{5 de fevereiro de 2018}
Credo.
Então estou ali, nesse lugar nada a ver com nada da minha vida “real” e ao que parece tenho uma pequena equipe meio informal,como se fossem amigos colaboradores mesmo, que é a ajuda que disponho para realizar um certo trabalho.
Agora escrevendo, e estou sendo cuidadosa para ver o que emerge de um sonho tão abalante como esse, o que configura essa primeira situação é a informalidade de tudo.
Não é um trabalho comercial, com cliente. Estou ali fazendo coisas meio por conta própria, mesmo assim tem um sentido de trabalho, não é como se estivesse arrumando a casa, por exemplo,e essas poucas pessoas, acho q 4, que gravitam ao meu redor de quem espero ajuda.
O que recordo é que parece que até que a coisa funciona até que bem, está indo, meio que consigo fazer o que pretend ,e então parece que tudo passa para “um degrau acima” quando um dos moços, moço mesmo, um rapaz de no máximo 25,c omeça a ser meu colaborador firme.
Digo esse monte de parece porquê o sonho até determinada altura parecia ser um sonho de amor, mas depois vira tão outra coisa que nem sei mais nada.
Estou atordoada até agora e como disse, abalada.
Esse rapaz tem um rosto liso meio azeitonado que me lembra alguém, mas sem chance de localizar.
Ele é bonito, talvez remeta a homens indianos, isso não me ocorre no sonho, mas agora escrevendo.
Não era ele sobre quem eu tinha maiores expectativas, estava tentando conseguir colaboração de um outro rapaz que eu achava que tinha super a ver comigo, mas esse outro é que por conta própria começa a ficar sempre colado comigo e vou vendo que ele parece se envolver tanto nas minhas atividades quanto eu.
Não sei entender porquê esse roteiro, que super hiper evoca o Adriano, não me parece que tenha a ver com o Adriano. Vai ver tem e estou resistindo à idéia.
Tenho pensando na vida real justo nisso do quanto o Adriano me ajudou.
Mas não sei de nada agora, justamente o efeito de sonhos assim é que parece que não sei de nada mais.
Esse rapaz fica sempre comigo e quando espero ajuda ou colaboração, ele se prontifica de um jeito que dá a impressão que se importa com aquelas coisas todas, que em nenhum momento ficam super claras o que seriam exatamente, quanto eu.
Então tem uma vez em que isso rola, mas agora não lembro direito e então tem o lance da privada.
Eu vou até um quartinho que ,sério, tem as dimensões de uma casinha de boneca, é um espaço de um metro de altura por um metro.
Entro lá dentro. Aqui as lembranças estão falhas.
Não sei se é nesse ponto que tem uma zona infernal.
O que tenho certeza é a privada.
Existe um vaso sanitário ali dentro e o assento teve seu revestimento todo descascado, não tem nada a ver com privadas reais. O assento era um revestimento sobre a borda do vaso, onde se senta, tinha caído quase todo e o que eu via era a borda da privada desenhada num papel.
Então eu tomo alguma iniciativa no sentido de dar um jeito naquilo, que de novo não fica clara qual seja. Não são incomuns sonhos nos quais fico envolvida em atividades que não ficam claras, mas o de hoje era algo ligeiramente diferente.
Seria como se eu ficasse caçando meio aleatoriamente coisas para fazer.
Não estou consciente disso no sonho, mas é colocado sim.
Quase que parece brincadeira de criança o que estou fazendo.
Mas esse rapaz, no que eu tomo algumas ações no sentido de resolver o problema do assento da privada, me olhando daquele jeito intenso, e, me parece, afetuoso dele, logo em seguida fala que vai fazer tal e tal coisa para resolver a privada também.
Tudo isso só pode ser sobre o Adriano, pois era exatamente a dinâmica.
Me virando sozinha meu alcance era limitado e a ajuda desse rapaz leva as coisas para outro nível. Não havia uma relação de empregado ali com ele, não era alguém a que eu poderia pedir tarefas, dependia da boa vontade dele e era justamente isso que ele me oferecia. Boa vontade.
No que ele fala isso eu tenho um impulso que me toma antes que entenda bem o que passa pela minha cabeça.
Eu o beijo rápido e leve na bochecha.
Ele me olha meio assustado.
