O SONHO PERDIDO DA MÃE DA ADRIANA

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6min de leitura

Sei lá, fui dormir preocupada com a cashless society.

Foi um dia excelente de trabalho, tanto no tout quanto na “outra coisa”.

Desde o início já se coloca que eu tenho um envolvimento muito grande com a casa da mãe da Adriana.

Não da Adriana em si, veja bem, a da mãe dela.

Teve aquele sonho sobre eu meio que morando na casa vaga da mãe da Renata e agora isso.

A casa da mãe da Adriana por sua vez não é nada vaga, é bem rica e ocupada.

Lembra por dentro a casa de verdade dela, que eu freqüentei um pouco.

Havia um motivo de trabalho para eu ter ido lá algumas vezes, mas mesmo depois que esse motivo deixou de existir, continuei indo por conta própria.

Mas na cena inicial ainda existe uma forte justificativa para que eu esteja ali.

Estou meio que do lado de fora da casa e a minha direita, a mãe de Adri está na janela da casa.

Então pelo quintal se aproxima um homem moreno com cabelos meio fartos, pedalando uma bicicleta e com ela puxando uma coisa meio complicada de descrever.

Seria uma parede de digamos uns 2,8m de extensão,que tinha uma profundidade de uns 40 cm, como se fosse uma enorme caixa e a parte da frente de alguma forma abria e fechava. Na verdade seria como uma caixa de uns 2,5 de altura por quase 5 de extensão, com uma profundidade de uns 40 cm, feita de um ripado de uma madeira pintada de rosa rocinha.

Esses tons de cor comuns em casas da roça, um rosa meio caipira, que eu acho mega fofo.

O homem, que também alguém bem rústico e está meio mal vestido, vem puxando essa “caixa’ com a bike, para na frente da janela da mãe da Adriana,e a situação logo fica esclarecida da seguinte forma.

Esse homem era um amor do passado da mãe da Adriana,

Ele estava vindo devolver aquela casinha, pois era uma casinha, ou melhor, um quartinho que tinha sido feito para se entrar dentro, acho que teria talvez mais que 40, talvez 50 cm de profundidade.

Quando ele pára com a bike na frente da janela da mãe da Adri, não sei se ele é que abre alguma coisa que mostra o interior desse “quartinho” ou se existem janelas que mostram seu interior, pois posso ver lá dentro.

Toda a parede é por dentro como é por fora, um ripado meio rústico num tom rosa caipira.

E aqui é que gostaria de lembrar melhor. O que recordo é de maços de flores secas dependuradas de cabeça para baixo sobre o que seria a parede dos fundos e essa parede não tinha janelas nem aberturas, só a da frente tinha.

Agora escrevendo lembro de um maço de flores secas que eu tive muito tempo quando tinha uns 14 anos anos, que era de umas flores roxinhas. Não sei onde consegui aquilo mas guardei muito tempo e acabei jogando fora.

Mas no sonho acho que as flores eram brancas.

Haviam outras coisas dependuradas nessa parede e essas coisas é que não consigo lembrar o que eram. Todas as coisas eram relacionadas com um mesmo fim. Havia mais de um maço de flores. Estavam arrumadinhas e dispostas com carinho.

A impressão que ficou é de algo ligado a enfermagem, por incrível que pareça.

E a história é que no tempo do romance entre a mãe da Adriana e esse homem, que tinha sido importante na vida dela, ela havia se dedicado muito a essa atividade, construído essa espécie de quartinho para ela, onde fazia essas coisas e esse era seu sonho perdido.

Ela havia amado muito essa atividade, mas havia deixado para trás, bem como havia deixado para trás aquele amor por aquele homem.

Por uma única razão, que ela, que se agonia um pouco na janela ao ver de novo aquele amado quartinho, diz:

– Mas eu tinha quatro filhos para sustentar. Como iria sustentar quatro filhos fazendo isso?

