DEUSA

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{22 de fevereiro de 2023}

Num lugar que quase parece inacabado, como uma laje de construção, com teto e paredes, mas sem revestimento. Tudo é meio escurecido mas não sombrio. Tem bastante gente ali nesse lajeado, num clima quase que de festa. Conversam animadamente entre si.

Então uma garota, a super clássica Garota Superjovem de Rabo de Cavalo, me

chama de lado. Ali na parede desse ambiente tem umas partes verticais de concreto que lembra um pouco o esquema de janelas da sala da Gregório, umas semi divisões verticais na parede, que tem vidro. Numa dessas divisões, que ao invés de bancos como na Gregório tinha aparadores, há um telefone de disco branco.

A Garota Superjovem de Rabo de Cavalo me chama junto da divisão anterior a essa do telefone, que inclusive na Gregório era justamente um aparador, e em tom de confidência me anuncia que meu projeto havia ganho o primeiro lugar no concurso de projetos do governo.

Eu havia, há bastante tempo, inscrito uma primeira versão do seriado do AAN em um edital público e somente agora vinha o resultado, que seria que eu havia sido escolhida entre todos os demais projetos.

Não como em editais normais, nos quais uns 10 ganham. Aqui era primeiro lugar. Me sito muito distinguida, pois para um projeto como o meu, completamente fora das normas, pegar primeiro lugar, era porquê a qualidade havia se imposto mesmo sobre tudo o mais.

O André estava envolvido nesse edital e a menina dá a entender que eu iria receber uma ligação dele me comunicando isso.

Fico pensando se o projeto havia sido comtemplado em deferência a importância do André, mas acho que se fosse o caso, haveriam outras maneiras ao invés dessa, que premiava um projeto super fora do politicamente correto.

Então fico perto do telefone aguardando que o André me ligue, enquanto penso as seguinte coisas:

Primeiro, que eu já estava realizando o seriado, por conta própria, com roteiros muito superiores a aqueles iniciais. Minha idéia era seguir por aí, só que com mais infra, claro.

E em segundo lugar tinha um pensamento difícil de explicar.

A menina havia me antecipado a notícia, mas numa base quase que irreal, como se fosse, por exemplo, uma taróloga me dizendo que isso iria ocorrer.

Eu ficava então na expectativa do que iria sentir quando a coisa de fato se concretizasse com o telefonema do André. Achava que iria sentir uma enorme alegria e pular e chorar. Apesar de outro dia eu ter rezado justamente por achar que eu não sentia nada em relação ao seriado, aqui no sonho não há sombra de dúvida que essa notícia me daria uma enorme e genuína alegria.

Fico então ali de pé ao lado do telefone, só que… o André não liga.

E em seguida o vejo ali nessa semi-festa todo alegre conversando com uma namorada dele.

Não vem falar comigo. Mas logo entendo. Ele meio que por competição, não quer me dar a notícia. Mas eu ganhei. Isso é fato.

E então…

Estou uma outra sala mais clara que tem um grupo de mulheres.

A sala é meio retangular. No extremo mais estreito, que fica perto da porta, há uma espécie de tabladinho de madeira com uns três níveis diferentes.

De pé sobre ele, espalhadass nos vários níveis, há um pequeno grupo de umas 8 mulheres, de tipos físicos bem variados, todas na faixa dos 40, mais ou menos.

Eu estou de pé no extremo oposto, logo atrás de mim no lado esquerdo está minha mãe de pé, e mais umas três figuras femininas.Não há homens no recinto.

Apesar dessa parte não chegar a ser oficialmente sequência da anterior, eu estou com a alegria da notícia comigo.

E o que estou fazendo ali seria o seguinte.

Estou relatando para esse grupo de mulheres um sonho recente que no sonho ( e não na vida acordada) eu havia tido e que me havia impressionado e que eu sentia quase que como uma obrigação contar, pois era sobre feminilidade.

Então quase que me sinto como se estivesse canalizando, ao invés de apenas contar um sonho meu para uma platéia, como até gosto de fazer.

Então começo a contar e tenho absoluta atenção das mulheres.

– Então, eu estava numa sala sozinha, e no fundo as sala havia um espelho de corpo inteiro e refletido nesse espelho eu via uma figura de mulher. Ela era relativamente jovem, com um quadril enooooorme e um busto enooorme.

Nesse momento eu faço gestos para mostrar o tamanho.

E aqui tem o seguinte.

Eu sei o final do sonho e elas não sabem. Entre as mulheres ali me ouvindo no tabladinho, há uma mulher com um corpo quase idêntico ao da mulher do sonho, alguém que ficaria na categoria de gorda.

Uma vez a Cláudia Eda, que era meio ou muito amiga da onça, me disse que eu estava na categoria de “gorda”. Enquanto ela, claro, estava na categoria de magra.

Aquilo, claro, me atingiu muito na época.

Mas outras duas coisas me remetem esse elemento da Mulher de Ancas e Busto Gordo ou Farto.

O post de ontem no insta com a guria meio revoltz dizendo que “ homem gosta de mulher com uma lapa de coxa e ancas largas, etc, etc” e por aí seguia com uma descrição bem ressentida, “ mulher um pouco burra, etc e tal”, até bem elaborada, mas algo que parece verdade mas não é. Homem gosta de mulher feminina.

Mesmo ontem de noite pensei isso.

Mas a tal figura no espelho poderia lembrar também, racionalmente, aquela figura da Vênus do tempo das cavernas, que era bem esse formato de corpo.

Eu percebo que até o momento meu relato passa a impressão de que eu vou ridicularizar esse tipo de mulher, estou contanto com graça, como sempre e percebo que a mulher meio parecida ali no tabladinho deve estar se sentindo incomodada, mas como sei que o final do sonho não cai nisso, sigo em frente.

– Essa mulher no espelho começa a chacoalhar lateralmente as ancas para lá e para cá.

Agora me veio dúvida se essa mulher no espelho estaria de costas para mim.

Mas esclarecendo, não se trata do meu reflexo. Eu estou a uns 15 passos do espelho, na diagonal dele. O lugar lembra um pouco meu quarto da Gassipós, como se o espelho estivesse onde haviam os armários.

– Essa espécie de dança da mulher quase que beira o grotesco e essa parece ser a intenção do sonho, até que…

Aqui não sei como entender, pois esse super clima de quase canalização dá em parte para trás. Eu estou contando o sonho como que uma mensagem mesmo, algo que sei que terá efeito bom nas mulheres, mas minha mãe começa a conversar no fundo, a atenção se dissipa em conversas paralelas, não que eu perca toda a atenção, mas agora sou uma falando ali entre outras falando.

Como me sinto quase numa missão, sigo sem me alterar:

– Mas algo se coloca ali e sem palavras me diz e me mostra que aquela mulher no espelho com aquele corpo era, na verdade, Deusa.

Deusa.

IMAGE CREDITS VINCENT PETERS | KASIA SUMTNIAK | VOGUE ITALIA MARCH 2013





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