apresentar nenhum problema, mas quando começo a andar o primeiro quarteirão, aquilo rapidamente se transforma na obssessivamente clássica cena do carro desgovernado, eu não controlo o carro, perco as entradas, vou me afastando cada vez mais, não alcanço os pedais, aí ajusto o banco quando paro no farol e fica perto demais e piora, e penso que se eu for parar de novo naquelas imediações do aeroporto, vou estacionar o carro e chorar.

Apesar desse contexto batidérrimo, fica em destaque o fato de que nunca, nunca, jamais antes na minha vida de sonhos de não conseguir dirigir o carro, eu estava dirigindo o carro da minha mãe. 

IMAGE CREDITS ANNIE LEIBOVITZ | ZENDAYA | VOGUE USA/UK MAY 2024

 

 

 

 

 

 

 

 

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