{30 de abril de 2024}
Havia uma situação em andamento para todos. Algo de natureza geral que envolvia um perigo meio extremo. Como guerra, algo assim. Pelo menos nesse local. Espero estar lembrando pois foi um sonho rico cheio de imagens mega fortes, principalmente essa.
Mas isso é o que lembro agora, que eu estava ali meio que não totalmente incluída nessa situação, estava meio de forasteira, e eu primeiro tomava par disso, dessa situação de ameaça constante, bem isso mesmo, ameaça constante, e em seguida eu estava com uma figura feminina que era claramente eu.
Uma mulher jovem, da minha altura, cabeluda meio eriçado, preto, com uma espécie de vestido camisola túnica branca.
E todo o ponto da cena era que essa mulher de certa forma estava meio que a salvo das tais ameaças. Não totalmente. Mas ali com ela na casa dela, ou no quarto dela, meio que através do que ela própria me conta, tomo ciência de que ela em parte, veja bem, em parte e no limite, vinha se mantendo a salvo das ameaças de forma estável até, devido a um expediente que ela, ali comigo, se dispõe a revelar.
E dando sequência a essa intenção de me mostrar o que ela vinha fazendo para se manter a salvo, ela ergue o colchão da sua cama de casal e embaixo dele…
Nossa Senhora.
Havia o que poderia ser descrito como um charco de cobras. Quando eu era criança tinha pesadelos com cobras e essa cena era digna de um pesadelo, mesmo que no sonho eu tenha observado com total calma,
A área do colchão era um abaixado no chão de uns 10 cm, não mais que isso, apenas o suficiente para reter uma água de charco ali totalmente cheia de cobras de variados tamanhos, desde pequenas até uma que chamava a atenção por ter uns 3 metros e diâmetro de um copo. Todas escuras quase negras, num emaranhado denso, não como se estivesse nadando no charco, mas antes o charco servia apenas para tornar aquela visão, além de horrível, meio gosmenta, pois todo esse espaço era uma massa densa de cobras.
Então fica esse mesmo macabro, lindo e misterioso símbolo, pois o que vinha mantendo a garota segura numa situação onde todos estavam muito mais vulneráveis que ela seria… o fato dela dormir em cima daquelas cobras horríveis! Como entender isso?
Até no sonho isso me confunde. Mas fico ali escutando sem discutir, pois afinal de contas, era o que estava resolvendo. A garota, ou mulher, me explica e me explica como que tal coisa funciona, mas a explicação não fica clara. Não fica claro como que isso estaria mantendo ela a salvo.
E então passa para uma outra situação mas é o mesmo sonho.
Eu estou com meus pais e por aqui no Centro e a Gelde me ofereceu a casa dela para eu ficar e tem algo nisso muito forte e vida.
Seria quase como ter outros pais. Ficar na casa dela temporariamente, não seria para sempre, era uma benção.
Então eu tinha que atravessar aqui a Consolação na altura do Tap Tap e ir para a casa dela que seria situada bem na Consolação mesmo na altura do Tap Tap, onde tem o Tap Tap.
E é uma manobra que exige tudo de mim, pois estou com pasta de dente na boca, um símbolo que mesmo depois de tantos e tantos e taaaaantos sonhos com isso, não sei o que significa. Mas exige tanto que tenho que me concentrar e ficar dizendo a mim mesma a cada passo do caminho:
–Você consegue, baby, você consegue.
A coisa quase equivalia a uma subida no Everest, eu ia por etapas.
Estou do outro lado da Consolação na frente da porta da casa da Gelde, junto com um povo que espera o sinal abrir e olho bem para a porta e me concentro e digo a mim mesma aquilo, que eu consigo.
Tenho que aguentar a pasta na boca, é isso que tenho que conseguir. Quando estivesse na casa da Gelde teria banheiros para cuspir, mas no momento tinha que aguentar.
Então atravesso a rua e a pasta pelo jeito não era a única dificuldade, pois mesmo tendo ido reto e direto em frente, toda concentrada, quando chego do outro lado estou dentro da igreja da Consolação.
Fico um pouco desnorteada, um pouco a mais do que o que realmente sinto, pois afinal de contas, estou do lado.
Mas fico ali meio que desnorteada um pouco, como se aquilo fosse um empecilho maior do que realmente era e então, vendo que eu mesma tinha que resolver isso, vou saindo da igreja rumo ali ao Tap Tap quando duas figuras sentadas no chão da igreja encostadas na parede chamam a atenção.
A primeira seria um homem genérico morador de rua, sem barba, que me olha. Não está dormindo, está acordado me olhando.
E a segunda figura era algo mais forte. Seria uma mulher que eu conhecia, que chamaria Didi, bem parecida com a minha vizinha aqui que trabalha nos Correios.
Só que loira. Ela estava muito maltratada, suja e desdentada.
No sonho, apesar dela não ter aparecido antes, ela seria uma funcionária do MM até bem, bem pouco tempo.
No que ela me vê ela estende o braço para mim e se põe a contar que foi demitida e perdeu o emprego e tal e precisa de ajuda.
É tocante pois ela me conhece e vê em mim uma luz no fim do túnel e eu…
Não posso falar com ela por causa da pasta na boca.
Tenho que ir para a casa da Gelde sem delongas.
Então finjo que não a vejo nem a escuto, mesmo a voz dela me partindo o coração.
Planejo ir para a casa da Gelde, cuspir a pasta e voltar ali com comida para a Didi.
Esse nome estranhamente é repetido por ela mesma várias vezes.
– É a Didi, é a Didi.
Mas eu pretendo fazer isso mesmo, estou até pensando no que vou dizer a ela.
Então já entrei na casa da Gelde e essa coisa da pasta na boca nem existe mais.
Nem bem estou lá, e a casa está vazia, chega outra mulher, provavelmente uma amiga da Gelde, uma morena com grandes olhos cinzentos claros.
Ela me olha com estranheza e antes mesmo que tenha tempo de dizer algo já vou explicando:
– A Gelde me deu a chave e me deixou ficar aqui. Ela sabe que estou aqui.
Essa parte da frase é dita num tom muito significativo, como se tivesse outro significado além do óbvio: a Gelde sabe que estou aqui.
Essa mulher tem uma amiga com ela e o sonho fecha nisso.
Uma vez estava no caminho do parque fui abordada por uma mulher que também parecia essa sonho, uma moradora de rua que me mostrou uma ferida na perna e me pediu ajuda, eu disse que não estava com dinheiro e ao se afastar ela disse:
– Não é questão de dinheiro.
Ela antes de começar a me pedir ajuda disse:
– Moça, respeitosamente, pode me ajudar, etc.
Eu fiquei com medo e meio que repulsa daquela ferida mas fiquei arrependida, gostaria de ter ajudado. Muitas vezes essas reações instintivas estão certas, pois muitos pedem ajuda e eu ajudo. Sem pensar. Essa me assustou.
Não sei o que o sonho quer dizer. Mas chama a atenção isso do “temporário”. A moça das cobras estava temporariamente salva, enquanto dormisse em cima das cobras. Eu estaria temporariamente a salvo na casa rica, limpa e boa da Gelde. E ela sabia que eu estava lá.
IMAGE CREDITS DAMIEN HIRST | RIHANNA