E então minha reação seguinte me surpreende.
Digo:
–Obrigada. Muito obrigada mesmo.
E inesperadamente começo a chorar.
Eu mesma achava que estava tentando demonstrar que começava a gostar dele e não tinha intenção nem de dizer palavras de agradecimento muito menos de chorar ,mas é o que me sai.
Aí acordei e pensei as seguintes coisas que acho que importam.
Primeiro que o rapaz, apesar de inegavelmente ponta firme e valoroso, não tinha aquele ar de caubói que tanto gosto, mas,como disse o Leo King, devo deixar de lado “como acho que tem que ser” .E em segundo lugar me ocorre que aquele beijo teve, mais do que um sentido de demonstrar sentimentos, o sentido de alertar. Quase como,sabendo como fico platonicamente envolvida, eu resolvesse deixar claro que a relação com esse rapaz tão mais novo que eu estava tendo esse efeito. E então ,caso não fosse o que ele desejasse, ele estaria avisado e sendo como era, as chances eram de que iria rever seu comportamento, ou seja, na prática se ele continuasse igual comigo, seria apenas por sentir o mesmo.
Durmo e continuo sonhando.
Ainda existem rastros dessa história quase de amor. Mas o rapaz não é um dos personagens dessa parte.
Só lembro que já de cara existe uma sensação de angústia, de coisa que está indo mal, muito instalada. Tá, ontem mesmo na vida acordade pensei com uma espécie de lucidez extra nisso de eu estar sempre me sentindo “a perigo” e sob ameaça.
Meio parecido. Uma sensação,no sonho ,de “alguma coisa está errada”.
Fico indo e voltando, tem uma mesa de refeições, tem bolo, mas fui dormir meio com fome e fico o tempo todo cuspindo no vaso ou na pia uma quantidade enorme de saliva, como era tempos atrás e agora na vida real passou.
Estou não exatamente triste, mas agoniada.
E então de uma forma confusa que não lembro, rola o lance do Instituto de Geociências.
Existe algo que envolve todos nesse assunto e tinha autoridades envolvidas também, como se estivesse havendo um inquérito sobre algo que teria ocorrido contra a lei no Instituto de Geociências.
Mas não é uma situação clara.
Só sei que por causa desse envolvimento geral com o Instituto tem uma hora que estou lá meio que por motivos não meus.
E essa cena marca.
Olho uma espécie de prateleira onde se acumula uma pilha desanimadora de papéis velhos numa bagunça praticamente impossível de dar jeito.
Acho que desde esse momento já está configurado que o Instituto de Geociências é uma construção feita de bambu, só que pintada num tom de azul que poderia ser legal se não estivesse sujo e mofado.
Aqui super cabe registrar o vídeo da pousada vietnamita que vi no canal do Lufe, toda feita de bambu, mas o oposto, um sonho,s uper fofa, até cogitei.
O Instituto de Geociências é uma construção de bambu pintada de azul, vazia e abandonada, como se nunca ninguém tivesse feito nada ali dentro.
Agora escrevendo me veio que eu sempre, sempre senti exatamente esse mesmo clima no Instituto de Geociências da vida real, mesmo que não seja um edifício vazio largado e sujo.
Mas nunca gostei de ir lá e parecia um lugar de mortos vivos.
Nada vida.
Não sei se isso teria a ver.
Fico ali e meio inconscientemente me ocorrem diversas coisas que poderiam ser feitas nos sentido de “dar jeito” naquilo.
Como arrumar essa zona. Como limpar o mofo do teto de bambu.
E até começo a entrar num processo de tomar aquela tarefa, começo seriamente a planejar como farei e então...
Num estrondo de lucidez, me passa pela cabeça que seria algo que demandaria uma vida de dedicação e...numa coisa que não me importava absolutamente, absolutamente nada.
Até percebo como poderia ser considerado algo louvável e correto pelos outros, mas seria jogar a vida fora me envolvendo em algo que não significava nada para mim.
Então largo aquela pilha de papéis velhos e retorno ao ambiente principal do instituto, que é uma sala, sendo que o Instituto todo teria as dimensões de um bangal ,e ali rola a cena entre os dois gays.
