A ESCOLA DO HARRY POTTER

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{7 de março de 2025}

É fascinante e poderoso experimentar o quanto na hora que acordo, o sonho me parece bodeante, chatérrimo, sem gracérrimo e até me dei autorização para ignorá-lo, mas bastam umas horas aqui nesse plano bodeante, chatérrimo, sem gracérrimo que qualquer sonho adquire uma dimensão mágica, ou talvez, ele sempre tenha tido e somente com umas doses de “realidade” eu seja capaz de perceber isso.

Então, quase como num segundo capítulo do sonho Abandonada no Afeganistão e… caso eu fosse desse tipo que vê sinais e sincronicidades em tudo, coisa que mesmo a essa altura do campeonato, minha mente virginiana se recusa a ser, poderia ser vista como uma resposta ao meu comentário pessoal ao sonho do Afeganistão: se ao menos eu tivesse sido abandonada em Londres…

Minha mãe mudou toda nossa família, que curiosamente não inclui meu pai, para Londres. É uma enorme mudança.

Estamos nessa casa, já nos instalamos e amanhã devo já retomar uma rotina de vida, que no meu caso, naquele primeiro momento, estaria configurada da seguinte forma.

Havia uma escola, uma escola, não uma faculdade, algo tipo ginásio, que seria meio afastada da cidade e que seria… a escola do Harry Potter.

Nunca fui fã de Harry Potter mas pelo jeito meu sub é, pois já sõa mais de um sonho com ele.

HARRY POTTER E EU QUERO ESSE NICHO

Nem sei o nome dessa escola. Acho que é Hogarts.

Então estou às voltas com a seguinte questão: amanhã mesmo devo começar as aulas e como irei fazer para chegar lá? Tenho carta e tenho carro, mas se já sou péssima motorista no Brasil, minha terra, ali, num lugar estrangeiro, dirigindo pelo outro lado, tendo que chegar num lugar remoto e afastado…

Só de pensar no que isso irá exigir de mim em todos, todos os meus níveis, fico exausta. E isso para chegar numa escola e ser mais exigida ainda.

Não estou decidindo nada nesse primeiro instante. Fico girando essa questão de lá para cá na minha mente, como se fosse uma pedra.

Vou caminhando ali pelo entorno da casa para a qual nos mudamos, que parece uma mansão e dou com um homem que fica vagamente como serviçal geral da casa. Vou conversando com ele coisas banais, ele é jovem e atraente e por dentro vou avaliando um plano dele me levar para a escola e vou fazer uma recapitulação de um sonho que tive exatamente com isso, eu frequentava uma escola e um motorista me levava e eu ficava de paquera com o motorista e deixava a escola em segundo plano.

Pois bem. Apesar de ser aquela a minha família, não seria ecatamente meus irmãos e sim umas pessoas diferentes, não meus irmnaos com outro corpo e sim outras pessoas, em detsaque uma garota que lembrava a irmã da Silvia Roesler. Como esse dia ainda é meio feriado, meio que espontaneamente a ala jovem da família, na qual estou incluída, se juntou ali no carro, que nesse momento parece um carrinho de brinquedo de Play Center, que está em movimento, com a presença desse homem que mesmo jovem é mais velho que a gente, ou seja, um “adulto responsável” e estamos ali de papo e eu então, expressando pela primeira vez o que de fato se passa na minha cabeça, me dirijo a gaorta que parece com a irmã da Silvia Roesler, com sua fisionomia européia e cabeo farto, longo, crespo entre loiro e ruivo e digo que tenho que ir para essa tal escola e…

– Como que fala mesmo o nome dessa escola?Até agora não aprendi.

– Hogarts, me responde ela rindo.

Ela seria uma inglesa. Fica essa coisa sem nexo mesmo de ela fazer parte da minha família mas ser natural de lá, ou talvez não fosse da minha família. O fato é que ela era sim inglesa e tinha pronúncia perfeita.

Mais uma vez passo na cabeça o que me parece uma sucessão excrudiante de desgastes extremos para mim: ter que chegar nessa escola. Ter que ver em que aulas estou matriculada. Tem matemática. Havia não sei o que de ter que pegar o bonde andando e eu não sou ligeira em cálculo. Muitas matérias que eu teria que me forçar e muito para acompanhar. O nível de desgaste exigido para a interação social. Desgaste, desgaste, desgaste. É só o que me vêm na cabeça.

– É um ambiente novo. Quem sabe eu faça amigos e quem sabe até namore.

Mas esse sentimento nem chega a criar raízes em mim. Conheço bem demais minha absurda capacidade de não interagir, não fazer amigos e nunca namorar, mesmo com tudo a favor disso.

