Esse sim com pique de sonho de niver.
Estou ali de pé, na parte da frente desse troço que parece sei lá.
É aberto para a rua como um parque, mas tem um portal, não é totalmente aberto.
Não é um parque, o chão é cimentado. Não se localiza em nada da vida acordada.
Eu moro ali.
Já tinha uma intuição do que iria ocorrer.
Pelo tal portal, que esse nome é meio over, na verdade seria uma grande abertura no murado que cercava esse lugar, vem, de bike, o Wong Kar Wai mas fisicamente é o Jackie Chan. Nesse primeiro instante não me dou conta disso, de que fisicamente é o Jackie Chan, mas nem sei como o Wong Kar Wai é de rosto, é um oriental usando óculos escuros.
Não gosto de orientais. Nunca gostei.
Mas enfim.
Vem ele simpático e risonho na bike direto para mim.
Algo havia nos unido.
Meio assim. Como se ele tivesse lido um comentário meu a respeito da sua obra, que simplesmente idolatro, acho sim ele um grande artista e haviamos como que ficado em contato, mesmo que esse contato não tome forma de nada realista, tipo troca de mensagens, algo assim, e seria meio que decorrente que em algum momento ele viesse me encontrar e era o que ocorria ali.
Ele pára a bike na minha frente e me diz, como se retomasse alguma conversa anterior:
– ( algo que toca no assunto sobre o que eu havia achado do último filme dele)
É e sempre foi um grande problema para mim ter que ser positiva e elogiativa com trabalhos que acho deficientes, mas ali, com o Wong, tenho ele em tão alta conta que sei que se for sincera não o estarei depreciando.
– Olha, é bom, mas não acho que seja seu melhor trabalho.
Ele não se abala nem um pouco, pelo contrário. Isso de podermos falar com franqueza sobre arte era uma das coisas que havia nos unido, pois assim como eu, ele era muito mais interessado em melhorar do que em receber agrados para o ego.
Nunca, nunca haviamos nos encontrado pessoalmente e aquele é um grande momento mas essa trcoa intelectual e artística como que se sobrepõe e deixa isso em segundo plano.
Continuamos conversando como faziamos de costume.
Vamos caminhando com ele empurrando a bike.
Não se se estou esquecendo algo.
Enquanto converso com ele, vou pensando coisas.
Ele está claramente interessado em mim.
E eu estou agindo como se estivesse interessada nele. Não no sentido de estar fingindo para ele, mas no sentido de estar quase que fingindo para mim mesma, mas por dentro vou vendo aos poucos que aquele interesse na verdade era exatamente isso, interesse.
Tem uma questão qualquer em relação ao Brasil, a ter vindo para o Brasil.
Em algum momento ele comenta:
– Eu vim para cá com a intenção de dar continuidade a um lifestyle que venho desenvolvendo há 9 anos.
Não sei se seria nesse momento que fica clara a treta toda na qual ele estava metido devido a esse último filme dele. Ele havia desagradado os árabes, ou então o filme era sobre a guerra dos árabes.
Os árabes então estavam hostilizando eles e o Wong na verdade me dizia que estava em vias de deixar o país.
É isso que precipita em mim essa constatação de que na verdade não gosto dele.
Digo romanticamente. Como amigo gostava muito sim.
Pois ele estava me incluindo no seu plano de deixar o país e procurar outro lugar para, como ele mesmo disse, poder manter o seu lyfestyle, a palavra era dita em inglês mesmo mas não parece ser essa. Estilo de vida mesmo.
Aqui acho bem intrigante pois essa dinâmica de me ver tomando um rumo que na verdade não quero é super recorrente, só muda o assunto, e aqui todo o ponto gira me torno de eu constatar que na verdade não gosto dele. Quer dizer, gosto, mas não para casar com ele, que era o que estava se encaminhando.
Não tenho atração física por ele. Eu teria que dormir com ele, óbvio.
Na verdade enquanto conversamos, tomamos o rumo da casa onde ele estava morando e me dou conta de que, já que era a primeira vez que estavamos juntos fisicamente, estaria meio na imimência de transarmos, pois eu estava indo com ele para a casa dele. Ralvez hoje mesmo ele quisesse transar comigo.
Não queria. Nem constava nada, absolutamente nada, das minhas próprias questões atuais com sexo, era como se nem existissem, mas eu não queria transar com ele.