Um gay já de idade está sentado numa mesa, preocupado e temeroso por causa da tal investigação sobre o rolo do IG, sendo que estava-se sobre um regime muito repressor e as consequências seriam graves.
O outro gay então, que é mais jovem, está de pé e se aproxima do outro e o beija na boca.
A relação entre esses dois era de teor profissional, mas com esse beijo na boca tudo muda e eu, que estou observando, não como se visse um filme, mas estou mesmo ali, entendo tudo e é assim:
O verdadeiro culpado pelo desastre do IG, que mais ou menos gira em torno do fato de que nada havia sido feito ali com o dinheiro dos impostos, seria esse gay mais jovem, que era funcionário ali.
Isso sem sombra de dúvida.
Esse funcionário sentia a paixão que o gay mais velho tinha sobre ele. E nesse momento talvez sentindo quase a mesma coisa de puro medo, pois se fosse preso seria executado, pois como disse, estávamos todos sob um regime repressor e tirano, beija o gay mais velho, que estava numa posição de poder ali dentro e dessa forma como que se coloca como par romântico dele nisso implicitamente recrutando a proteção do gay mais velho e sem que uma palavra seja dita, o plano está tracado: arrumar um bode expiatório para entregar para a polícia.
E esse bode expliatório acho que sou eu.
Não tenho super certeza, é meio interpretação.
Mas havia uma jovem moça que antes disso, lembrei agora, estava de namoros com o mesmo moço com cara de indiano.
Sim, lembro agora que eu começo a ver de fora cenas entre essa moça e ele, tem uma hora ficam de amassos debaixo de um cobertor ali mesmo na passagem, todo mundo vê e esse tipo de comportamento era punido ali nesse regime opressor.
Todo mundo tinha que andar na linha. Não podiam haver desejos próprios e espontaneidades.
Quando vejo a moça nem aí, fazendo o que dava na telha, já fica meio colocado o risco que ela corre.
E então na hora que surge a necessidade de bode expiatório, claro que sobre para ela, que já era vista como alguém de comportamento desviado, sua espontaneidade vista como “maldade” e sua falta de preocupação com as regras como “desvio de conduta e intenção criminosa”.
Sendo que ela nada mais era que uma inconsequente cheia de vida.
Então a história progride no sentido de que essa moça é acusada, presa e de repente estou eu no que seria os entornos do grande ginásio onde eram realizadas as execuções públicas ali nesse mundo.
As execuções, e praticamente era essa a punição para toda e qualquer infração ali, se davam nesse ginásio que era uma espécie de arena onde os condenados eram mortos como se dava no tempo de gladiadores mesmo, como um espetáculo público. Quase um Hunger Games, mas sem chance nenhuma para os condenados, que eram perseguidos e mortos com espadas ou sei lá.
Estou ali do lado de fora, não na rua, em entornos que seriam como que a “coxia” desse ginásio.
Tenho grande ligação com a moça e não quero vê-la ser morta, mas quero estar ali e dar meu apoio.
Agora escrevendo me ocorre o quanto ela lembra a mim mesma com 17 anos de idade, com cabelo curto.
Mas essa moca tem uma expressão de inocência extrema. Ela de fato não entendeu nada, não entendeu como se colocou naquela situação.
Estou ali, tem outras pessoas que também são ligadas a outros condenados, pois era uma execução em grupo e geralmente as pessoas ligadas aos condenados ficavam ali, não iriam querer se misturar numa platéia que assistia tudo como se visse um show.
Estou ali e noto, ao meu lado direito, uma senhora de uns 60 anos que tem uma ligação ainda maior com a moça. É confuso pois ela não surge como parente, mas equivalente e isso. A ligação dessa senhora com a moça é ainda mais profunda que a minha, tanto que acho que eu tenho que me colocar como apoio para ela, mesmo que também seja ligada a moça.
Vou até ela, que me conhece de vista.
Ela está arrasada pela dor. Não chega a ter uma visão lúcida do quanto a pobre moca simplesmente é vítima de um regime tirânico e nada fez de mal. Se tivesse talvez fosse ainda mais difícil para ela.
Trocamos algumas palavras e ela então responde a algo que digo dizendo:
–Na hora vai ser difícil, mas depois que passar vai ser bom para ela.
