A HISTÓRIA QUE A ALMA CONTA É OUTRA

Trata-se de um compêndio de sonhos. A partir de 2001 mais ou menos, os sonhos foram se tornando cada vez mais longos, nítidos e complexos. São como um milagre vivo para mim, diante do qual me ajoelho e venero.

Existe um entrelaçamento entre suas narrativas e minha vida acordada, que a essa altura não consigo mais chamar de real, dado o fato de que, como o título afirma, a História que a Alma conta é outra, sendo essa a verdadeira história.

Esse entrelaçamento extrapola a noção de sonhos proféticos. De certa forma todos são proféticos, mas não como premonições e sim uma espécie de comunicação codificada em símbolos que parece amadurecer e se tornar nítida a medida que minha própia consciência acordada da questão amadurece e se torna nítida.

O que me parece é que seja o que for que rege a existência do lado de lá, sendo para mim muito claro que essa essa regência não fica nas mãos do indivíduo acordado, primeiramente processa as coisas de forma rudimentar, se expressando em sonhos muito enigmáticos, com símbolos herméticos demais, então são sonhos que não se entende nada, mas sinto, e é apenas uma sensação, que isso se deve ao fato desse seja lá o que for que rege nossa existência do lado de lá, de certa forma estar também processando o que se passa de forma rudmentar, e se há um trabalho do ser acordado sobre essa questão, se esse processamento da Alma, vou chamar assim, não é ignorado, os sonhos vão se tornando cada vez mais claros, não só porquê a Alma aprende como usar os símbolos, como o ser acordado, como um forasteiro numa terra extrangeira, começa a aprender seu vocabulário.

Esse aprendizado parece ser mútuo. Realmente sinto como se a Alma observasse o ser acordado , sua reação emocional a determinados elementos, e nos sonhos fizesse uso desses mesmos elementos para tentar comunicar algo. Muitas vezes me pego meio parada olhando para alguma coisa, com uma sensação forte a respeito, e esse mesmo elemento aparece em um sonho, mas numa mensagem que nada tem a ver com o contexto em que esse elemento foi visto na vida acordada. Por exemplo, estou trabalhando ou fazendo qualquer coisa rotineira, e em algum lugar aparece uma imagem de cobras, pode ser até algo belo, e eu fico meio hipnotizada olhando para aquilo e de noite sonho que durmo numa cama de cobras. Como se a Alma pensasse: ah, ela fica angustiada com cobras, vamos usar isso para mostrar como esses pensamentos ruins que ela tem durante o dia são como cobras sobre as quais ela dorme durante a noite.

Pode sim ser fantasia, mas sinto como se fossem duas dimensões do mesmo indíviduo, a dimensão acordada e a que extrapola isso, tentando ambas se comunicar através de uma linguagem que vai sendo inventada e aprimorada ao longo da existiência.

Tendo contabilizado até o momento mais de 2000 sonhos, ainda assim existe temáticas, símbolos, enredos, que até agora não faço idéia do que querem dizer, e outros que, mesmo tendo sido completo mistério na época em que foram sonhados, se tornaram claros e óbvios com o passar do tempo, sendo essa passagem às vezes de mêses, às vezes de anos e muitas vezes, décadas.

Quando se entende, se entende. Não ficam dúvidas. Quando se especula, não se está entendendo nada. A dificuldade de transmitir essa certeza de entendimento, no meu caso particular, deve-se ao fato de, como disse, não serem sonhos estritamente proféticos. São de certa forma, profecias, mas simbólicas, então essa decodificação é muito subjetiva, pois eu sei o significado que o símbolo tem para mim, não tendo como provar isso para outra pessoa, e até muitas vezes para mim mesma, pois os símbolos muitas vezes tem mais de um significado, dependendo do contexto.

Na linguagem humana temos palavras que tem vários significados, às vezes até significados opostos, então não é absurdo que os sonhos, que tem uma linguagem infinitamente superior a linguagem humana em termos de complexidade, também seja assim.

Jung disse que o significado dos sonhos não é entendido racionalmente e sim através da sensação que causam em que o sonhou. Isso é verdade. Muitas vezes tenho algum sonho tenebroso, mas que deixa uma sensação positiva, e quando venho a entender racionalmente, isso se confirma. E vice versa.

O aspecto racional do ser humano é, de longe, seu aspecto de menor alcance. Existe toda uma dimensão energética e sensorial e evolutiva para qual a mente humana não tem uma liguagem a altura, nem mesmo capacidade de elaborar essa linguagem, pois a mente é uma estrutura linear. Mas os sonhos tem estrutura holográfica, e o que expressam tem muito mais a ver com a realidade total do indivóduo do que isso que se convencionou chamar de "realidade". 

A realidade está nos sonhos. Na vida acordade, tudo são ilusões e equívocos, como num labirinto de espelhos de parque de diversões. Pelo menos no meu caso, se não fossem os sonhos, eu não saberia como eu sou de verdade, pois na vida acordada tudo que a pessoa, e isso qualquer pessoa, pode ver são reflexos distorcidos de si mesma num labirinto do qual é muito difícil sair,