Poderia aguentar transar com ele, como disse, tinha afeto por ele, mas não queria.
Mas vou deixando o barco correr.
Chegamos então numa espécie de vila mega legal e isso parece que vai dar um novo rumo ao sonho, pois era uma vila escondida com ar mágico.
– Você mora aqui? eu pergunto, já quase esquecida das questões sobre meu praticamente casamento com ele por causa da vila, onde já penso em morar.
– Sim, ele diz.
Passamos pela entrada da vila e seguimos por uma ruinha, era uma vila com transversais, eu cada vez mais encantada, ainda mais que chegamos numa casinha com cara de casinha da Dona Bina, ao lado da casa da minha avó.
Só agora me dou conta do contraste entre a casa da minha avó de da Dona Bina, a construção sólida, concretada, maciça e horrível do meu querido avô e aquele encanto mágico da casa da Dona Bina, que tinha um caramanchão na entrada.
Entramos na casa e…
Se eu estava vendo na casa um pretexto para manter a ligação romântica com o Wong, ou até mesmo quem sabe um sinal do Universo para tal, isso desmorona em segundos.
Sim, a casa é um encanto, mas é um Hostel.
Nunca é coincidência nada, e o sonho que eu abri para salvar esse em cima justamente era sobre um Hostel, o sonho o beijonopescoçodoDecinhoeoaluguelde5mil.
É um Hostel. Que droga. Cheio de pessoas, pessoas.
Já estou bem bodeada.
Caminho ali dentro com o Wong.
Então, numa espécie de apoteose do sonho, estou distraidamente olhando pela janela aguardando enquanto o Wong conversa coisas práticas ali com não sei quem e é nesse momento que percebo que fisicamente ele era o Jackie Chan.
– Será, será que eu estaria sequer cogitando em ficar com ele ou ter um relacionamento com ele seja de que tipo for se ele não fosse um grande cineasta e um grande artista?
E claro que no fundo a resposta era não, mas aqui agora escrevendo…
Ser um grande cineasta e artista era da natureza dele. Não era algo que ele poderia perder. Tipo dinheiro.
Ah, mas tem isso.
Ele me fala algo sobre dinheiro ou seria o fato de estat morando num hostel que me faz perceber que ao contrário, ao super contrário do que eu pensava, ele não era um homem resolvido financeiramente e… sim, isso me afeta.
Ainda por cima isso, eu penso. Achei que por ele ser esse cineasta consagrado, seria alguém resolvido financeiramente, mas claro que as duas coisas não são necessariamente a mesma.
– Ele é tipo eu, penso desapontada comigo mesma, alguém que produz de forma independente e está sempre meio apertada de grana por causa disso.
E olhando ali pela janela fantasio a figura de um homem jovem, sem camisa, vindo na minha direção de braços abertos. E penso:
– Deus, que venha um homem de quem eu goste mesmo, e não um que eu goste apenas pelo fato dele ser famoso ou rico ou isso ou aquilo.
Acho que esse sonho tem muitos níveis e deve ser processado aos poucos, e se for mesmo o sonho do niver, é pra ser processado ao longo do próximo ano de vida.
Pois graças ao Lucas Shudeler, me sinto no direito feminino de querer um homem que me passe segurança financeira, mesmo que no sonho não fosse exatamente esse o ponto.
O Wong não era, coisa que já eliminei da minha consciência como possibilidade, alguém que iria ficar vivendo às minhas custas. Mas não tinha esse fator de glamour da riqueza. Era um virador como eu. Glamour. O Glamour da fama. O Glamour do talento. O Glamour da riqueza.
Nem exatamente glamour. Algo seco ali que meu lado prático e interesseiro valoriza.
Mas não é como se eu gostasse dele mesmo, da pessoa dele.
Mas, se como diz minha personagem no seriado, quando eu gosto é traste…
Mas nem acho que dá para afirmar que o sonho seja sobre homens. De vez em quando não sei se gosto do seriado. Tudo muito confuso. Pois se fico nervosa enditando é porquê quero sim. Se eu fico pensando nos episódios é porquê gosto sim.
Ou eu gosto por não poder ter o que de fato queria, que era a beleza?
IMAGE CREDITS JUERGEN TELLER | MILLA JOJOVICH | JOHNNY ZANDER | BLUMARINE FALL 1995 CAMPAIGN