Jamais teria coragem de dizer o mesmo, nem seria meu papel tal coisa, por causa da tal hierarquia de ligações, mas partiu dela e eu concordo plenamente.
Era um mundo triste e opressor o que vivíamos, um mundo na qual para sobreviver tinha que se morrer por dentro.
Não havia chance da moça escapar, mais cedo ou mais tarde seria destruída.
Melhor agora que mais tarde.
Ela estaria melhor fora desse mundo, seja lá onde.
Eu amparo a mulher e acho que pergunto se ela não queria se sentar no chão.
Era idosa, estava de pé a tempo, ainda mais sob o peso dessa dor.
O único lugar possível para se sentar é o chão.
Sentamos ambas, eu ajudando ela a se ajeitar e esticar as pernas.
Tem uma cena impressionante que não sei se rola aqui, se rola quando a mulher fala aquilo sobre “ser melhor para ela” ou depois.
Tenho uma espécie de visão da moça.
Não chega a ser uma visão clássica, ou talvez fosse,j á que nunca tive visões e não sei como são.
Só sei que enxergo a moça com nitidez absoluta ali atrás da coluna, nos olhando.
Atribuoi aquilo ao fato de eu e a senhora estarmos pensando intensamente nela, mas agora escrevendo me ocorre que se fosse um filme, coisa aliás que essa cena começa a parecer mais e mais, a explicação poderia ser que a moça havia acabado de morrer e surgia ali em forma de fantasma para ver as duas pessoas que a amavam, eu e a senhora.
O peso dessa cena me é esmagador agora escrevendo, mas durante o sonho estou sofrendo mas sob controle.
A moça me aparece em toda sua juventude, com seu rosto claro,r adiante de inocência e perplexidade. Parece um cordeiro. Tem um olhar triste, como se soubesse o que aconteceu com ela. Sabe mas não entende.
E há algo a mais no semblante dela que vejo com nitidez gritante.
Fico olhando para ele tentando entender o quê.
Não digo nada a senhora por não querer perturbá-la ainda mais.
Começo a rezar Ave-Maria.
A senhora me acompanha.
Essa idéia de que a moça talvez já tenha morrido não me passa, acho que deve estar rolando agora e rezar é a única e melhor forma de ajudá-la a passar por esse momento aterrorizante.
Rezamos juntas, eu rezo com todo o fervor mesmo assim erro a sequência várias vezes, mas sempre reengato na oração.
E então inesperadamente a senhora me diz que estou rezando errado, que a prece da Ave Maria não é como rezo. Tem um tom divertido ao dizer isso.
Fico feliz por estar conseguindo fazê-la rir de algo.
Digo que sempre tive essa impressão de que rezava errado, tanto que perco as frases da reza várias vezes e tenho que retomar.
Algumas pessoas ao redor que também estavam rezando nos olham como se concordassem e tivessem também percebido que eu rezava errado.
Estou sinceramente curiosa e interessada em saber qual é o erro que cometo e qual seria a oração em sua forma certa mas algo ali que não fica claro indica que a execução se encerrou.
A moça está morta.
A senhora muda de atitude como se até então estivesse sob uma espécie de transe que a anestesiava um pouco.
Com uma expressão e um tom de voz totalmente aniquilado, me olha e pronuncia essa absurdamente impressionante frase:
–Ela era luz. (Porisso foi morta.) Mas o que é uma vida sem luz?
Coloco essa parte do “porisso foi morta” porquê acho que ela não chega a dizer, mas o sentido é esse.
A senhora tinha quase que a mesma lucidez que eu no sentido de entender que a moça havia sido condenada única e exclusivamente por destoar do que se tentava impor ali nesse regime, que era a falta total de qualquer luz e vida própria. Pois todos os condenados era apresentados como facínoras, claro.
A frase dela me atinge profundamente.
Respondo com essa outra coisa forte:
–O problema nem era ter luz, se ela tivesse tido algum cuidado...
Pois é o que acho. Se ela tivesse alguma noção do que estava enfrentando, poderia ter feito as mesmas coisas quase, mas tomando cuidado para se ocultar. Ela dava bandeira demais, pois não estava preocupada, não por arrogância, mas por não entender como era esse regime onde vivíamos.
E nesse momento a coisa pega mais ainda como cena de sonho.