E então uma luz se faz no meu cérebro.

– Mas péra… eu fiz FAU. Porquê tenho que fazer colegial se já cheguei à faculdade?

Falo isso alto e antes que alguém responda, meu pensamento avança:

– Mais que isso ainda. Eu completei a faculdade. Sou formada em arquitetura pela FAU! Não tenho mais que ir para escola nenhuma.

Agora nas minhas práticas matutinas vi um significado para esse sonho, mas vou me ater ao que rolou.

Isso me dá um enorme alívio. Tudo resolvido. Nem vou nessa escola e pronto.

E então penso a seguinte coisa:

– Posso fazer a loja. Estou aqui em Londres, onde o ambiente é muito mais de acordo com a vibe do que eu crio. Posso fazer a loja.

Sem forçar entendimentos, no momento em que eu penso isso estou ciente de uma reação física que tem sabor de… desapontamento. Muito pequeno, mas sim, uma diminuição de algo. Muito muito sutil. Mas eu sinto.

Então o programa ali progride e isso passa a ser o foco do sonho.

Chegamos numa espécie não exatamente de Shopping Center, mas uma galeria de lojas. Como é feriado, as lojas estão fechadas e só tem nosso grupo ali, o que é o bastante.

Aqui fica confuso. Vou registrando o que lembro.

Estou ali com esse grupo, como sempre meio imersa nos meus pensamentos.

Existe um menino que é ao mesmo tempo meu irmão João e meu sobrinho Tomás mas não é fisicamente nenhum dos dois.

O grupo é aquela coisa bem adolescente mesmo, alguns ficam ali juntos de papo, outros vão explorar o local e esse meu irmão-sobrinho foi com umas pessoas ali numa loja que seria uma réplica daquele barranco que a gente desce em SFX para chegar no rio do Pouso Frio.

Passando pela porta da loja a coisa essa chão de terra tipo mato selvagem mesmo, descia um barranco e esse irmão sobrinho volta de lá com uns amigos dizendo para o restante do grupo que tinha um rio lá embaixo.

Eu então quero ir ver e passando o braço no braço dele vou lá com ele.

Realmente é algo mega supra legal a pessoa entrar por uma porta de loja e a coisa virar mato selvagem, mas eu estou meio chateada. Não fica claro o motivo. Tem a ver, parece, com a loja. Não me sinto nada confiante de ser capaz de montar minha loja, mesmo achando que talvez, quem sabe, estivesse pela primeira vez no local certo para isso, e as coisas rolassem diferentes.

Mas me sinto como aquela coisa padrão, fadada ao fracasso.

Vou com ele por pura distração.

No que cruzamos a entrada, ele me solta e vai descendo.

Vou descendo atrás, só não totalmente maravilhada por causa da minha chateação básica.

É bem como em SFX mesmo, descemos um barranco, tem mato selvagem, muito legal. Meu irmão sobrinho sumiu de vista. Eu grito:

– Mas quê dê esse rio?

E nisso, numa cena que confirma o quanto sonhos não são invenções da minha limitada mente acordada, o que eu encontro ali no chão desse lugar, no lugar que em SFX seria o ponto de ver o rio, era...uma igrejinha.

Haviam cadeiras normais, não bancos de igreja, colocadas ali de frente para um altarzinho. Nada muito grande.

Mas uma espécie de templo.

Meu sobrinho irmão grita algo ali do fundo que soa como…

– O rio tá aí.

Ao invés de responder o óbvio, que seria que não vejo rio nenhum, estou parada, muda, meio hipnotizada pelo templo.

Na real não sei o que define aquilo com templo. Não tem imagens. Mas sim, é um templo.

Então volto com o grupo todo para cima e de volta ao restante do grupo que ficou ali de papo.

Nem sei no que estou pensando. Mas não seria mais nas minha chateações.

Processo algo dentro de mim que nem sei o que seria.

Nisso chega minha mãe. Ela primeiro cortou o cabelo. Tem mais coisa nesse sonho, ah, péra, lembrei do começo verdadeiro, mas vou completar aqui antes.

Minha mãe, que tem um cabelo loiro platinado, fez um corte curto como do Bebê de Rosemary. Ficou legal e todos nós elogiamos. Minha mãe está feliz e radiante e.. com um maiô que deixa todas as suas costas expostas.

Penso assim…

–Nossa, 10 minutos em Londres e ela já é outra pessoa. Uma pessoa livre e solta.

Ela está rindo e feliz.

Acho que o sonho encerra nisso, mas agora, o começo que lembrei agora.

Sonho com meu avô.

