{9 de outubro de 2018}
Fiquei resistindo a escrever esse sonho pois senti que depõe contra mim.
Mas vamos lá.
Ontem juro que foi sincero acho mesmo que o sonho do meu tio Altino de branco que minha mãe teve no dia do niver dela mais o sonho que eu tive “anunciamosamortedeMaysaZakzuk” sinalizam claramente morte.
Bem.
Fiz tudo lá e resta apenas uma tarefa.
Sim, tarefa. Algo meio que me comprometi.
Não algo do qual não tenho como escapar.
Até me parece que teria, veja bem.
Não é algo com o qual eu estaria super de acordo ou no qual veria algo de proveitoso.
Seria bem algo ao qual eu havia me comprometido e ali meio que na pressa vejo mais vantagem em me dispor a isso e acabar logo com a coisa do que ficar contestando e talvez perdendo um tempo maior.
Esse algo seria um suplício.
Eu teria que ser torturada com ferros em brasa.
Jesus amado.
Que isso me ajude a ser mais compreensiva e tolerante comigo mesma.
Que raios de coisa eu passei para sonhar tanto com isso?
Pois bem, ali penso: vamos logo com isso.
No sonho encaro como se encarasse sei lá, um procedimento dentário mais pesado tipo tirar um dente,mesmo e isso é o mais bizarro, mesmo ciente de que não será.
Me pego pensando que seria, mas estou ciente de que não será.
Mas como estou mais interessada em me liberar para retornar as minhas atividades, me parece mais prático me submeter.
Dando sequência a bizarrice da coisa, esse tal suplício seria ministrado por ninguém mais ninguém menos que a Adriana Londoño.
Ela, sem absolutamente nenhum sentimento mau ou sádico, seria quem aplicaria os ferros em brasa, os quais por sinal estou vendo ali sendo esquentados e são pequenos como espetos de churrasco com marcas na ponta como ferro de marcar gado.
Mas a coisa toda tem definitivamente clima de tortura medieval, mesmo eu não estando acorrentada nem nada.
Me deito então no catre, ou melhor, é algo meio inclinado mas quase vertical.
Me coloco de costas ali e então a coisa tem uma boa atenuante que seria a seguinte.
OK, concordei em me submeter a esse suplício, o que fica bem claro no sonho, não seria a solução ideal.
A solução ideal, isso sinto no fundo, seria eu me negar a esse suplício.
Não vejo nenhum sentindo nele e só estou aceitando porquê sei lá. Meio por comodismo, por mais irônico e genial literariamente que seja alguém aceitar ser torturado por comodismo.
Mas então combino algo com a Adriana.
Que ela não vai de fato encostar o ferro em mim.
Que vai ser tudo meio teatro.
Ela vai simular que aperta o ferro em brasa nas minhas costas mas apenas aproximar ele na verdade.
Vou sentir um calor, mas nem de longe a dor lancinante de ser de fato queimada com um ferro em brasa.
Combinamos direitinho isso e ela se concentra em fazer a parte dela, que seria a de realizar uma boa simulação, aproximando o ferro o mais que der sem tocar em mim de fato e eu, por outro lado, me concentro na minha parte, que me parece mais difícil que a dela e que nem é o mais óbvio, a de aguentar o calor e o medo e sim de gritar convincentemente como alguém que está sendo de fato queimada e torturada.
Também é colocado nesse sonho que devido a mudanças eu havia sido poupada de diversas outra torturas muuuito piores que essa.
Tanto que o primeiro pensamento que tenho no sonho é assim:
– Bom, as outras eram muito piores e seriam sim aterrorizantes.
Essa pelo menos vou ser só queimada por ferros em brasa.
Essa é a pessoa que sou. Em seguida é que, uma vez passado esse alívio de não ter que enfrentar as outras tais piores torturas é que me dou conta que ser queimada por ferros em brasa não é algo leve também.
Mas tendo feito essa combinação com a Adri, na qual me sinto perfeitamente segura, minha preocupação então passa a ser essa, de que devo gritar muito, com força total, como se estivesse mesmo sofrendo ao máximo.
Minha resistência a escrever esse sonho era, percebo agora, ligada a uma impressão de que ele me mostrava como alguém que estaria fingindo ou fazendo tempestade em copo dágua.
Não é a sensação que tenho agora.
Estou sim equivocadamente me dispondo a ser torturada em parte por ignorância mas também um pouco de comodismo talvez? Mesmo que tenha comodismo, também tem ignorância.
Consegui um jeito de isso ser realizado sem que eu sofra de verdade pelo menos isso. Com certeza é um progresso. Mas em contrapartida devo fingir sofrimento pois... toda essa coisa ignorante a respeito de suplício gira em torno de eu acreditar que devo esse sofrimento extremo a alguém ou algo...
Acredito sinceramente nisso. Nesse ponto está toda a diferença.
Não estou, como tive receio num primeiro momento, sendo retratada como alguém :se fazendo de mártir e sim como alguém que equivocadamente se dispõe a algo que acredita ser o caso, ou seja, de ser torturada, mas arruma um jeito de passar por isso sem sofrer tanto, mas teria que fingir que sofre, pois esse engano todo gira em torno de sofrer.
Ou seja, estou sendo idiota. Não sou uma manipuladora pelo menos, apenas idiota.
Obrigada por esse sonho meu Deus.
IMAGE CREDITS STEVEN KLEIN | KAROLINA KURKOVA + CRYSTAL RENN | INTERVIEW MAGAZINE MARCH 2012