Pois vinda ali da mesma coluna onde vi a moça, que aliás, acho que não expliquei, vejo e em seguida ela se foi,v em uma outra moça.
Parece bastante até com a que foi morta, quase uma irmã, só que um pouco mais velha. A que morreu poderia ter 17 anos, essa teria uns 28?
Essa questão da idade dela na verdade só fica em primeiro plano depois.
Vou narrar como foi mesmo a cena.
Essa moça se aproxima já de cara falando com a senhora e a chamando de mãe.
Fica então colocado que seria a filha dela.
No que surge essa filha, a senhora passa a me ignorar como se eu nem estivesse ali,o que não fica como grosseria por ser essa situação muito extrema.
Me espanta um pouco que essa senhora tenha uma filha, não seja uma senhora solitária. Em parte atribuí essa profunda ligação dela com a moça condenada por ela não ter mais ninguém na vida, mas pelo jeito não era.
A filha, também me ignorando como se eu não estivesse ali, ergue a mãe e vai com ela para as escadas rolantes que havia logo adiante da coluna.
Seria assim, essa coluna, bem larga, estaria a uns 6 passos na diagonal direita de onde estávamos e mais uns 4 passos na mesma direção, duas escadas rolantes desciam para o que seria a saída daquele local.
Por uma grade de arame a minha direita eu via os arredores da cidade, mas não dava saída, para sair tinha-se que descer.
Então tenho que ir pela mesma rota, as escadas rolantes.
Essa cena é digna de um filme.
Me levanto e vou na mesma direção que ambas, para a escada rolante, que são duas laldo a lado.
As duas, mãe e filha, tomam a escada da direita, eu a da esquerda e como elas estavam alguns passos na frente, as vejo um pouco mais abaixo de mim.
A senhora está de frente na escada, olhando para o piso abaixo e a filha se colocou um degrau abaixo e fala intensamente com mãe, tentando animá-la.
Ficava meio óbvio que a filha não tinha ligação nenhuma com a moça executada. Mas tentava consolar a mãe.
Nesse momento é que reparo na juventude dessa filha.
Esperava uma filha mais velha. Ela mal parece ter 30 e seu rosto lembra um pouco o da Silvia Rosler e lembro, reparo agora, o da própria moça que morreu.
É então que pela primeira vez desde que cheguei ali nesse ginásio de execuções, penso em mim. Ou melhor,caio em mim.
Reparo no quanto a senhora se esqueceu da minha companhia e me dou conta que tinha fugido da minha própria dor me colocando como seu apoio naquela situação. Aliás lembrei de um detalhe.
Depois do diálogo sobre a “vida sem Luz”.a senhora se ergue para ir embora e eu prontamente digo:
–Eu acompanho a senhora até a saída.
Meu plano era ir com ela até a rua, talvez colocá-la num táxi.
Mas quando a vejo amparada por uma filha tão presente, se torna claro para mim o quanto, mesmo bem intencionada, eu buscava refúgio me colocando como amparo daquela senhora.
E penso com gravidade:
–Agora isso me foi tirado e terei que voltar para minha própria vida e o que ee que tenho?
Pois é isso que mais me intriga nesse sonho.
Pois eu não tinha nada. Absolutamente nada. Não tinha construído nada para mim.
Nada.
OK.Escrever os sonhos tem se tornado, e isso é fato, não era assim, uma espécie de experiência médium, se é que posso dizer assim.
Não é que eu entenda significados, eles emergem como se fosse algo que uma médium pescasse de declarações de outra pessoa.
Vou escrever aqui o que me veio.
Se eu recuar dessa loja seria como abraçar essa afeição meio doente da minha mãe, pois continuaria a mercê da proteção financeira dela.
Minha luz seria executada.
Eu não construiria nada para mim.
Não tenho que amparar minha mãe, isso funciona como um refúgio da minha falta de vida própria.
Tenho essa sensação de estar vivendo num regime que destrói e pune a luz própria,p orisso o impasse.
O IG, que é a dor da minha mãe, não é minha tarefa.
Isso é o que me veio, mesmo antes de escrever tendo sentido que o sonho era contra a loja.
IMAGE CREDITS MILLES ALDRIDGE | GEORGINA STOJILJKOVIC | VOGUE JAPAN SEPTEMBER 2008