Estou na Gregório. Sei que meu avô veio nos visitar. Vou ao encontro dele, que está no escritório do meu pai. O abraço com muito, muito amor.

– Vô, eu digo.

Ele está como sempre. Mais velho, mas não caquético.

E então essa delicada cena que não sei como entender.

Está chovendo ou choveu.

E o ar, o ar ali do escritório está carregado de umidade ao ponto de ser possível enxergar gotas, milhares de pequenas gotas de água boiando no ar.

Algo até muito belo, o ar com aquela infinidade de gotículas de água flutuando.

Digo ao meu avô:

– Nossa, a umidade é tanta que dá para ser enxergada.

Fico pensando…

_ Deve estar uns 80% de umidade.

Isso porquê por causa dos vídeos sobre mofo da vida acordada, fiquei sabendo que a umidade ideal para as pessoas é de 60%.

Eu e meu avô ficamos vendo as gotas. Tanto eu como ele temos interesse por essas pequenas coisas.

E então ele demonstra querer dar uma volta na rua. Fala assim…

–Não dá mais para ir depressinha. Mas devagarinho dá para ir.

Saio com ele.

Ele atravessa a rua e vai falar com duas mulheres de meia idade.

– Ô, minhas amigas, que saudade.

Nesse momento estou do outro lado da rua pois eu devia, meio como obrigação, trazer meu carro ali para a garagem e tinha aproveitado essa saída com meu avô para fazer isso.

Me passa pela cabeça se as mulheres estariam tão contentes de ver meu avô quanto meu avô em ver elas. Podem estar fingindo. Não sei porquê tenho essa dúvida. Na vida acordada meu avô era chamosíssimo, até demais, como dizia minha avó, e todos ficavam felizes em vê-lo.

Então entro no golzinho e dou partida.

No que andei duas quadras, percebo que entrei errado e agora vou ter que corrigir a rota. No sonho estou ciente do sonho que tive dias atrás justamente com isso

ROSA 30

e rezo:

– Meu deus não me deixe errar o caminho. Quero voltar para ficar com meu avô.

A reza tem poder de me manter numas ruas conhecidas as quais logo diviso ali a proximidade da minha casa, mas tenho que me manter muito, muito concentrada. Mas chego em casa e estaciono.

Entro e vou falar com minha mãe.

– Cadê o vovô? pergunto.

– Foi embora para a casa dele, ela responde.

E acordo.

Vou no banheiro. Penso no sonho. Penso nessa enigmática imagem da água no ar sendo observada por nós dois, Penso no quanto amo meu avô.

Volto para a cama. Durmo. E o sonho retoma assim.

Estou no meu quarto da Gassipós, na cama.

Tenho a idade que tenho agora. Minha mãe, jovem e bonita, está ali. Ela contratou uma empregada doméstica faxineira, que já entrou no quarto e fez umas limpezas mesmo com eu ali dormindo. Ela parece eu.

Fico com vergonha de ainda estar na cama e pensando que devo estar sendo vista como uma patricinha folgada.

A faxineira logo sai. Minha mãe entra e eu digo:

– Sonhei com o vovô.

Minha mãe me olha com atenção. Começo a contar o sonho com muita emoção, mas depois da prineira frase, minha mãe se vira para o laldo dizendo;

– Eu também tenho sonhos com ele, anotei aqui, vou te mostrar.

E vai procurar um álbum ali na estante.

Pronto, penso, ela já transformou aquilo em algo sobre ela.

Fico profundamente sentida.

Não me lembro o que falo. Acho que falo umas coisas bravas, tipo “agora não vou mais contar meu sonho” e me surpreende que minha mãe continue sorridente, como quase se ignorasse o que eu havia acabado de dizer.

Então fico mais sentida ainda e me afundo nesse sentimento. E depois disse emenda no sonho da Escola do Harry Potter e só agora vou dizer o que me ocorreu,

Era a Escola do Harry Potter. Não era voltar ao Porto Seguro. Era a Escola da Magia. Seria mesmo caso de abrir mão disso porquê “daria trabalho?”

E abrindo mão disso, eu teria o quê para focar? A loja. Mas ali naquele momento que descrevi, no qual esse pensamento me faz sentir como se “algo diminuísse”, não seria por quê fazer a Escola do Harry Potter, por mais desgastante que estivesse parecendo naquele momento, seria muito mais legal e gratificante do que fazer a loja?

IMAGE CREDITS ELIZAVETA KARABINTSEVA | SVETLANA TIHONOVA+DARIA VOLKOVA+NASTYA RIJAYA | VGXW MAGAZINE FINE ART PHOTOGRAPHY EDITORIAL 2019

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