Eu mesma, olhando aquela coisa rosa tão mimosa e feita com tanto carinho, não consigo encontrar uma resposta.

Era evidente que aquilo era uma das coisas que ela amara mais sinceramente na vida, talvez sua maior paixão e ela abandonara.

Todo o ponto aqui não fica sendo se tivera ou não motivo para isso, mas sim a revelação de que aquela atividade no quartinho estreito rosa era seu verdadeiro amor.

Bem, por mais que tenha bode de explicações, mesmo que para fins de registro tenho que relatar que ontem ocorreu a seguinte coisa. No finde semana passado eu tinha ficado fazendo aquelas artes do Hy brazil e deu ruim.

Me senti mal, sonhei que a chácara pegava fogo, etc .Ontem ainda sonhei com a estrada desolada da Ilha Bela e achei que confirmava. Poooois bem.

Mesmo assim aquela “coisa que mexe sozinha” dentro de mim já tinha, anteontem, posto em andamento mais dois quadrinho de bloquinhos e eu estava gostando. E no embalo tinha feito o quadrinho de ripinhas com as palmeiras. Ripinhas. Ok, tudo muito pequeno e singelo, mas a coisa que mexe sozinha é preciosa e não quero nunca mais detê-la.

Enfim.

A casinha ou quartinho rosa era mimoso. Mas o ponto da atividade ali não sei porquê tinha a palavra “enfermagem”, ou pelo menos é o máximo que consigo lembrar.

Aquela história me comove.

E então é meio confuso mas acho que é assim:

O homem deixa a casinha ali e a mãe da Adri sai da janela.

E eu cato as coisas todas, que mais e mais vão se transformando em coisas que posso carregar na mão.

Junto essas coisas, penso muito na história toda e resolvo voltar outro dia na casa da mãe da Adri porquê seria como se ela não soubesse que aquele era seu sonho verdadeiro perdido.

Seria como se eu tivesse que dizer isso para ela, eu queria dizer isso para ela, mesmo que não tivesse certeza se não seria uma invasão de sentimentos.

Então eu entro na casa da mãe da Adri, pois tenho acesso, se bem que o certo mesmo seria ou avisar ou esperar ser convidada, mas eu simplesmente entro, vou até o quarto da mãe da Adri onde começo a arrumar aquelas coisas do sonho antigo dela sobre o balcão que é a penteadeira e está cheio de objetos ricos e chiques, bem cara dela.

E aqui é interessante, pois a casinha-quartinho rosa e tudo o que havia nele se transformaram em pedras preciosas, em gemas, parecidas com o do museu da minha mãe. Estão em sacos e potes, Começo a dispor ali sobre a mesa, meio em duvida se não iria causar um desgosto muito grande, pois a cena do homem trazendo o quartinho rosa havia mexido com ela.

No que estou ali fazendo isso, mesmo que em dúvida, a Adri entra a dá comigo.

Fico com muita vergonha. Nem avisei que vinha. É meio folga minha, mesmo que minha motivação seja algo nobre.

A Adri reage com um desagrado inicial, claro, não quer dar com uma amiga ali sem estar preparada para isso, mas sendo educada, se controla e procura agir naturalmente.

Eu começo a explicar a história toda sobre a mãe dela, que acredito ser do interesse dela, fora que me redime um pouco.

Mas a história é longa e a Adri não está num bom momento para isso.

Vou resumindo o máximo que posso, quando pelo corredor passa a mãe da Adri.

Ela percebe que estou lá, mas tem tempo de fingir que não me viu, o que a poupa de vir falar comigo, Eu, por minha vez, sei que a única coisa que posso fazer para tornar minha presença ali minimamente menos invasiva é não falar com ela, não impor minha presença e dessa forma tornar necessário que ela venha falar comigo. Então corto a conversa com a Adri e volto a arrumar as pedras sobre a mesa, pequenas gemas claras e belas, que eram o sonho perdido da mãe da Adri.

{15 de julho de 2017}

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