O ESPETÁCULO FABULOSO

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Começava eu estava em uma casa com uma mulher mais velha que era uma figura de autoridade e respeito e ao mesmo tempo uma espécie de faxineira arrumadeira. Eu gostava dela. Não lembro exatamente o quê, mas eu pergunto coisas sobre o André para ela e ela me “põe na linha”. Ela diz: concentre-se! Pense no que vc tem que fazer! Ligue para ele!”

E se torna óbvio que a coisa correta a fazer é ligar para ele. Fico feliz porque é o que eu quero fazer. Vou até o telefone. Sei o celular dele de cor. É um número cheio de 7s. Penso que sempre gostei de 7. A partir daí, fico o tempo todo tentando ligar para ele, mas a ligação nunca se completa, por diversas interferências. Começa a aparecer muita gente naquela casa, minha família.

Depois corta para um negócio meio difícil de explicar, porque não é real.

Existe um grande palco, bonito e majestoso, onde acabou de acontecer um espetáculo muito bom, respeitável e tal. De alguma maneira, eu faço parte daquele espetáculo. Ao lado desse palco majestoso, existe uma portinha, que dá para uma espécie de palquinho-coxia, um negócio meio pequeno, improvisado. Esse palquinho é de uma pequena escola da qual eu fiz parte, mas não faço mais, eu abandonei essa escola para ir para o grupo que se apresenta no teatro majestoso. No começo, estou orgulhosa disso, porque é um grupo muito importante esse, mas aí, eu e um bando de pessoas vamos espiar o espetáculo que está sendo apresentado no palquinho escondido da escolinha. Olhamos através do vidro da porta. E o espetáculo é absolutamente fabuloso. Rico, criativo, deslumbrante, muito, muito melhor do que o espetáculo do teatro majestoso, que é só bom e correto e importante, mas não é tão vivo e deslumbrante.

Fico fascinada pelo espetáculo da escolinha, fascinada. Ele é tão solto, tão vibrante, tão explosivo, tão lindo. Há vários palquinhos e em cada um deles há uma explosão de formas coloridas, como se atirassem papéis coloridos no ar, e aquilo é tão lindo, tão original. O elenco da peça passa numa espécie de desfile, todos usando umas roupas muito criativas em rosa e azul, e eu penso: que trabalhão arrumar figurino para toda essa gente! Mas estou encantada com aquela criatividade borbulhante. E então me vem uma tristeza por não fazer mais parte daquilo, por ter abandonado aquilo. Me vem um certo arrependimento. Fazer parte do Teatro Majestoso é motivo de orgulho, mas não de felicidade. Penso com tristeza que agora não posso mais voltar atrás e querer voltar para a escolinha de novo.

{17 de janeiro de 2005}

IMAGE CREDITS DAVID SIMS | ARIZONA MUSE | LOUIS VUITTON L INVITATION AU VOYAGE 2010

O ESPETÁCULO FABULOSO

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