{27 de maio de 2023}
Ou As quatro coisas
Há essa cidade praiana meio com pique de Ubatuba mas menos.
Acabou acontecendo de forma meio espontânea que a nossa família inteira ficou indo para lá frequentemente, tipo todo fim de semana e dessa forma espontânea eu e a Lú, separadamente, começamos a cada uma construir uma casa na areia.
No sonho a coisa não toma tom de “a mulher insensata constrói sua casa na areia”, mas vai saber.
Os sonhos tem vários layers e são muito mais inteligentes que a gente.
As casa eram cabanas meio alternativas e parece que a minha era um pouco mais sólida que a da Lú, tipo as cabanas dos três porquinhos, a dela seria de madeira e a minha de metal.
Ainda não estavam concluídas e justamente quando ainda faltava um tanto, mas nem tanto, é que eu e a Lú começamos a nos dar conta de no que estávamos metidas.
Mais uma vez estávamos a caminho da praia, onde iriamos dar continuidade a construção das nossas casas de maneira até realista, lidando com funcionários e comprando material.
Eu começo a pensar naquilo e sei que a Lú também está pensando e isso culmina num momento em que eu e ela, naquela praia que curiosamente no sonho todo é meio cor de chumbo, e não ensolarada, nos olhamos e eu, como se achasse que deveria dar o direcionamento, digo:
– Vamos fazer assim. Vamos terminar a construção e ver se valeu a pena o tempo e dinheiro investido. Se for o caso é sempre algo que podemos vender depois.
Estou certa na medida em que uma casa inacabada é bem mais difícil de vender que uma casa terminada, mesmo que qualquer coisa na praia seja por si só algo não muito fácil de vender.
Mas é a melhor atitude no momento.
Temos, tanto eu e ela, condições de terminar a casa. Estamos só preocupadas com o tempo, energia e principalmente dinheiro investidos nisso. Não iria nos arruinar mas talvez não tivesse retorno.
Depois segue essa saga de várias maneiras.
Dormimos numa casa ali na cidade. A Lú se levanta da cama dela e vem dormir na minha.
Como quando éramos crianças que os dois vinham dormir na minha cama.
Estamos bem e isso me deixa feliz.
Então eu vou para essa cidade praiana de carro, com um motorista meio fixo, sendo que minha família sempre ia antes, mas eu, como morava em outro lugar, ia dessa forma.
O motorista já me conhece e rola uma conversa entre nós durante o trajeto, e me sinto amiga dele e quando descemos na casa, naturalmente como se fosse um amigo, ele me acompanha.
Eu entro no quintal e logo dou de cara com minha família toda sentada na mesa retangular em frente a casa onde ficavamos, tomando café.
Quero oferecer um café para o motorista, que terá uma longa viagem de volta.
Então meio que fica claro que não tem mais café na mesa.
Essa cena recebe grande destaque no sonho, pois eu me aproximo da minha família, não querendo oferecer o café sem antes me certificar que tem café, olho ali na mesa e primeiro não vejo xícara, mas isso sempre se pode lavar, mas depois acho que quando eu tento pegar café para mim é que minha mãe, que parece um mix dela e de mim, e está jovem mas com ar bravo, me diz que acabou o café mas tem algum café ainda ali acho que numa xicara só que tem uma areinha. Acho que até chego a oferecer esse café para o motorista mas a cena toma outro rumo.
Com,o motorista atrás de mim e minha mãe me comunica que a gente iria fazer visitas de manhã.
– Eu e seu pai temos que falar com algumas pessoas e vocês vão junto.
E arremata:
– Não precisamos ir todo dia na praia.
Aqui um monte de coisas se cruzam na minha cabeça.
A conversa entre eu e a Lú sobre nossas casas havia rolado no dia anterior.
Seria como se eu ficasse fazendo bate e volta para essa praia.
Mesmo assim a nossa estadia ali era de no máximo uns 4 dias ou seja, um dia a menos de praia pesava. Imediatamente a encaro bem firme e digo:
– Eu quero sim ir na praia. Então vamos na praia de tarde.
Se passa como que um duelo de olhares ali mas minha mãe cede.
Penso comigo duas coisas,
Primeiro que o motorista está ali testemunhando uma dinâmica familiar bem íntima.
E em segundo o que mais me atinge, até mesmo mais do que a coisa de ir ou não na praia.
Por quê isso de repente de “fazer visitas”? Porquê aquele tom sério, grave da minha mãe?
A coisa toda não tinha tom de visitas sociais e sim de “algo que seu pai e eu temos que resolver”.
Será que estariam com dificuldades financeiras e iam pedir ajuda?
Era exatamente esse o tom, de quem vai pedir ajuda para outras pessoas e leva os filhos para sensiblizar.
Então essa questão passa a ser a mais importante para mim.
Em seguida, como se fosse um corte num filme, estamos dentro de casa, meio que nos arrumando para essas tais visitas, o motorista se foi e eu e a Lú estamos ali conversando e minha mãe entra ali no interior da casa, cada vez mais parecida com uma mistura entre eu e ela e eu vejo minha oportunidade e digo bem diretamente, para não deixar chance de resposta evasiva?
– Mãe, aconteceu alguma coisa entre ontem e hoje? Por quê essa mudança?
Pois até então ninguém tinha mencionado isso das visitas, é o que quero dizer.
Minha mãe não se esquiva a pergunta e começa uma resposta que ficou como comunicação dos Guias só que.
Procurarei reproduzir o melhor que consigo. As frases eram nítidas mas não faziam sentido.
Fico escutando com a máxima atenção.
– Existem quatro coisas importantes, começa minha mãe.
A primeira tal. A segunda…
Qual seria essa primeira coisa não fica nítido nem no sonho. Quando minha mãe vai mencionar a segunda, a Lú começa a falar comigo e eu a corto, com delicadeza mas corto:
– Espera, eu digo, quero escutar o que ela está dizendo.
– ...a segunda tal e a terceira tal, continua minha mãe e mais uma vez, mesmo eu prestando o máximo de atenção e mesmo o sonho não se desvanecendo, essas tais coisas não ficam claras.
Minha irmã começa a falar comigo de novo e mais uma vez eu digo:
– Quero escutar o que ela está dizendo.
E indo de lá para cá com uma expressão meio grave , essa mistura de minha mãe e eu conclue:
– … e a quarta coisa é a felicidade.
Fico completamente confusa. Nada do que ela diz explica a coisa das visitas ou tem a ver com minhas preocupações sobre as finanças da família.
IMAGE CREDITS PETER LINDBERGH | KATE HUDSON | HARPER'S BAZAAT JANUARY 2010